
As árvores da Coleção Internacional de Cacau crescem aqui em uma diversidade impressionante: são vagens esguias com protuberâncias que lembram ferrões de escorpião, frutos redondos e verdes que mais parecem tomatilhos e versões compridas, com pele irregular como a de um lagarto espinhoso, todos em cores que vão do roxo profundo ao amarelo brilhante. Dentro de cada um estão as sementes com as quais é produzida uma iguaria adorada por bilhões de pessoas: o chocolate.
Um patrimônio genético mais restrito significa que as variedades cultivadas com mais frequência são suscetíveis às mesmas doenças, e essas pragas podem se espalhar rapidamente.
O setor cacaueiro gerou uma prosperidade relativa na costa caribenha da Costa Rica até o final da década de 1970, quando os agricultores começaram a perceber que as vagens estavam desenvolvendo um revestimento fúngico branco e acabavam mumificadas.
O fungo Moniliophthora roreri, responsável pela doença conhecida como monilíase, rapidamente se espalhou pelo país e, em 1983, as exportações de sementes de cacau seco haviam diminuído 96%. A indústria local nunca mais se recuperou.
Até o cantor Walter Ferguson menciona o problema em uma de suas canções: "Monilíase, você veio para ficar e tudo o que trouxe foi uma barriga vazia/Você diz que não vai embora até me levar à pobreza."
Canções populares sobre fungos podem ser raras, mas a devastação na principal indústria da região foi profunda – e apesar de o surto costarriquenho ter ficado para trás, o fungo continua a se espalhar.
— Em minha opinião, a indústria do cacau corre risco permanente porque, intencionalmente ou não, a doença pode se espalhar em apenas um voo. O aumento das viagens e do comércio nos países em desenvolvimento abriu novos caminhos para as infecções — afirma Phillips-Mora.
Para ele, o surto mais recente, confirmado na Jamaica, no ano passado, pode ter sido causado por traficantes de maconha – transportada clandestinamente entre a Costa Rica e a Jamaica – que, sem querer, pegaram vagens doentes para levar como lanche na viagem de volta.
A epidemia foi a primeira confirmada fora da América Latina e comprovou a capacidade do fungo de sobreviver em viagens mais longas do que se pensava possível. Outras regiões produtoras, como a África Ocidental – fonte de praticamente todo o cacau que acaba em produtos populares como os bombons da Hershey e os M&M da Mars – podem enfrentar problemas semelhantes.
Mesmo sem levar a monilíase em consideração, o cacau é uma cultura problemática, pois outras doenças como vassoura-de-bruxa, podridão-parda e a praga quaternária (CSSV) também afetam a planta. E a mudança climática promete agravar ainda mais os patógenos das plantas tropicais.
Essas dificuldades tornam o cacau ainda menos atraente, pois os lucros são baixos, as safras, pequenas e, na média, os produtores estão envelhecendo – sem contar que a perspectiva da próxima geração é a de abandonar o negócio de família.
Por outro lado, a demanda por chocolate só faz crescer, especialmente em mercados gigantescos como China e Índia, que estão tomando gosto pelo que costumava ser uma iguaria apenas para consumidores norte-americanos e europeus. Ou seja, uma fase de escassez pode estar se aproximando.
É aí que entra o projeto de Phillips-Mora: a diversidade genética do cacau, em exibição completa na Coleção Internacional de Cacau do CATIE, pode evitar a crise do chocolate.

Uma solução híbrida
No início dos anos 1980, Phillips-Mora trabalhou na identificação dos cacaueiros naturalmente mais tolerantes e produtivos e então enxertou os espécimes para criar variedades novas. O processo é demorado, e especialistas de várias partes do mundo já falharam nessa tarefa, mas, em 2006, Phillips-Mora lançou seu primeiro lote de híbridos.
Em termos de rendimento e resistência a doenças, as diferenças são surpreendentes: as seis cepas novas produzem, em média, três vezes mais do que as variedades padrão; dessas, em condições ideais, as mais prolíficas podem até dobrar esse volume. Depois de onze anos de teste, um híbrido chamado CATIE-R6 teve uma taxa de infecção de monilíase de cinco por cento em comparação com os 75% da variedade de controle.
— Nosso objetivo não é só produzir cacau; também queremos dar condições de vida básicas aos agricultores. A maioria é muito pobre porque o sistema está baseado em opções que não têm uma boa capacidade de produção — diz Phillips-Mora.
As árvores que superarem essa tendência podem tornar o negócio de família mais interessante para a futura geração de produtores de cacau. As versões do CATIE estão sendo cultivadas em todos os países centro-americanos, como também no México e no Brasil.
Um maior rendimento agrícola e mais resistência às doenças têm o poder de beneficiar os agricultores, mas a colheita é inútil se o produto tiver gosto fraco ou desagradável – afinal, o chocolate é o símbolo máximo do hedonismo gastronômico.
Entretanto, ao contrário de quase todas as outras iniciativas para aumentar o rendimento das culturas, o programa de Phillips-Mora tem o sabor requintado como pré-requisito – ou seja, as variedades que não impressionarem os testadores experientes são descartadas, ainda que cresçam bem. O resultado desse método é que, ao contrário de várias outras culturas favorecidas pela agronomia, como a maçã Red Delicious e a banana Cavendish, o cacau do CATIE tem um sabor excelente.
Os fabricantes de chocolate já estão começando a torrar e empacotar as variedades de Phillips-Mora. A Dandelion, com sede em San Francisco, recentemente lançou uma barra feita com uma mistura dos seis híbridos do CATIE.
— Eu acho, honestamente, que será uma das nossas barras mais populares. Tem um equilíbrio bacana entre as notas de chocolate de caramelo e, ainda assim, é muito acessível — afirma Greg D'Alesandre, diretor de fornecimento de cacau da marca.
As variedades híbridas de cacau de Phillips-Mora, porém, não oferecem uma solução perfeita para todos os desafios da cultura.
Elas não podem se autopolinizar e algumas vagens são bem pequenas: não foram devidamente testadas na África ou na Ásia, e ainda não são resistentes a todos os patógenos que afligem o cacau globalmente. Já foram feitos testes de campo, praticamente concluídos, com um novo lote de clones criado para resolver algumas dessas questões.
Além disso, a atual lista de clones do CATIE foi criada em resposta a ameaças conhecidas da produção de cacau; obviamente, o futuro trará novas demandas. Os patógenos evoluem; situações políticas instáveis nos países em desenvolvimento podem afetar a agricultura. A mudança climática vai alterar as paisagens de maneiras imprevisíveis.
A solução não é substituir todo cacau com as seis variedades disponíveis do CATIE, mas poder continuar a diversificar todos os tipos que são cultivados no mundo. Como o Silo Global de Sementes de Svalbard, a Coleção Internacional de Cacau é uma contingência contra desastres futuros de caráter desconhecido.
Se surgirem novas mutações fúngicas, em caso de estiagem ou de alterações nas preferências do sabor do chocolate, é mais que provável que existam genes de cacau na coleção para formar a base de novos híbridos para enfrentar os futuros desafios. Ainda assim, Phillips-Mora teme pelo futuro.
Embora trabalhe com empresas ricas como a Mars, Nestlé e Hershey, a verba que recebe é normalmente destinada a projetos específicos de pesquisa e não para a manutenção da coleção e/ou investimento em programas futuros.
Ele calcula receber menos de cinco por cento do que é necessário para a manutenção adequada da coleção por ano. Por isso, apesar de ter se aposentado há três anos, Phillips-Mora planeja continuar trabalhando até que a viabilidade financeira da coleção esteja garantida.
— Ficarei muito feliz de saber que, quando deixar esta instituição, a coleção estará protegida financeiramente. É um tesouro para todo mundo, mas principalmente para todos os fãs de chocolate conclui.
Por Myles Karp