O Threads, nova rede social da Meta para rivalizar com o Twitter, já motiva debates sobre o mercado de tecnologia, interação entre usuários e a privacidade. Rede social da Meta teve 46 milhões de registros em menos de 24 horas após o lançamento, que ocorreu na noite de quarta-feira (5).
A rede social está disponível em cem países e funciona sem anúncios publicitários no momento. No Threads, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, escreveu: "Vai levar algum tempo, mas acho que deveria haver um aplicativo de conversas públicas com mais de 1 bilhão de pessoas. O Twitter teve a oportunidade de fazer isso, mas não conseguiu. Espero que nós consigamos".
Em sua primeira mensagem no Twitter em mais de uma década, Zuckerberg postou uma imagem que faz referência às semelhanças entre as duas redes sociais.
Mais uma opção
André Pase, professor da Escola de Comunicação, Artes e Design da PUCRS, cita que o Twitter mantinha "o assunto do momento", algo que Zuckerberg está tentando “roubar”. Para ele, a situação atual, lembra outro momento recente da empresa:
— É uma cópia do Twitter. É uma situação parecida a quando o Facebook (agora Meta) tentou comprar o Snapchat, não conseguiu e instalou o Stories no Instagram. O Threads é mais uma opção dentro do guarda-chuva da Meta que diz ao usuário “vem para cá porque eu estou carregando toda a base de usuários que eu já tenho de outros locais".
Pase acrescenta que outras redes sociais ganharam destaque nos últimos meses por conta de uma crise vivida pelo Twitter depois da compra feita pelo bilionário Elon Musk, em outubro de 2022. O professor comenta que a cobrança por contas verificadas e a imposição de um limite na quantidade de visualizações acessíveis aos usuários tem desagradado quem utiliza a rede social: isso, portanto, abre uma "lacuna" no setor.
— Fomos acostumados a ter poucas redes: você tinha o Twitter para texto, o Instagram para imagens e Stories, o Facebook para colocar um post maior, o LinkedIn para trabalho. E quando entra toda essa crise do Twitter pela compra do Elon Musk, começamos a ver uma tentativa de outras pessoas aparecerem no mercado, como a Mastodon e a Bluesky — comenta o professor da PUC.
Nas lojas de aplicativos para celulares, o Threads se descreve a como "o aplicativo de rede social baseado em texto do Instagram", uma apresentação que, adicionada às imagens, parece semelhante ao Twitter.
"Esperamos que (o Threads) possa ser uma plataforma aberta e acolhedora para o debate", escreveu o CEO do Instagram, Adam Mosseri.
Integração questionável
Gustavo Chaves Barcellos, advogado que atua com empresas de base tecnológica e pós-graduado em Direito dos Negócios, analisa o vínculo entre o Instagram e a nova rede social Threads. Ele destaca o fato de que para usar Threads é necessário ter uma conta no Instagram. Isso, para Barcellos, faz parte da “autonomia privada” da Meta, ou seja, da liberdade que a empresa tem em estipular as regras de uso da plataforma pelos usuários.
No item 5.4 do artigo de Central de Ajuda, consta que "quando você desativa seu perfil do Threads, seu conteúdo e o perfil não podem mais ser vistos pelos outros usuários, mas eles são mantidos nos Servidores do Threads. O conteúdo do Threads será excluído dos servidores dele se você o excluir individualmente ou se excluir sua conta do Instagram.
— O grupo Meta alega vinculatividade entre as redes. Não existe, na minha visão, uma violação a nenhum dado pessoal, mas uma postura um tanto conservadora e questionável quanto ao nível de liberdade que o usuário do Threads vai ter — pontua.
Por outro lado, o modo como uma rede se “alimenta” de outra não pode ser tirado do contexto atual de uma big tech - gigante da tecnologia - igual a Meta, diz o advogado. Ele acrescenta que essas empresas têm sofrido pressões do governo e da opinião pública por regulamentações mais firmes sobre proteção de dados e limites de liberdade de expressão. Essa forma de atuação da Meta com a nova rede social pode indicar novas posições quanto ao assunto no futuro.
— Entendo que medidas mais conservadoras, limitadoras como essa estão inseridas dentro desse contexto (regulamentações das big techs). Me parece que isso se dá justamente para garantir que o usuário tenha uma responsabilização maior em relação àquilo que ele vai propagar através do Threads, que, assim como o Twitter, provavelmente vai ser uma grande fonte de informação e de emissão de opinião — pontua.