Estimativa da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Estado do Rio Grande do Sul (Fecam) aponta que a movimentação de carga nos municípios da região vem sofrendo impacto desde 2014, primeiro pela queda nas vendas da indústria e depois pela quebras das safras em função do clima do último ano. De acordo com André Luis Costa, presidente da federação, o volume transportado acumula reduções entre 40% e 50% nos últimos dois anos.
Além da retração do setor automotivo que afeta, principalmente, Caxias do Sul, o maior polo metalmecânico da Serra, a geada e a chuva de granizo do ano passado reduziram a maior colheita da região, a uva. Costa cita também as quebras da safra da maçã nos últimos anos afetando também os caminhoneiros de Vacaria. Apesar de tudo isso, o presidente da Fecam destaca que o caminhoneiro autônomo ainda tem conseguido se virar, que a situação é pior para empresários. "A queda do transporte rodoviário para o autônomo foi acentuada, mas menor do que a do médio e pequeno empresário", compara.
Abtino Michellon, vice-presidente do Sindicatos dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens (Sindicam) de Vacaria trabalha há 60 anos com transporte de carga e teve de vender um caminhão no ano passado em função, não só da redução da carga, mas do preço do frete e do combustível. "Eu moro em Vacaria, mas nunca abasteço aqui. O litro do diesel passa de R$ 3. Acabo abastecendo em lugar que não sou freguês, para tentar conservar o que ainda tenho na mão", conta o caminhoneiro, que ficou com dois veículos.
Ronei Pandolfo, conselheiro da Câmara da Indústria, Comércio, Agricultura e Serviços de Vacaria e dono do posto São Pedro, há mais de 50 anos em Vacaria, disse que o movimento caiu até 30% do final do ano passado até agora. As vendas diminuíram ainda mais a partir de janeiro com o aumento do ICMS no combustível do Estado. Como é um município de fronteira com Santa Catarina, motoristas encontram combustível até R$ 0,20 mais barato em Lages a cerca de 100 quilômetros. Mesmo assim, o dono do posto destaca que o prejuízo maior não é em função do preço, até porque eles buscam manter clientes com descontos à vista e convênios "Tem a ver com o preço, mas mais com a produção", destaca Pandolfo.
Clóvis Bressan, presidente do Sindicato dos Condutores Autônomos dos Veículos Rodoviários de Caxias do Sul, destaca a falta de carga como a principal dificuldade dos caminhoneiros da cidade. "A maioria está sem serviço. Tem gente que está devolvendo caminhões para agências". Estimativa da federação estadual aponta que há 18 mil caminhões em Caxias. Conforme o presidente do sindicato local, um documento foi encaminhado ao deputado Mauro Pereira para que seja levado ao presidente interino Michel Temer um pedido da categoria pela melhoria nas estradas da Serra e compensações pelo prejuízo dos motoristas com a alta do diesel e dos combustíveis, gastos com pedágios e retração da economia.