Correção: a Urcamp é um centro universitário, e não uma universidade como informado das 15h22min de 24 de julho às 14h50min de 25 de julho. O texto já foi corrigido.
A partir da primeira ida humana à Lua, que completou 50 anos no sábado, mais de 380 quilos de rochas do satélite foram trazidas para a Terra por astronautas norte-americanos. Um dos fragmentos veio parar em território gaúcho e encontra-se no Museu Dom Diogo de Souza, de Bagé, desde a década de 1970. Quem quer examinar do que é feita a Lua, no entanto, geralmente ainda precisa olhar para o céu. O pedregulho não costuma ser colocado em exposição. Mas o museu anuncia que será possível vê-lo em uma mostra que começa no dia 27.
A pedra foi, originalmente, um presente do presidente Richard Nixon, dos Estados Unidos, ao general Emílio Médici, de Bagé, ditador do Brasil entre outubro de 1969 e março de 1974. Em 2011, o escritor Fabrício Carpinejar, enviado por Zero Hora a Bagé para fazer um reportagem sobre o tema, descobriu que, após concluir o mandato, Médici levou a amostra para casa. No texto, relatou como o fragmento foi parar no museu, por intermédio do advogado Fernando Sérgio Lobato Dias, que costumava visitar o ex-presidente em sua fazenda, em Dom Pedrito.
— Ele me apresentou sua coleção particular e perguntou se me interessava por algo. Eu me vidrei no talismã, e ele fez questão que levasse como cortesia. Entreguei o material ao historiador Tarcísio Taborda, que saberia cuidar do contexto de sua exibição para a comunidade — contou Lobato Dias à época.
A reportagem de Carpinejar ainda é a melhor fonte de informações sobre a pedra. Em 2011, ele conversou com pessoas ligadas ao museu e com Lia Maria Herzer Quintana, reitora da Urcamp - Centro Universitário da Região da Campanha, instituição à qual o museu está vinculado. Na semana passada, GaúchaZH fez contatos para uma nova reportagem, mas as duas instituições recusaram os pedidos de entrevista. Solicitaram que questões sobre o tema fossem encaminhadas por e-mail. A resposta enviada pelo setor de comunicação da Urcamp confirma que a doação foi feita por Médici e acrescenta que o fragmento foi trazido do Vale Berço do Touro pela missão Apollo 17 (a sexta e última ida de astronautas à Lua, em dezembro de 1972).
GaúchaZH também pediu para o museu e a Urcamp confirmarem se estava correta a informação, presente na reportagem de Carpinejar, de que a pedra teria 1,14 grama, mediria menos de um centímetro e seria de natureza esponjosa. O questionamento sobre o peso e o tamanho foi ignorado. "Este fragmento lunar chegou ao Museu Dom Diogo de Souza envolto em uma circunferência de resina de poliéster transparente sob uma base de madeira", foi a resposta. "Essas amostras lunares (...) foram analisadas com a técnica de espectroscopia Raman, sendo encontrados evidências sólidas de grafite e carbono".
O texto de 2011 contava que o imenso valor que a pedra havia ganho no mercado gerava dores de cabeça à reitora. Havia temor de um roubo. Por causa disso, contou Carpinejar, a preciosidade foi tirada de exibição e ficou escondida, submetida a um rigoroso esquema de segurança. Na semana passada, GaúchaZH questionou quais são as atuais precauções de segurança e perguntou se o paradeiro do fragmento é alterado com frequência, como informava a reportagem de oito anos atrás. A resposta foi sucinta e evasiva: "O museu tem vigilância e câmeras e cabines de controle permanente".
A pedra esteve em exposição no museu dos anos 1970 até 1999, segundo a reportagem de Carpinejar. Na semana passada, GaúchaZH pediu que a informação fosse confirmada e que se explicasse como deu-se a decisão de tirá-la das vistas do público. A resposta: "Esteve várias vezes em exposição neste período, com diferentes expografias relacionadas ao tema. Entrará em exposição todas as vezes que tivermos projetos adequados para este fim".