A estreia oficial do 5G em Porto Alegre nesta sexta-feira (29) já trouxe internet mais rápida aos celulares aptos a receber a tecnologia. A reportagem de GZH registrou velocidade de 1 Gbps (gigabit por segundo) na região do bairro Moinhos de Vento, na Zona Norte. Na mesma região, com o 4G, os resultados variavam entre 20 Mbps e 30 Mbps (megabit por segundo), nos dias anteriores. Isso é o mesmo que dizer que o 5G foi pelo menos 50 vezes mais veloz na comparação.
No entanto, esse é o começo de um trabalho de implementação que se estenderá até 2029, de acordo com o edital do 5G. Há funções esperadas que ainda não estão disponíveis e mesmo a velocidade da internet no celular registrada nas primeiras horas da liberação é inferior à possibilidade da rede, que pode chegar a 20 Gbps, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Para Rafael Kunst, professor da Escola Politécnica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), a velocidade observada na internet nos telefones da Capital era algo esperado e, com o tempo, pode ser "bem maior". Além disso, outras funções como a utilização da rede para atividades na área da Medicina, na indústria 4.0 e em carros autônomos devem ser assuntos para os próximos anos, quando implementados de forma gradual no país.
Mas, segundo Kunst, existem obstáculos para que a tecnologia seja capaz de atingir todas essas capacidades. O primeiro deles é a necessidade de ampliação da cobertura, que deve ser no mínimo igual à do 4G, para ser possível o uso em grande escala. No entanto, isso só ocorrerá com um ambiente favorável à expansão em todos os municípios, algo não observado hoje:
— A legislação precisa ser atualizada para suportar o 5G. Isso envolve a questão da potência (do sinal) que é limitada por lei. Tem a situação do mobiliário urbano: quando o 5G for implementado na sua total capacidade, vai demandar uma quantidade maior de antenas do que o 4G. Além disso, as antenas parabólicas devem ser trocadas porque operam na mesma frequência (do 5G), por isso deve haver a modificação para que o 5G não sofra interferências.
Esses pontos, segundo o especialista, podem ser resolvidos nos próximos anos devido ao cronograma elaborado para a expansão, que ajudará a tecnologia a se popularizar e ficar mais barata no Brasil. Assim, quando perguntado sobre a expectativa para o 5G nos próximos anos, o professor da Unisinos se define como um "otimista" por diversos fatores.
— Vamos ter uma boa implantação de estrutura porque isso é do interesse das operadoras, da Anatel, das pessoas. Acredito que vamos evoluir rápido, embora seja gradativo, dentro das possibilidades do país. O 5G vai abrir portas para aplicações em diversas áreas que hoje nem imaginamos — afirma.
Comparação
A tecnologia que chegou a Porto Alegre nesta semana já está presente em cerca de 70 países, de acordo com Relatório de Economia Móvel 2022 da GSM Association, uma organização que representa operadoras de rede móvel em todo o mundo.
Um dos locais que deve chamar a atenção do mundo neste ano no assunto 5G é o Qatar, país sede da Copa do Mundo, que começa em novembro. Vandersilvio da Silva, professor do curso de Ciência da Computação da Universidade Feevale, cita o exemplo de Lusail, que receberá abertura e decisão do Mundial.
— Ela foi construída do zero para ser uma cidade inteligente. Teve muito investimento para que tivesse a infraestrutura do 5G funcionando a todo vapor. As pessoas vão se maravilhar com ela e querer isso em todos os lugares — diz.
Essa situação, segundo ele, é distante do que teremos no país nos próximos meses. Por isso, o professor diz que a comparação entre o investimento da cidade do Oriente Médio com o processo de expansão da conexão no Brasil é injusta:
— O crescimento do 5G aqui será lento no começo, mas nada impede que tenhamos os resultados que têm outros países. Só não é possível comparar o Qatar com o Brasil, pois são dimensões diferentes e realidades econômicas diferentes.
A dimensão do Brasil, por vezes entendida como uma dificuldade para a expansão do 5G, pode ser um fator de benefício para uma melhor cobertura nos próximos anos, para o professor da Feevale. Isso porque a rede pode ser instalada de forma direta, mesmo sem conexões anteriores, como o 3G ou o 4G. E isso pode ser acelerado conforme a demanda do campo na conexão entre os equipamentos agrícolas, algo esperado com a popularização da rede.
— O 5G poderá chegar em um lugar remoto, onde não há população para ter a tecnologia, mas que tem aplicações da rede no agronegócio. Então, isso valeria a pena economicamente para todo mundo. Mas será uma colocação (do 5G) mais lenta do que em um país pequeno e rico (como o Qatar), mas, à medida que as pessoas vão utilizando e gostando, é uma tecnologia que será disseminada — pontua.