O jovem telescópio espacial de observação de exoplanetas — planetas que orbitam uma estrela que não seja o Sol — Cheops revelou a face de um dos mais extremos conhecidos, com uma temperatura de superfície de 3.200ºC, de acordo com um estudo recente. Ele tem apenas um metro e meio de altura, mas de seu posto de observação, orbitando a Terra desde dezembro passado, o telescópio enxerga longe.
Neste caso, foi detectado o exoplaneta WASP-189b, que gira em torno da estrela HD 133112, muito longe de nosso sistema solar, a 322 anos-luz de distância, na constelação de Libra.
Tudo é fora do comum neste casal que pertence à tribo dos mais de 4 mil exoplanetas listados até o momento, corpos celestes orbitando em torno de uma estrela diferente do sol, identificados desde 1995. O WASP-189b é um gigante gasoso, do tipo Júpiter ultraquente. Está 20 vezes mais perto de sua estrela do que a Terra do Sol. Em consequência, a rotação completa acontece em menos de três dias, contra um ano para o planeta azul.
A proximidade de seu sol tem consequências em sua temperatura. Porque seu astro é "muito grande, com massa muito maior e mais quente que o nosso sol", em torno de 7.700ºC, disse a cientista Monika Lendl, do Observatório de Genebra, que coordenou o estudo, publicado no dia 23 setembro na revista Astronomy & Astrophysics.
— Gostaríamos de entender como é possível que planetas existam tão perto de sua estrela e o que acontece com eles em circunstâncias extremas — acrescenta a cientista.
Muito próximo de sua estrela
Lançado em dezembro passado, o Cheops tem a tarefa de estabelecer uma primeira caracterização dos exoplanetas.
— Ele deve estudar sistemas já conhecidos, para os quais sabemos que existe um trânsito — ou seja, uma passagem do planeta em frente de sua estrela, explica Jacques Laskar, diretor do Instituto de Mecânica Celeste e Cálculo de Efemérides (IMCCE), no Observatório de Paris.
Resultado de uma parceria entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Suíça, beneficiado pela cooperação de uma centena de engenheiros e cientistas de 11 Estados europeus, o telescópio está equipado com um dispositivo fotométrico que mede com precisão a radiação luminosa emitida por uma estrela e, quando possível, aquela refletida por seu exoplaneta.
— Não podemos ver o WASP-189b propriamente dito, porque ele está muito perto de sua estrela hospedeira, que é muito brilhante — explica Lendl, um pouco como um coelho ofuscado pelos faróis que não consegue ver um carro.
Mas o Cheops pode medir as diferenças na luz emitida entre o momento em que o exoplaneta passa na frente, ao lado e, finalmente, atrás de sua estrela. Podemos deduzir a distância que o separa e o tempo que leva para contorná-lo.
— Isso nos permite calcular com precisão o tamanho do planeta, mas também a quantidade de luz que ele reflete — explica Lendl.
As medidas também permitiram determinar que a estrela hospedeira se deforma sob o efeito de uma rotação muito rápida. Com a ajuda de outros instrumentos, como o Sophie, espectrógrafo do Observatório de Grasse, cujo telescópio permitiu a descoberta do primeiro exoplaneta, podemos medir sua massa.
— Tudo isso nos permite dizer se um planeta é rochoso ou gasoso e classificá-lo — explica o prof. Laskar.
O estudo de WASP-189b é apenas o primeiro em uma colheita esperada com a revisão em andamento de cerca de 30 outros sistemas, incluindo alguns multiplanetários, que Cheops tem examinado desde seu lançamento.
Os cientistas não procuram um lugar habitável. Para isso, será necessário aguardar o auxílio de outros instrumentos, o que possibilitará classificar com maior precisão os sistemas explorados pelo Cheops.
Como o telescópio espacial James Webb, o sucessor do Hubble a ser lançado em 2021, que será capaz de estudar a composição molecular da atmosfera de um candidato a uma exploração posterior. Em seguida, a missão Platão da ESA estudará planetas terrestres orbitando um sol em uma zona habitável. Com lançamento previsto para depois de 2025.
Sem esquecer Gaia, o satélite que mapeia as estrelas de nossa galáxia desde 2014, cuja terceira entrega de dados, prevista para o início de dezembro, enriquecerá o catálogo de exoplanetas próximos ao nosso sistema solar.