Diferentemente do que foi publicado às 11h56min, o pesquisador Iván Izquierdo não faleceu de complicações provocadas pela covid-19. A causa da morte foi pneumonia. A informação já foi corrigida no texto.
O pesquisador e neurocientista Iván Izquierdo morreu nesta terça-feira (9), aos 83 anos, em Porto Alegre, em razão de uma pneumonia, confirmou Eduardo Izquierdo, filho do cientista, e o Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer). Considerado um dos mais importantes pesquisadores neurocientistas do mundo, Izquierdo dedicou sua vida à pesquisa sobre memória. O velório ocorre nesta quarta-feira (10), das 8h às 11h, no Crematório Metropolitano de Porto Alegre. A cerimônia está restrita a familiares e amigos próximos.
“Estamos todos muito tristes. O prof. Iván Izquierdo colocou no cenário internacional as pesquisa sobre memória. Foi um exemplo de pesquisador e professor que formou e motivou inúmeros neurocientistas. Como idealizador, coordenador e pesquisador do Centro de Memória embasou as pesquisas da doença de Alzheimer no InsCer e formou jovens neurocientistas. Iván Izquierdo, um grande homem, um talentoso cientista e um nobre Mestre", escreveu em nota Jaderson Costa da Costa, atual diretor do InsCer.
Izquierdo dedicou mais de 60 anos à neurociência, durante os quais publicou cerca de 700 artigos em periódicos científicos com quase 23 mil citações. Em 2007, foi um dos conferencistas da primeira edição do evento Fronteiras do Pensamento.
Vida e pesquisa
Izquierdo era filho de um cientista e de uma dona de casa. Quando jovem, estudou Medicina na Universidade de Buenos Aires no fim dos anos 1950. Na década seguinte, conquistou o título de doutorado em Farmacologia na mesma instituição. Posteriormente, partiu da terra natal e cursou o pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos EUA.
Após o término dos estudos, em 1964, ele assumiu o cargo público de professor adjunto na instituição argentina em que cursou a graduação e o doutorado. Dois anos depois, ele partiu para Córdoba. Ali, ele lecionou na universidade da cidade e montou o laboratório que chefiou até 1973, ano em que se mudou para o Brasil.
A primeira parada foi em Porto Alegre, que era onde os familiares da esposa moravam. Contudo, a sede pela pesquisa científica e por melhores condições de trabalho fizeram com que ele tentasse a vida em São Paulo, em 1975. Na terra da garoa, ele desenvolveu seu trabalho na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Porém, a relação durou pouco. Dois anos depois, ele volta para a Capital dos gaúchos atraído pela melhora de investimento em pesquisa no Estado.
O professor entrou para o quadro de funcionários da UFRGS nos anos 1970 e se aposentou em 2003. Em 2004, assumiu a coordenação do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. A partir de 2012, ano da criação do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, integrou e coordenou o Centro de Memória da Instituição. Como professor na PUCRS, atuou nos Programas de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica e em Medicina e Ciências da Saúde.
Em mais de seis décadas de pesquisa, publicou mais de 700 artigos científicos e ganhou mais de 40 prêmios – a nível nacional e internacional –, como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico, o Prêmio Conrado Wessel e a comenda da Ordem de Rio Branco. Izquierdo era um dos raros casos de pesquisadores que eram reconhecidos na rua. A fama veio em 1995, quando um levantamento do Instituto para a Informação Científica, dos Estados Unidos, revelou que o então professor da UFRGS era o cientista do país mais citado pelos colegas em publicações internacionais.
Em 2018, recebeu ainda o Prêmio Internacional Unesco-Guiné Equatorial para Pesquisa em Ciências da Vida. O reconhecimento, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi obtido por suas descobertas em elucidar os mecanismos de processos de memória, levando a uma melhoria da qualidade de vida humana.
Uma das principais contribuições do pesquisador diz respeito à determinação das bases moleculares da formação da memória em partes do cérebro, especialmente na área do hipocampo – região fundamental para o processo de aprendizagem. Além de referência nos estudos da memória, o médico aventurava-se pela literatura, escrevendo contos e ensaios.
Izquierdo deixa a esposa Ivone, 77 anos, dois filhos e quatro netos.
No início da tarde desta segunda-feira, o governador Eduardo Leite foi uma das inúmeras pessoas do campo político e da área acadêmica a se manifestarem nas redes sociais sobre a morte do cientista:
Patricia Pranke, vice-reitora da UFRGS, relembra que, em 2014, Izquierdo foi agraciado com o título de professor emérito da universidade, como reconhecimento por sua trajetória e serviços prestados à instituição, e destaca sua importância para a ciência:
— O professor Iván Izquierdo foi e continuará sendo um exemplo de pesquisador a ser seguido, tendo inspirado e orientado o trabalho de muitos seguidores.