Há anos, os moradores de São Leopoldo sabem que, se forem programar um deslocamento para Porto Alegre ou cidades próximas, devem reservar um bom tempo para passar pela ponte sobre o Rio dos Sinos na BR-116. Conhecido gargalo de trânsito da região, o local registra congestionamentos há muito tempo e foi o mais citado pelos leitores em questionário feito por GZH.
Conforme os relatos, os horários em que a circulação fica mais prejudicada são a manhã, entre 7h e 8h30min no sentido Interior-Capital, e o fim da tarde, entre 17h e 18h30min, na direção Capital-Interior. Em uma quarta-feira, GZH percorreu o trecho no período da manhã e encontrou o motivo das reclamações dos leitores.
Às 7h30min, o congestionamento já começava ainda antes do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no bairro Scharlau, em São Leopoldo. No total, foram necessários 12 minutos para conseguir passar pela ponte no sentido Interior-Capital. O trecho, que tem 2,6 quilômetros, poderia ser facilmente percorrido em dois ou três minutos em um período de fluxo baixo.
Nesse ponto, a rodovia conta com duas faixas e acostamento variável: no início do trajeto, ele está presente dos dois lados e, depois, somente do lado direito. Os motoristas precisam circular a uma velocidade máxima de 20 km/h e, em alguns momentos, o trânsito fica completamente parado ou fluindo lentamente.
A situação piora quando os veículos que estão na Avenida Senador Salgado Filho, localizada à direita da BR-116, começam a ingressar na rodovia — cerca de 700 metros antes da ponte. Os motoristas que estão na pista principal precisam dar lugar aos que estão chegando, o que impacta ainda mais no trânsito.
Quando os veículos finalmente conseguem passar pela ponte sobre o Rio dos Sinos, o fluxo já está mais rápido, sem arranca e para. Depois da ponte, o deslocamento é tranquilo em direção a Sapucaia do Sul e outras cidades, apesar do fluxo acentuado.
Caminhos alternativos para evitar o congestionamento
A servidora pública Bárbara Elisa de Mello, 31 anos, mora em Novo Hamburgo e se desloca a trabalho para São Leopoldo todos os dias. Apesar de as cidades serem vizinhas, o fluxo intenso na BR-116 atrapalha o trânsito pela manhã.
— Já cheguei a levar uma hora, então mudei meu horário e passei a sair um pouco mais cedo de casa para não pegar o trânsito tão complicado, chegando mais cedo ao trabalho. São poucos minutos que fazem a diferença no fluxo. Mas, na maioria das vezes, tenho usado um caminho alternativo, por dentro da cidade — explica.
Os leitores relatam que, muitas vezes, as filas de veículos se estendem até próximo do cruzamento com a RS-240. Já no sentido contrário, Capital-Interior, o movimento era intenso, mas sem congestionamentos na manhã em que GZH esteve no local. No entanto, nos finais de tarde, a situação muda, e esse passa a ser o sentido com maior movimentação, registrando congestionamentos e arranca e para desde as proximidades da Avenida Unisinos.
O engenheiro eletricista Gustavo Bohn, 43, chega a levar entre uma hora e meia e duas horas entre Ivoti e Porto Alegre para se deslocar de casa para o trabalho. Tanto na ida quanto na volta, costuma pegar caminhos alternativos para evitar os congestionamentos maiores registrados na rodovia:
— Na volta para Ivoti, acabo entrando na Avenida Unisinos e vou por dentro de São Leopoldo. Enfrento o trânsito da cidade para evitar o trânsito da BR-116.
Bohn acredita que somente a obra de ampliação da ponte (leia abaixo) não vá resolver totalmente o problema. Para ele, a BR-448, conhecida como Rodovia do Parque, deveria ser estendida.
— Minha sugestão seria que a BR-448 fosse estendida até a RS-240 para pegar o pessoal de Portão e de Bento Gonçalves, fazendo com que eles não usem a BR-116. Aí, tira o tráfego pesado e deixa somente para o pessoal da Região Metropolitana.
Além dos relatos citados na reportagem, GZH recebeu outros depoimentos por meio de questionário:
- Frederico Ruschel Petry, de Novo Hamburgo: "Sempre por volta das 18h em São Leopoldo, mas o pior dia é quinta-feira, quando percebemos um grande número de carretas e caminhões que certamente poderiam fazer o trecho em outro horário. Tento escapar, mas nos estressamos desviando por dentro de São Leopoldo, complicando o trânsito da cidade também".
- Camila Hiibner Avila, de São Leopoldo: "Não importa a hora, esse trecho sempre para dos dois lados. Ninguém entende o motivo. Tempo perdido e risco de colisão".
- Luis Carlos von Hohendorff, de São Leopoldo: "Congestionamentos diários sobre a ponte do Rio dos Sinos em São Leopoldo, em ambos os lados, e também lentidão no viaduto da Scharlau. Na ponte não tem mais horário específico, mas se agrava mais nos horários de pico. No viaduto da Scharlau, principalmente nos horários de pico. Impacta no tempo, pois algo que normalmente se faria em 15 minutos, dependendo do horário, fica mais de uma hora".
Obras em andamento
Responsável pela BR-116, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que mais de 100 mil veículos circulam diariamente pelo trecho da ponte sobre o Rio dos Sinos, o que faz com o que o órgão considere esse ponto um dos principais gargalos da rodovia no Rio Grande do Sul. Conforme o Dnit, "os congestionamentos ocorrem justamente pelo somatório desse fluxo acentuado com a atual geometria da rodovia — que hoje conta com apenas duas faixas para cada sentido —, o que é insuficiente para absorver o tráfego".
Para dar maior agilidade ao fluxo de veículos na região, está em andamento a construção de duas pontes sobre o canal principal do Rio dos Sinos. As estruturas serão paralelas às existentes, uma de cada lado, o que vai permitir ampliar o número de faixas de duas para quatro, por pista. As pontes ainda contarão com passeio e ciclovia.
O trabalho foi iniciado em março deste ano, e a expectativa do Dnit é concluir a obra no primeiro semestre de 2022. Com a instalação das 120 pré-lajes, serviço que está em andamento, a obra chegará a 82% de execução.
Os trabalhos integram o Lote 1 das obras de melhoramentos físicos e de segurança de tráfego da BR-116. Além das duas pontes em construção, estão previstas outras duas travessias sobre a várzea do Rio dos Sinos (bem próximas às estruturas que estão sendo erguidas), além da implantação das terceiras faixas nesse segmento. Conforme o Dnit, os serviços foram priorizados para "solucionar o quanto antes o problema neste ponto da rodovia".
"O Lote 1 de melhoramentos físicos da BR-116/RS tem um orçamento de aproximadamente R$ 570 milhões para realizar 12 intervenções entre implantação de terceiras faixas, construção de novos viadutos e alargamento de outros existentes, passagens inferiores e implantação de alças de acesso. Essas melhorias estão projetadas para serem realizadas em um segmento de 38,5 quilômetros da BR-116, entre Novo Hamburgo e Porto Alegre", diz trecho da nota enviada pelo Dnit.
Em relação à BR-448, o órgão informou que o estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental foi concluído e deu viabilidade para o prolongamento da rodovia até a RS-240 em Portão. O documento está em análise na sede do Dnit, em Brasília.