Motor mais silencioso, movido a energia limpa e até equipado com entradas USB próximas aos assentos dos passageiros. Essas são três das características do Attivi Integral, o ônibus 100% elétrico da Marcopolo que fez duas viagens no trânsito de Porto Alegre nesta quinta-feira (29). O veículo transportou por vias da Zona Norte participantes da quarta edição do Fórum Gaúcho de Secretários e Dirigentes de Mobilidade Urbana e da XII Reunião Geral do Grupo de Benchmarking Qualionibus.
O teste foi a prévia de um projeto-piloto que a prefeitura da Capital quer implementar ainda neste ano: o uso diário de veículos elétricos no transporte urbano.
— A propulsão é feita por energia elétrica, que é um combustível limpo, por isso não tem emissões. Ele polui menos. Em termos de uso, é 30% mais econômico por quilômetro rodado (do que um ônibus a diesel) — explica Cristiano Hilgert, representante da Marcopolo.
O veículo da empresa gaúcha custa cerca de R$ 2,7 milhões, mais de três vezes o valor de um ônibus novo a diesel da frota da Capital, que fica na faixa dos R$ 800 mil. A autonomia da bateria é de 250 quilômetros na cidade. O tempo de carga é de até quatro horas, feito por meio de um plug-in. São comportados 83 passageiros (um cadeirante, 30 sentados e 52 em pé).
O carro tem tecnologia nacional, à exceção das 10 baterias que alimentam o sistema. Esses produtos são importados da China: o conjunto custa cerca de US$ 150 mil (R$ 728 mil na cotação atual) e tem vida útil média garantida pelo fabricante de oito anos. Segundo a Marcopolo, o Attivi Integral pode ser utilizado por ao menos 15 anos.
— O ar-condicionado é elétrico, há entradas USB, software próprio. Ele tem freio regenerativo, ou seja, quando começa a reduzir (a velocidade), isso se reverte em carga na bateria, o que dá autonomia maior. As janelas são maiores, isso dá mais visibilidade, fica um carro mais agradável para viajar — acrescenta Hilgert.
O Attivi Integral não tem chaves: para ligar o motor é preciso apenas inserir um cartão (como em um caixa eletrônico) e dar a partida com o toque em um botão do painel. O veículo é mais alto (3,6 metros) na comparação com os ônibus que circulam em Porto Alegre e tem o piso mais baixo.
Por isso, o ônibus que foi usado no teste não poderia ser utilizado em paradas de pontos de Capital por conta da diferença de nível. No entanto, essa dificuldade não seria problema em um eventual uso, pois a altura em relação ao chão pode ser adaptada às características da cidade, conforme a Marcopolo. O carro pode ou não ter catraca e espaço para cobrador.
O Attivi Integral é o primeiro veículo elétrico a reunir toda a tecnologia da empresa da Serra, ou seja, com chassis e carroceria desenvolvidos pela marca. A Marcopolo, porém, já participou da construção de mais de 750 ônibus elétricos e híbridos, feitos com chassis de parceiros, que foram comercializados no Brasil e no Exterior. Além de Porto Alegre, a empresa de Caxias do Sul trabalha para apresentar o ônibus em cidades como São Paulo (SP), Manaus (AM), Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Vitória (ES).
— A questão da mobilidade com elétricos está começando no Brasil. Estamos todos desenvolvendo conhecimento e produtos para contribuir, de alguma maneira, na redução dos impactos ambientais. Sabemos que a eletrificação da frota é um movimento que vai acontecer ou já está acontecendo no mundo inteiro. E isso representa um bom custo-benefício para o usuário, para o operador e para o meio ambiente — diz Cristiano Hilgert.
Avaliação antes de investir
Adão de Castro Júnior, secretário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre, diz que a prefeitura quer iniciar um projeto-piloto com os veículos elétricos ainda neste ano:
— Vamos dar oportunidade para todas as fábricas testarem seus ônibus aqui. Queremos ter pelo menos 90 dias para testá-lo. Vamos colocar esses ônibus em linhas para que eles rodem diariamente transportando passageiros — afirma.
Se o “teste” for bem sucedido, a ideia do Executivo municipal é comprar veículos elétricos para a frota que hoje tem 1,1 mil ônibus. A aquisição, porém, é uma barreira, pois os veículos como o da Marcopolo custam entre três e quatro vezes o valor de um ônibus a diesel.
— É ainda um valor alto. Comprar dois ou três deles não seria problema, mas não é isso o que a cidade precisa. Para qualificarmos a frota, precisamos de compras mais robustas, de cem ou 200 ônibus a curto prazo. Mas, para isso, precisamos de um financiamento de grande monta, e que seja a juros baixos. Esperamos que o governo federal também lance programas para que possamos adquirir esses ônibus — pontua o secretário.