As sanções econômicas dos Estados Unidos e aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) impostas à Rússia podem trazer prejuízos para a Estação Espacial Internacional (ISS). Atualmente, a instituição conta com o trabalho de quatro astronautas da Nasa, dois russos e um europeu, que estão a bordo de um posto avançado em órbita.
Na quinta-feira (24), o presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou que os Estados Unidos sancionariam os principais bancos russos e imporiam controles de exportação à Rússia, visando reduzir as importações de alta tecnologia, o que degradaria, inclusive, a indústria aeroespacial russa e o seu programa espacial. Em resposta, Dmitry Rogozin, diretor-geral da estação espacial russa (Roscosmos) publicou no Twitter algumas mensagens em tom ameaçador. Em uma delas, Dmitry relembrou que a órbita e a localização atual da ISS são controladas por motores russos.
"Se você (Joe Biden) bloquear a cooperação conosco, quem salvará a Estação Espacial Internacional (ISS) de uma órbita descontrolada e da queda nos Estados Unidos ou na Europa?", disse Dmitry no Twitter. O diretor-geral da Roscosmos ainda levantou a hipótese de a ISS cair sobre a Índia ou a China e afirmou que, caso isso acontecesse, a culpa seria do governo norte-americano.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, questionou o futuro da ISS enquanto discursava em um plenário na Câmara dos Comuns, realizado na quinta-feira. "Tenho sido amplamente a favor da continuação da colaboração artística e científica. Mas, nas circunstâncias atuais, é difícil ver como mesmo isso pode continuar normalmente", disse.
Apesar de não responder diretamente às ameaças de Rogozin, um porta-voz da Nasa se manifestou sobre o assunto, em uma entrevista à CNN. De acordo com o representante da instituição, os astronautas norte-americanos continuarão trabalhando com os parceiros internacionais, inclusive com os da Roscosmos, para garantir as operações seguras da ISS. "As novas medidas de controle de exportação continuarão a permitir a cooperação espacial civil EUA-Rússia. Nenhuma mudança está planejada para o apoio da agência para operações contínuas em órbita e estações terrestres", garantiu.
Parceria entre os Estados Unidos e a Rússia
A cooperação espacial entre os Estados Unidos e a Rússia remonta à Guerra Fria. Depois que os EUA enviaram o primeiro homem à Lua, em 1969, o então presidente norte-americano Richard Nixon buscou tornar o programa espacial mais cooperativo e convidou os aliados para participar do programa do ônibus espacial.
Paralelamente ao programa do ônibus espacial, Nixon e o diplomata Henry Kissinger planejaram a realização de uma missão conjunta entre os americanos e os russos. Com isso, foi lançada em 1975 a missão Apollo- Soyuz. Foi nesse projeto que as espaçonaves americanas se acoplaram pela primeira vez, em um evento transmitido para outros países via televisão.
A parceria entre os norte-americanos e russos ficou abalada após a invasão soviética no Afeganistão, em 1979. Com isso, o então presidente Jimmy Carter desistiu do projeto que pretendia levar as missões do ônibus espacial a uma das primeiras estações espaciais russas.
Foi somente após o fim da União Soviética que os russos voltaram a se aproximar dos norte-americanos. Com isso, em 1998, houve o lançamento do primeiro módulo da ISS com base em uma parceria entre a Rússia e os Estados Unidos.
Funcionamento da ISS
A Agência Espacial Internacional é dividida em duas seções, o Segmento Orbital Russo e o Segmento Orbital dos Estados Unidos, cada um construído e administrado por seu país. Atualmente, a ISS conta com um sistema de propulsão russo que mantém a sua órbita e um segmento dos Estados Unidos responsável pela eletricidade e pelos sistemas de suporte vital.
Além da Rússia e dos Estados Unidos, a ISS conta com a colaboração do Canadá, do Japão e da Agência Espacial Europeia.
Roscosmos e os europeus
Como resposta às sanções econômicas, Dmitry anunciou no sábado (26) a suspensão da cooperação da Roscosmos com a Europa. De acordo ele, haverá a retirada das equipes russas que trabalham em Kourou, na Guiana Francesa.
Os astronautas russos faziam parte de um projeto que pretendia lançar em abril deste ano dois satélites do programa Galileo (uma espécie de GPS europeu) num foguete Soyuz.
A União Europeia tentou minimizar a retirada da Rússia do projeto e alegou que essa decisão não afetaria a qualidade do serviço de suas redes de satélite Galileo e Copernicus.
O Galileo é o sistema global de navegação por satélite da Europa que fornece informações de posicionamento e tempo usadas em telefones celulares, carros, ferrovias e aviação. Já o Copernicus fornece dados de observação da Terra e documenta, por exemplo, as mudanças climáticas.