Deus está presente no cérebro de todos, sejam religiosos ou ateus. É o que defende o neuropsicólogo e professor da Northwestern University, nos Estados Unidos, Jordan Grafman.
Ele fomenta pesquisas para entender como as crenças religiosas, a fé e a espiritualidade são processadas pelo cérebro e impactam no comportamento humano, sem o objetivo de promover ou desmoralizar a existência de Deus.
Grafman é autor do artigo os neurocientistas não devem ter medo de estudar religião, publicado em julho de 2023 na revista científica Nature. Em entrevista ao jornal O Globo, o professor norte-americano afirmou que neurocientistas tendem a evitar estudos sobre religião ou espiritualidade por medo de serem vistos como não-científicos e incentivou a realização mais estudos voltados a estes temas.
Para ampliar o debate sobre neurociência das crenças, Grafman vai coordenar um centro virtual de estudos voltados a compreender a relação do cérebro com a fé. O projeto é uma parceria do Instituto D'or com o King’s College London e o Shirley Ryan AbilityLab, e contará com a presença de pesquisadores brasileiros.
— Não acreditar em Deus também é uma crença. Uma vez que você foi exposto à ideia de Deus ou religião, adivinhe onde está? No seu cérebro. Até mesmo ateus têm uma representação de Deus em seus cérebros, não podem escapar dele. Por causa disso, isso pode soar radical, mas eu digo: Deus existe. Tenho confiança de que Deus existe no cérebro — salientou em entrevista ao Globo.
A visão de Grafman
O neuropsicólogo argumenta que adotar uma crença é resultado da absorção dos conceitos expostos pelo mundo ao seu redor. Para ele, analisamos experiências emocionais vividas em uma religião e decidimos acreditar ou não nas ideias.
Grafman destaca que o ser humano tende a buscar respostas para os eventos que presencia e vive. E muitas destas explicações são encontradas nas crenças, que são moldadas para esclarecer acontecimentos até então sem respostas.
— Nos tempos muito antigos, quando um vulcão entrava em erupção ou um terremoto ocorria, por exemplo, questionavam: o que causou isso? Quem causou isso? Bem, é mais poderoso do que nós, como humanos. Deve ser outro ser de algum tipo. Então, muitas das primeiras explicações de eventos naturais eram agentes sobrenaturais. Esse foi o começo — disse.
O professor explica que os fatos comprovados cientificamente são importantes, mas não esclarecem todas as dúvidas, o que deixa margem para as explicações que surgem de alguma crença.
Grafman salienta que não se trata de estudar religião, comprovar ou desmoralizar a existência de Deus. O objetivo é compreender as emoções ligadas à fé, aos processos e redes cerebrais que ocorrem a partir de uma crença.