A capacidade de erguer a sobrancelha em desconfiança ou franzi-la em solidariedade pode ter dado a nossa espécie uma vantagem evolutiva, disseram pesquisadores da Grã-Bretanha nesta segunda-feira (9).
Sobrancelhas altamente móveis deram aos humanos habilidades de comunicação não verbais necessárias para estabelecer grandes redes sociais que permitiram maior cooperação e melhores chances de sobrevivência, ressaltaram os estudiosos.
— As sobrancelhas são a parte que faltava no quebra-cabeça de como os humanos modernos conseguiram se dar muito melhor uns com os outros do que outros homininis agora extintos — disse Penny Spikins, da Universidade de York, coautora de um estudo publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution.
Spikins e uma equipe examinaram a função das cristas ósseas pronunciadas da sobrancelha em nossos ancestrais e entenderam por que estas se modificaram ao longo do tempo. Pesquisas sugeriram que uma arcada supraciliar grande ajudava a proteger os crânios dos nossos antepassados de danos resultantes da mastigação forte, ou que preenchia um vazio entre a caixa craniana e as órbitas oculares.
A equipe usou um software para examinar a arcada supraciliar em um crânio fossilizado de Homo heidelbergensis, um membro arcaico da família dos homininis, composta por humanos modernos e nossos ancestrais diretos e extintos.
O H. heidelbergensis, que viveu entre 600.000 e 200.000 anos atrás, é considerado o ancestral comum dos humanos e de nossos primos neandertais.
Os pesquisadores recriaram digitalmente o crânio, que pertence à coleção do Museu de História Natural de Londres, e experimentaram mudar o tamanho da arcada supraciliar enquanto aplicavam diferentes pressões de mordida.
Eles descobriram que uma arcada supraciliar grande contribui pouco para aliviar a pressão sobre o crânio quando se come. Além disso, era muito maior do que o necessário para preencher a lacuna entre a caixa craniana e as órbitas oculares do H. heidelbergensis.
Em nossos antepassados extintos, sobrancelhas proeminentes podem ter sinalizado status social ou agressão, dando lugar depois às sobrancelhas mais expressivas dos humanos modernos, informou a equipe.
O desenvolvimento de uma testa lisa com sobrancelhas mais visíveis e peludas, capazes de maior movimento, começou nos homininis há cerca de 200 mil anos e se acelerou nos últimos 20 mil anos.
— A sinalização social é uma explicação convincente para as sobrancelhas salientes dos nossos antepassados — afirmou Paul O'Higgins, autor sênior do estudo e professor de anatomia da Universidade de York. — Visto que a forma da arcada supraciliar não é orientada somente por exigências espaciais e mecânicas, e que outras explicações para as arcadas supraciliares, como manter o suor ou o cabelo longe dos olhos, já foram desconsideradas, sugerimos que uma explicação contributiva plausível pode ser encontrada na comunicação social — completou.
Os movimentos das sobrancelhas permitem que os humanos expressem emoções complexas e percebam as dos outros, segundo Spikins.
— Por outro lado, foi demonstrado que as pessoas que colocaram botox, que limita o movimento das sobrancelhas, são menos capazes de enfatizar e se identificar com as emoções dos outros —apontou.