A primeira parte do "mapa do universo", realizado pelo telescópio Euclid, foi revelada pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês). O intuito é desvendar o mistério da matéria escura.
O mosaico de 208 gigapixels foi realizado a partir de 260 observações feitas pelo Euclid em apenas duas semanas, entre 25 de março e 8 de abril passado. O telescópio cobriu 132 graus quadrados do céu austral, ou 500 vezes a superfície visível da Lua.
A fotografia representa 1% de um mapa que, em seis anos, revelará mais de um terço do céu, aponta a agência.
— Só nesta imagem já há dezenas de milhões de galáxias, graças às quais será possível estabelecer estatísticas sobre onde alguns tipos de galáxias se encontram em relação às outras, como evoluem no tempo, a razão pela qual não formam mais estrelas há alguns bilhões de anos — explica Bruno Altieri, cientista da ESA encarregado do arquivo sobre o Euclid.
No conteúdo disponibilizado é possível observar, por exemplo, o "cirrus galácticos", mistura de poeira e gás com o qual vão se formar novas estrelas". Em outro ponto, ampliando em profundidade, pode-se observar a estrutura complexa de uma galáxia em espiral ou duas galáxias que interagem.
Mistérios do Universo
Lançado em julho de 2023, o Euclid pode capturar uma cena em uma única imagem graças ao amplo campo de visão em luz visível e infravermelha. Isso o diferencia do telescópio espacial James Webb (seu vizinho a cerca de 1,5 milhão de quilômetros da Terra), que tem menos amplitude, porém mais longitude.
Seu objetivo final é esclarecer um dos maiores enigmas científicos, o da matéria escura e da energia escura, que constituem 95% do Universo, mas sobre as quais não se sabe quase nada.
A matéria escura e a energia escura, com 25% e 70% do Universo, respectivamente, têm efeitos contrários: enquanto a primeira garante a coesão das galáxias, a segunda provoca a expansão do Universo.
No caso da matéria escura, sabe-se que existe por causa de uma constatação misteriosa:
— Não pode ser observada diretamente, mas seus efeitos gravitacionais podem ser vistos — diz Altieri.
Desde os anos 1990, sabe-se que a expansão do Universo se acelera, o que implica na existência em larga escala de uma força repulsiva: a energia escura. A aceleração desta expansão teria começado há seis bilhões de anos.
Graças a este mapa tridimensional, o Euclid facilitará fazer medições sobre a distribuição das galáxias e a expansão do Universo e, desta forma, refinar os modelos cosmológicos teóricos. O Euclid permitirá observar uma parte do Universo entre 10 bilhões e 4-5 bilhões de anos-luz.