Bem-te-vis, sabiás, galinhas e até pinguins: todas as aves, com suas cores, cantos e formatos distintos, têm agora um “avô” descoberto no Brasil. Publicada nesta quarta-feira (13) pela revista Nature, a descoberta representa o elo perdido na evolução das aves, conectando antigas espécies pré-históricas com as que habitam o planeta hoje.
O fóssil, datado de 80 milhões de anos, foi encontrado em Presidente Prudente, interior de São Paulo, e coloca o país no mapa das descobertas paleontológicas. Com mais de 1.960 espécies de aves registradas, o Brasil é o segundo país mais rico em diversidade avifaunística no mundo, perdendo apenas para a Colômbia.
Esse achado — um exemplar da era cretácea batizado de Navaornis em homenagem ao paleontólogo William Nava — que encontrou o fóssil em 2016, revelou um pequeno pássaro, do tamanho de um pardal, que pertence ao grupo dos Enantiornithes, antecessores das aves modernas.
Diferente de outras espécies do mesmo grupo, o Navaornis possuía características que o aproximam dos pássaros atuais, como a ausência de dentes e olhos grandes, além de um crânio já adaptado ao padrão das aves contemporâneas.
Elo entre aves primitivas e modernas
A Terra já foi dominada por dinossauros e répteis, mas os primeiros sinais de evolução para as aves surgiram com o Archeopteryx, uma criatura com características reptilianas que viveu há cerca de 150 milhões de anos.
Outras espécies, como os Enantiornithes, começaram a aparecer há 130 milhões de anos, ainda com traços reptilianos, como bicos com dentes. Até então, faltava um exemplar que conectasse essa linhagem às aves modernas.
Fosséis em ótimo estado de conservação
Os fósseis, descobertos por William Nava, estavam em perfeito estado e foram escavados em uma área próxima a Presidente Prudente, onde camadas de sedimento formaram um molde do cérebro do Navaornis, proporcionando uma visão quase intacta.
Encontrar fósseis completos é raro, ainda mais um crânio tridimensional em perfeito estado. O sedimento ao redor do Navaornis formou um molde de seu cérebro, preservando detalhes que abriram uma “janela do tempo” para os cientistas. Com o uso de tomografias, foi possível observar o cérebro do fóssil e compará-lo com aves atuais.
Sobrevivente em tempos de gigantes
Há 80 milhões de anos, o ambiente do atual município de Presidente Prudente era árido e dominado por dinossauros gigantes como os titanossauros, alguns medindo mais de 10 metros de comprimento.
Uma das hipóteses é que Navaornis tenha sido vítima de uma enchente, soterrado por uma enxurrada que acabou preservando seu corpo.
Os dinossauros, que desapareceram há cerca de 65 milhões de anos, deixaram como herança essas pequenas aves que, ao longo do tempo, evoluíram e se diversificaram para o que conhecemos hoje.