Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e espanhóis revelou que o asteroide Apophis, que passará pela Terra em 13 de abril de 2029, poderá ter sua estrutura afetada pela gravidade do nosso planeta. Isso poderá fazer com que o corpo celeste, de 370 metros de diâmetro, "solte partes" na atmosfera terrestre.
O Apophis foi descoberto em 2004 e ficou conhecido como "asteroide do juízo final", devido à chance de colisão com a Terra que, na época, era estimada em 2%. A partir de novos cálculos, os cientistas descartaram a hipótese de choque com a Terra pelos próximos cem anos. Além disso, em 2013, descobriram que o corpo celeste iria passar pelo ponto mais próximo do nosso planeta no fim da década (em 2029), ficando a 38 mil quilômetros de distância.
A pesquisa dos cientistas das universidades Carlos III, de Madrid, e Unesp, de São Paulo, buscou analisar as características físicas do Apophis e quais seriam as principais consequências decorrentes da sua aproximação com a Terra.
– A colisão não é a única possibilidade em eventos de aproximação com esse – afirma o pesquisador do Departamento de Bioengenharia e Engenharia Aeroespacial da UC3M, Gabriel Borderes-Motta, à agência de notícias da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
De acordo Borderes-Motta, a interação gravitacional entre um planeta e asteroide da dimensão do Apophis pode alterar a forma do corpo
– [Pode] quebrar o corpo em pedaços, desintegrar possíveis pedras soltas na superfície do asteroide, ou até mesmo remover outros corpos que orbitam o asteroide (como rochas, satélites, ou anéis – afirma o pesquisador.
Consequências para a Terra
A pesquisa indicou que as partículas que se desprenderão do corpo celeste não irão atingir diretamente a Terra. Além disso, mesmo se elas colidissem com o planeta, devido ao processo de aquecimento que sofrem ao entrar em alta velocidade na atmosfera terrestre, ocorreria um processo de desintegração.
As maiores consequências serão sofridas pelo próprio corpo celeste. Segundo as simulações realizadas, poderia ocorrer uma leve mudança nas marés gravitacionais do asteroide, o que pode aumentar as chances de deslizamentos de materiais em sua superfície.
Como foi a pesquisa
Para chegar aos resultados, os cientistas trabalharam com dois cenários possíveis. No primeiro, levaram em conta o que poderia acontecer com as rochas na superfície do asteroide. Para isso, analisaram a forma do Apophis e as características do seu campo gravitacional, além de fatores que podem afetar sua trajetória e seu ângulo, como a pressão da radiação da luz solar e perturbações causadas pela aproximação com a Terra.
No segundo cenário, os pesquisadores conduziram estudo com um conjunto de simulações numéricas, formadas por dois ambientes de simulações, com três casos experimentais em cada uma. Para isso, foi simulada como amostra um disco de 15 mil partículas do ambiente próximo ao asteroide. Essa técnica permitiu prever como as partículas na órbita da rocha espacial poderiam reagir a diferentes situações e como essas possibilidades influenciariam o comportamento e a trajetória do asteroide.
Após as simulações, os autores da pesquisa observaram que o ângulo de inclinação do asteroide era maior em menores densidades do que em maiores. Também descobriram que quanto menor a densidade das partículas e maior a pressão da radiação da luz solar, menos elas continuariam intactas.
Como os pesquisadores ainda não sabem qual a densidade exata do Apophis, foram feitas aproximações. O que se sabe é que quanto menos denso o asteroide for, mais fácil será a perda das partículas de sua superfície. Para fins de investigação científica, eles levaram em conta um cenário em que o asteroide teria baixa densidade e concluíram que aproximadamente 90% das rochas soltas seriam removidas de sua superfície durante aproximação com a Terra.