Seja para o deslocamento da Zona Norte para a Zona Sul ou para entrar e sair da cidade, a Terceira Perimetral é uma das vias mais utilizadas de Porto Alegre. Em horários de pico, como pela manhã e no fim de tarde, é comum encontrar pontos com lentidão na via. E um deles, no cruzamento com a Avenida Plínio Brasil Milano, costuma registrar filas ainda maiores.
Em uma tarde de segunda-feira, a maior fila verificada por GZH foi no sentido Norte-Sul da Terceira Perimetral, nos trechos da Rua Dom Pedro II e da Avenida Augusto Meyer. O congestionamento começa nas proximidades da Travessa Cunha Vasconcelos e só termina após o cruzamento com a Avenida Plínio Brasil Milano — foram cerca de oito minutos a partir das 18h17min para percorrer o trajeto, de cerca de 700 metros.
No sentido contrário, as filas para atravessar a Plínio também puderam ser verificadas, mas um pouco menores. No rumo Sul-Norte, no trecho da Avenida Carlos Gomes, a lentidão começava nas proximidades da Rua Anita Garibaldi, com cerca de 450 metros até o cruzamento. No entanto, em determinados dias, leitores afirmam que as filas começam antes do cruzamento com a Avenida Nilo Peçanha.
O economista Leonardo Pilla, 47 anos, mora perto do Jardim Botânico, em Porto Alegre, e se desloca diariamente para Canoas a trabalho. Ele costuma usar caminhos alternativos para evitar o trecho e ganhar tempo.
— Se vou sempre pela Terceira Perimetral, levo uns 10 ou 15 minutos a mais, por isso, tenho preferido fazer rotas alternativas. O motivo é o tempo da sinaleira, que é muito grande. Mas percebi que, de umas semanas para cá, parece que melhorou um pouco. Antes, as filas se formavam até mesmo no sábado.
Moradora do bairro Tristeza, na Zona Sul, a administradora Marcia Aquino Brentano, 35, vai todos os dias para o bairro Passo D'Areia, na Zona Norte. Ela também reclama do cruzamento da Terceira Perimetral com a Plínio e afirma que, dependendo do horário, é mais rápido ir de ônibus:
— Eu uso ônibus, lotação, carro, transporte por aplicativo. Nesse local, o ônibus vai até mais rápido porque vai pela faixa azul. Mas esse cruzamento é horrível porque a sinaleira é muito demorada. Depois que passa esse ponto, melhora.
Já na Plínio Brasil Milano, também alvo de reclamações de leitores, a reportagem demorou de dois a três minutos para superar a fila formada na sinaleira do cruzamento com a Terceira Perimetral, por volta das 18h40min. No entanto, em menos de 10 minutos, foi possível perceber que ao menos 15 carros usaram a faixa azul para avançar mais rápido pela via e seguir reto pelo cruzamento. O trecho só pode ser usado por ônibus, lotações e táxis entre 6h e 9h e das 16h às 20h. Conforme a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), os carros particulares só podem acessar a faixa azul nesses horários se forem realizar uma conversão na quadra seguinte ou acessar garagens e estabelecimentos — nesses casos, devem sinalizar a manobra.
Além dos relatos citados na reportagem, GZH recebeu outros depoimentos por meio de questionário:
Beatriz Bochernitsan, de Porto Alegre: "(O grande problema é) Cruzar a Av. Plínio Brasil Milano, vindo da Carlos Von Koseritz pra descer a Carlos Trein Filho ou, subindo a Comendador Rheingantz, atravessar a Plínio Brasil Milano, sem sinaleira, para pegar a Felicíssimo de Azevedo. Sempre que há movimento, isto acontece: ninguém dá passagem descendo a Plínio para quem quer atravessar. Atravessar a Plínio, da Carlos Von Koseritz para descer a Carlos Trein Filho, acontece há muito tempo. Agora, atravessar a Plínio vindo da Comendador Rheingantz para entrar na Felicíssimo de Azevedo, acontece desde que inverteram a mão da Felicíssimo. Tem que calcular a demora que leva para fazer este caminho. Acho que pessoas que mudam a mão das ruas, ou deixam de colocar uma sinaleira, não se dão ao trabalho de experimentar o que vão aplicar."
Mathaus Netto, de Porto Alegre: "Av. Plínio Brasil Milano com um corredor de ônibus 'faixa azul' que vai do Viaduto Obirici até o final da 24 de Outubro e não faz nenhum sentido. Passam uma ou duas linhas de ônibus e lotação na região. Fica subutilizado, e muitos carros passam a utilizar durante o dia".
Problema histórico
Uma obra pensada para a Copa de 2014 já previa a construção de um viaduto e de uma passagem de nível no cruzamento da Plínio Brasil Milano com a Terceira Perimetral. O objetivo era dar mais fluidez ao cruzamento. No entanto, em fevereiro de 2020, o então prefeito Nelson Marchezan afirmou que a obra não sairia mais do papel.
A obra foi planejada para ser executada ao custo de R$ 31 milhões, mas passou por uma série de indefinições. A construção teve ordem de início dos trabalhos em maio de 2013, com previsão de término em agosto de 2014, mas os desvios no trânsito nunca chegaram a ser implementados.
Ainda em 2020, foi confirmado à prefeitura de Porto Alegre que não seria possível utilizar o financiamento de R$ 31 milhões. O Executivo informou à época que "a Trincheira da Plínio faz parte da estatística de que 64% das obras da Copa tiveram problemas de projeto".
Agora, na gestão do prefeito Sebastião Melo, a diretora de Mobilidade Urbana da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana da Capital, Carla Meinecke, afirma que a construção do viaduto ainda não está descartada. O projeto está sendo revisado pela Secretaria de Obras e Infraestrutura (Smoi), com parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O objetivo é simplificar a ideia e reduzir o custo, sem perda de capacidade.
— Nós não descartamos ainda. É claro que depende do estudo de obtenção de recursos. A gente aguarda primeiro o resultado de simulação, para ver se consegue uma alternativa com menor custo. Estas simulações vão nos dar uma resposta interessante — diz Carla.
O professor Rafael Roco de Araújo, da Escola Politécnica da PUCRS, e o engenheiro e doutor em Transportes João Fortini Albano concordam que o viaduto e a passagem de nível são as soluções definitivas, e acrescentam que a Terceira Perimetral deveria ter menos semáforos, que poderiam ser substituídos, em alguns casos, por passarelas:
— A Terceira Perimetral liga a zona sul de Porto Alegre à saída da cidade, à Zona Norte, então tem que ser uma via de trânsito rápido. A única via expressa que existe na Capital é a Castello Branco. As demais, que originalmente teriam essa proposta, não são — avalia Araújo.
Sobre a faixa azul, a EPTC informa que a medida prioriza o transporte público, o que o torna mais atrativo e pode estimular a preferência pelo uso do modal. Conforme o órgão, "o Programa de Priorização do Transporte Coletivo foi pensado para qualificar o sistema de transporte, reduzir os tempos de viagem, dar mais eficiência ao serviço, para reduzir custos". Os números calculados antes da pandemia apontam para 450 mil usuários beneficiados diariamente em 154 linhas urbanas de Porto Alegre.