Passados três anos do atropelamento de um grupo de ciclistas no Bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, no dia 25 de fevereiro de 2011, o julgamento do acusado de cometer o crime ainda não tem data para acontecer.
Um recurso da defesa do bancário Ricardo José Neis levou o caso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde aguarda julgamento. Em março de 2013, a terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) decidiu que Neis irá ao Tribunal do Jùri, acusado de 11 tentativas de homicídio. Em Brasília, o recurso foi protocolado, no final de janeiro deste ano, e ainda nem começou a ser analisado pelo relator.
Para quem mora em Porto Alegre, no entanto, a lembrança está bem viva. O presidente da Associação de Ciclistas da Capital, Pablo Weiss, classifica como brutal o episódio, mas diz que o fato serviu para dar visibilidade a causa da bicicleta.
"O que aconteceu depois do atropelamento foi o fato da bicicleta ficar em evidência e as pessoas saberem que ela transita nas ruas. No âmbito do poder público, infelizmente, não mudou muita coisa. Prova disso é que, desde 2009 (ano da implementação do Plano Diretor Cicloviário) até agora, menos de 25 dos 495 km de ciclovias previstas estão feitos", lamenta
Já para quem estuda diariamente a dinâmica do trânsito nas grandes cidades, como o engenheiro, professor e mestre em mobilidade pela Unisinos, Felipe Sousa, o atropelamento foi um marco na política pró-bicicletas em Porto Alegre.
"É nítido que o episódio, apesar de lamentável, acelerou as ações da prefeitura. Depois do fato houve uma maior cobrança das pessoas. Os motoristas também ficaram mais atentos, pois agora sabem o que pode acontecer com eles quando atropelam um ciclista ou um pedestre", avalia.
Dados fornecidos pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) mostram que de fevereiro de 2011 para cá o número de quilômetros construídos de ciclovias quase triplicou. Nos dois primeiros anos do Plano Diretor Cicloviário (2009 a 2011), foram construídos apenas sete quilômetros de vias exclusivas para bicicletas. Nos três anos seguintes ritmo acelerou e, atualmente, há 20 quilômetros.
Na avaliação da prefeitura o episódio não foi determinante, mas ajudou a conscientizar a população sobre a importância de ceder um espaço da via aos ciclistas. A partir de 2014, o dia 25 de fevereiro será reservado para a comemoração do Dia Municipal do Ciclista, justamente em alusão ao atropelamento.
O bancário Ricardo José Neis responde ao crime em liberdade e não fala com a imprensa sobre o assunto. A defesa dele, inclusive, foi orientada a não dar declarações sobre o caso e nem revelar detalhes do andamento do processo.