Pessoas interessadas em saber para qual direção corre a inovação no Rio Grande do Sul podem colocar na agenda uma visita a um conjunto de prédios que se multiplica junto à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre. Ali funciona o maior polo de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do Estado e um dos principais do Brasil.
Criado em 2003, o Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc) é um ambiente vivo de inovação composto por laboratórios, grandes empresas, investidores e startups. No total, 7,2 mil pessoas trabalham nas 170 empresas espalhadas pelo espaço – mais gente do que a unidade da GM e suas sistemistas em Gravataí, calculados em 6 mil pessoas pelo Sindicato dos Metalúrgicos do município da Região Metropolitana.
A cada ano, em média, quatro produtos ou serviços criados no Tecnopuc são patenteados e oferecidos aos consumidores. Muitos são fruto de pesquisas de ex-alunos que contam com apoio de professores e mentores para levar ao mercado as suas ideias.
– Os professores e alunos têm portas abertas para testar softwares, aplicativos ou equipamentos na área do Tecnopuc, e isso ajuda a transformar o conhecimento gerado nas salas de aula em novos negócios – explica Leandro Pompermaier, líder do programa Tecnopuc Startups.
Um empreendedor que amadurece seu projeto no parque tem acesso a coworking, salas privativas, auditórios, espaços para reuniões, salas de videoconferência e laboratórios de prototipagem e engenharia de produtos para a saúde. Isso representa um corte de despesas e um ganho de eficiência cruciais para o negócio decolar.
– A proposta é oferecer as melhores condições para que os empreendedores possam alcançar todo o seu potencial – reforça o superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, Jorge Audy, um dos idealizadores do Tecnopuc.
No Tecnopuc, convivemos diariamente com pessoas e startups que podem fazer a diferença nesse trabalho de transformação digital.
TIAGO NICOLAIDIS
Tiago Nicolaidis, líder de Transformação Digital do Sicredi, que trabalha no espaço
O espaço tem uma agenda de eventos como hackathons, que reúnem programadores, designers e desenvolvedores em maratonas para criar soluções para desafios tecnológicos. Isso possibilita ao empreendedor conviver com o que há de mais moderno em áreas como inteligência artificial e programação.
– Aqui, nós, literalmente, batemos na porta de outros empreendedores para trocar ideias, indicações e propor parcerias – explica Mauricio Rodrigues, CEO da Openbox.ai, startup instalada no parque.
A empresa criou uma plataforma digital para oferecer antecipação de recebíveis a micro e pequenas empresas. Graças à tecnologia, um empreendedor consegue com alguns cliques contratar um produto que antes demandava pilhas de documentos carimbados e conta corporativa em bancos.
– Essa vivência no parque também nos levou a oferecer serviços para jovens empreendedores, que têm mais dificuldade em antecipar os recebíveis para suas startups – exemplifica Rodrigues.
Todas as gerações
Além de atrair jovens inovadores, o Tecnopuc é um ímã para profissionais mais experientes que já estavam no mercado e decidiram buscar ajuda para empreender. É o caso do engenheiro eletricista Antônio Albuquerque, 52 anos, e do administrador Humberto Macedo, 43, sócios na startup Sevenia, instalada no parque. Eles eram colegas em uma empresa de energia até 2015, quando decidiram pedir demissão e empreender.
– Resolvemos trazer a ideia para o parque porque precisávamos de ajuda para formalizar o negócio e lidar com os trâmites para a patente. Mas encontramos muito mais do que isso: apoio de mentores da Faculdade de Engenharia, laboratórios e proximidade com outros empreendedores – elenca Antônio.
Graças a esse intercâmbio de ideias, perceberam que o plano original de construir direcionadores de painéis solares (um dispositivo que move a placa ao melhor ângulo para aproveitar a incidência solar) para residências era inviável.
– Fomos estudando o mercado e ouvindo opiniões e percebemos que pequenos consumidores não teriam interesse em pagar por esse tipo de tecnologia, que é mais comum em grandes empresas – afirma Antônio.
Decidiram mudar os planos. Começaram a desenvolver painéis solares portáteis que podem ser instalados em janelas, sacadas ou no pátio de residências e ligados à tomada. Um conversor joga para dentro da rede elétrica a energia solar captada, o que leva a redução na conta de luz. De acordo com os sócios, cada placa do PlugWatt (vendida a R$ 1,4 mil) poupa R$ 30 por mês da conta da luz – ou seja, o investimento se paga em cerca de quatro anos.
– A tecnologia já está em pedido de patente e logo vai chegar aos consumidores por meio de uma grande rede de varejo – projeta Humberto.
Convivendo com unicórnios
Além de jovens empresas, o Tecnopuc é sede de centros de pesquisa de gigantes como HP, Oracle, Petrobras, Microsoft e Apple.
Está no Tecnopuc, por exemplo, o centro de inovação da Getnet, considerado um dos primeiros unicórnios brasileiros, como são chamadas empresas vendidas por mais de R$ 1 bilhão – nesse caso, o comprador foi o banco Santander, em 2014. No local, a empresa nascida em Campo Bom desenvolve e experimenta novos produtos e serviços de soluções financeiras, de máquinas de pagamento a aplicativos.
É uma fórmula semelhante à que adota o Sicredi ao escolher o parque para colocar uma unidade com 300 pessoas para pensar em inovação. Em 2017, a cooperativa – que tem 117 anos de existência – inaugurou um espaço para se manter competitiva e moderna.
– Em 2016, o Sicredi fez um planejamento estratégico para pensar no futuro do negócio e entendeu que seria essencial criar um espaço fisicamente distante da matriz para fazer uma transformação digital – explica Tiago Nicolaidis, líder de Transformação Digital da cooperativa.
A distância do QG possibilitaria conexão com um ecossistema de inovação e proximidade com talentos da Faculdade de Informática – que funciona no mesmo prédio.
– Convivemos diariamente com pessoas e startups que podem fazer a diferença nesse trabalho de transformação digital – reforça Nicolaidis.
A unidade recebe parte dos R$ 700 milhões em investimento em tecnologia que o Sicredi projeta entre 2017-2023.
Um dos produtos que nasceram no Tecnopuc foi a conta digital da cooperativa, chamada Woop Digital, focada no público jovem. Outra novidade surgida no parque é a concepção de agências com experiências digitais, um desafio que tira o sono de todos bancos tradicionais brasileiros.
Além de criar inovações, a unidade no Tecnopuc virou um santuário para pequenas cooperativas em busca de inspiração. Diariamente, representantes das unidades do Interior fazem um minitour no local para conhecer novidades e levar boas ideias em suas cidades – irradiando o conhecimento gerado no Tecnopuc por todo Estado.
Ambiente de inovação – o Tecnopuc
O que é? Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc).
Qual a importância? É o maior parque tecnológico do Estado e um dos principais do Brasil, com sedes em Porto Alegre e Viamão.
Quantas pessoas participam? São 7,2 mil trabalhando em 170 empresas no parque.
Outras informações: pucrs.br/Tecnopuc