Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) fez, na tarde desta quarta-feira (28), vistoria no vão móvel da ponte do Guaíba. O objetivo é garantir a continuidade do serviço caso não haja renovação do contrato de concessão da freeway, que vence a 0h de terça-feira.
O horário, marcado há 20 anos, virou corrida contra o relógio na travessia por baixo da qual cruzam centenas de embarcações por ano e boa parte do PIB do Estado. Diante da indefinição, quanto mais perto do fatídico encontro dos ponteiros, mais se eleva a ameaça de paralisação no içamento das 400 toneladas de concreto e aço nos 58 metros da BR-290.
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A Triunfo Concepa segue a espera de proposta do governo federal para seguir com o serviço, incluído na gestão dos 121 quilômetros da via, e o Dnit continua mobilizado para ter outra empresa apta a fazê-lo. Para isso, um engenheiro da autarquia esteve junto à cabine de operação da ponte, hoje ocupada por funcionários da Concepa, e acompanhou o processo. Segundo o superintendente do Dnit-RS, Hiratan Pinheiro da Silva, a intenção foi entender o funcionamento, para depois repassar à empresa que pode vir a assumi-lo.
Tudo começa com a comunicação com a Capitania dos Portos – para saber que horário chega a embarcação –, seguida do trabalho de equipes no bloqueio do trânsito e no passo a passo de elevação da ponte. Ontem, uma nau da Navegação Guarita necessitou que o vão fosse erguido em seis metros – dependendo da altura do barco e do nível do Guaíba, a ponte pode subir até 23 metros.
Sistema peculiar para evitar travamentos
Atualmente, só três pessoas no Estado sabem operar a mesa de comando que sobe e desce o vão. Uma delas era funcionária do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e trabalhou na ponte desde 1958, quando a estrutura foi inaugurada. Mais tarde, foi contratada pela Concepa quando a empresa assumiu a concessão. O hoje octogenário já está aposentado e o seu filho, treinado por ele, é um dos técnicos que segue atuando no comando do vão. O terceiro é um mecânico com 10 anos de experiência.
– A operação que tem de ter cuidado, mas não tem alta complexidade como dizem – analisou Silva.
O engenheiro civil Rafael Sacardo, que coordena a equipe da Concepa, diverge na avaliação. Segundo ele, os 71 botões da mesa são acionados a partir de uma série de cálculos e precauções. Entre quatro e cinco funcionários ficam junto ao maquinário, na base da ponte, atentos a anormalidades que exijam comandos de emergência. Há três sistemas alternativos, de motores reservas até manivela.
– O vão é como um relógio: todas as peças têm que estar em sintonia para tudo funcionar. Qualquer barulho diferente leva a equipe a tomar, em segundos, uma decisão que impeça a ponte de parar – afirma Sacardo.
Até 2012, os travamentos do vão móvel eram frequentes. Investimentos recentes, acordados entre Concepa e União, aprimoraram o içamento, reduzindo transtornos.
A atual concessionária reafirmou que ainda não recebeu proposta de renovação de contrato, que poderia ser estendido por até dois anos. Também há dúvida quanto a manutenção total ou parcial dos serviços de operação do vão móvel e das praças de pedágios, além dos trabalhos de conservação da pista e resgate em acidentes.
Foi essa indefinição que levou o Dnit a decretar, na última terça-feira, situação de emergência na rodovia, o que permite a contratação extraordinária, sem licitação, de outra empresa para assumir a estrada. A previsão otimista da autarquia é de que haja uma escolhida até amanhã. Enquanto isso, os ponteiros seguem girando até as 0h do próximo dia 4 quando, se nada mudar até lá, as cancelas na rodovia serão abertas.
A Concepa segue aguardando proposta da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para a prorrogação do contrato. O Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil informou que as discussões para o novo acordo estão em andamento na ANTT e devem ser concluídas até o fim do convênio atual.
*Zero Hora