O primeiro cientista brasileiro a viajar para o espaço deve ser Alysson Muotri, doutor em neurociência pela Universidade de São Paulo (USP). O professor titular de Medicina da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, é o provável responsável pela empreitada à Estação Espacial Internacional (ISS), prevista para novembro de 2024. O objetivo será aplicar experimentos para ajudar a proteger o cérebro de astronautas dos efeitos da microgravidade, questão fundamental para debater projetos como, por exemplo, a colonização fora do planeta Terra.
Muotri poderá ser o terceiro nascido no Brasil a ir ao espaço — depois de Marcos Pontes e Victor Hespanha — mas é o pioneiro na área científica. Um dos tópicos a serem analisados pelo especialista nos estudos para a ISS, conforme relatado a GZH, serão os minicérebros — miniaturas de cérebro humano criados e cultivados em laboratórios para pesquisas científicas, sobretudo quanto a disfunções nas redes neuronais.
— (Os minicérebros) servem como modelo para (estudar) doenças neurológicas, condições como o autismo, alzheimer, demência, que não têm cura nem tratamento eficaz — relatou Muotri à reportagem.
O que levará o cientista brasileiro ao espaço?
Células da pele de pacientes são extraídas pelos cientistas e transformadas em neurônios, posteriormente agrupados em emaranhados minúsculos invisíveis a olho nu. Assim, são produzidos os minicérebros em grande quantidade para, depois, serem utilizados em testes de diversos medicamentos.
Os pequenos órgãos artificiais buscam compreender as disfunções das redes neuronais de pacientes com transtornos mentais, como por exemplo, o autismo, conforme relatado por Muotri. Por meio das respostas das células produzidas, é possível testar diferentes tipos de medicamentos.
Os minicérebros foram enviados ao espaço em 2019, em colaboração com a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) e a Universidade da Califórnia, juntamente à equipe do cientista brasileiro. Durante o processo de investigação, foi constatado que as células cerebrais envelhecem mais rapidamente no ambiente espacial: aproximadamente 10 anos em um mês.
— Além das condições neurais (autismo, Alzheimer), fazemos experimentos de microgravidade para proteção do cérebro do astronauta. Eles acabam voltando à Terra depois de um período no espaço com problemas de cognição. Aprendizado e memória são afetados — relatou.
Por conta dessa aceleração no envelhecimento, Muotri deverá ir ao espaço justamente para realizar pesquisas relacionadas aos minicérebros. O objetivo é executar os experimentos mais complexos e, assim, ajudar a tão sonhada colonização espacial contra os receios dos efeitos da microgravidade.
— A Nasa financia minha pesquisa com essa perspectiva, de exploração interplanetária. A gente permitindo que o astronauta consiga ter um desempenho em missões de longo prazo no espaço favorece com que ele mantenha sua cognição inalterada.
*Produção: Nikolas Mondadori