Pai e filho envolvidos na morte do músico e estudante Rafael Mascarenhas foram presos nesta sexta-feira, depois de condenados. A decisão foi do juiz Guilherme Schilling Pollo Duarte, da 16ª Vara Criminal do Rio de Janeiro.
Rafael de Souza Bussamra dirigia o carro que atropelou e provocou a morte do estudante, filho da atriz Cissa Guimarães, na entrada do Túnel Acústico da Gávea, na zona sul do Rio, no dia 20 de julho de 2010. Ele recebeu a pena de sete anos de reclusão, em regime fechado e, mais cinco anos e nove meses de detenção em regime semiaberto. Além disso, teve a carteira de habilitação suspensa por quatro anos e meio.
No momento do acidente, Rafael Mascarenhas andava de skate com amigos no túnel, que estava interditado ao tráfego. O atropelador contou, na época, que estava emparelhado com um outro carro e não viu o estudante na pista. Bussamra e seu pai, Roberto Martins Bussamra, disseram em depoimento que dois policiais pediram dinheiro para retirar o veículo do local e afastar a possibilidade de flagrante. Contaram ainda que pagaram R$ 1 mil aos dois PMs que, por causa da denúncia, foram expulsos da corporação. Em abril de 2013, o túnel foi batizado com o nome do músico.
A sentença do pai de Rafael foi pelos crimes de corrupção ativa e inovação artificiosa em caso de acidente. O magistrado considerou que Roberto Martins Bussamra tentou acobertar uma atitude criminosa do filho corrompendo policiais militares, que, segundo ele, também são criminosos. Por isso, o condenou a oito anos e dois meses de reclusão em regime fechado e mais nove meses de detenção em regime semiaberto. Depois de sentenciados, Rafael e Roberto foram presos e levados para a 13ª Delegacia Policial, em Copacabana.
"O caso vertente retrata não apenas policiais que acobertam e omitem o crime (sendo, por isso, também criminosos), mas também os falsos pais que superprotegem os filhos criando pessoas socialmente desajustadas. Impõe-se uma reflexão sobre o tipo de sociedade que pretendemos para as futuras gerações ou, mais ainda, que tipo de cidadãos somos. Afinal é essa uma das dificuldades atuais da humanidade no plano da ética. De nada vale o Estado reconhecer a dignidade da pessoa se a conduta de cada indivíduo não se pautar por ela", afirmou o juiz.
A atriz Cissa Guimarães, que lutou muito para que os envolvidos fossem punidos, disse que, neste momento, sente um alívio.
- Por todas as mães, por todas as famílias, por todos os cidadãos, cidadãs, por todas as pessoas, eu me sinto de alguma maneira realizada, esperançosa que os pais aprendam a criar os seus filhos e não criem monstros. Que criem cidadãos - afirmou.
Ainda na sentença, o juiz Guilherme Schilling Pollo Duarte destacou que o comportamento dos réus é reprovável e malicioso.
"Através de uma enxurrada de inverdades, buscaram, não somente, eximirem-se da responsabilidade penal, mas na realidade transferi-la com maior peso a outras pessoas. Percebe-se uma verdadeira degradação de valores morais em uma família de classe média, que, talvez, por mero individualismo, ou abraçando uma cultura brasileira de tolerar exceções, tende a apontar os erros dos outros, colocando um verdadeiro véu sobre seus erros", acrescentou.
Cissa Guimarães disse esperar que a morte do filho sirva para provocar uma mudança de comportamento da sociedade. Para ela, finalmente, a justiça foi feita.
- É isso. É Justiça. Vamos lutar sempre pela não impunidade. Vou lutar sempre para o resto da minha vida. Mas que as pessoas aprendam com muita consciência na hora de criar os seus filhos - concluiu.