Após uma década, o ataque contra Antonio Celestino Lummertz, 59 anos, e Lonia Gabe, 67, teve um desfecho. Na noite desta sexta-feira (13), quatro pessoas foram condenadas pelo sequestro, tortura, cárcere e assassinato do casal. Outras duas pessoas foram absolvidas.
Marli Machado Martins, apontada como autora do plano criminoso, foi sentenciada a 97 anos e 4 meses de reclusão. O então companheiro dela, Valdir Ribeiro de Carvalho, que teria sido convencido a participar da ação, recebeu pena de 66 anos, 1 mês e 25 dias de reclusão. Ambos foram condenados pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, sequestro e cárcere privado, tortura, falsidade ideológica e furto qualificado.
O réu Isaías Borges Zvoboda foi condenado pelo crime de sequestro e cárcere privado cometido contra Antonio. A pena será de 3 anos e 4 meses de reclusão. Já Anderson de Oliveira Cardoso foi responsabilizado por sequestro e cárcere privado do casal, porém a execução da pena de quase três anos não foi determinada devido a prescrição retroativa. Michele Martins Justo e Ronaldo Behenck Justo foram absolvidos de todas as imputações.
O julgamento teve início na manhã de quinta-feira (12), no Fórum de Taquara, quando foram ouvidas quatro testemunhas e os seis réus. O júri foi retomado às 8h30min desta sexta-feira e contou com debate entre defesa e acusação, réplica, tréplica, votação e leitura da sentença.
Investigação e acusação
Com 59 e 67 anos à época, respectivamente, Antonio Celestino e Lonia foram capturados, apontou a investigação policial, em 2 de fevereiro de 2014, na localidade rural de Linha Faxinal de Dentro, município de Vale do Sol, no Vale do Rio Pardo.
Segundo a acusação do Ministério Público, os seis acusados teriam invadido a propriedade do casal, em dois carros, e os levado a força para Rolante, no Vale do Paranhana. Celestino e Lonia teriam sido mantidos em cativeiro na casa da suposta mentora dos crimes, no interior daquele município, até a madrugada de 8 de fevereiro, quando teriam sido assassinados.
A perícia apontou que o casal foi morto por ação de esganadura mecânica. Lonia foi surpreendida enquanto dormia e estrangulada até a morte. Celestino foi arrebatado durante a madrugada, enquanto levantava-se para ir ao banheiro e ainda estava sem a perna mecânica que utilizava. Ele também foi esganado até perder os sentidos e morrer.
Queima dos cadáveres
Os corpos do casal, indicam as investigações e aponta a denúncia, foram colocados dentro de uma carcaça de geladeira, que estava no pátio da residência onde ocorreu o cárcere. Os restos mortais foram incinerados por cerca de 14 horas e depois dispensados à beira de uma via rural entre Rolante e Santo Antônio da Patrulha.
Para justificar o desaparecimento das vítimas, que vinha sendo investigado pela Polícia Civil em Vale do Sol, os autores dos crimes tentavam despistar as autoridades e familiares do casal, fornecendo, de acordo com o Ministério Público, até mesmo notícias falsas que davam a entender que Antônio Celestino poderia ter matado Lonia e fugido para o Estado do Mato Grosso.
Motivação
De acordo com o Ministério Público, Celestino havia sido testemunha de um homicídio qualificado praticado pela denunciada Marli, em 1999, em Torres. Para tentar reverter sua condenação por este crime, a mulher planejou as mortes do casal e contou com o auxílio dos demais réus, aponta a denúncia.
No cativeiro, Celestino foi obrigado a escrever, de próprio punho, uma carta na qual inocentava Marli da acusação e assumia a autoria do crime.
Ainda, segundo o MP, ele ainda foi forçado a gravar um vídeo em que falava o que escrevera na carta. Depois, foi levado até um tabelionato na cidade de Osório, onde teria sido coagido a reconhecer firma em um documento manuscrito em que confirmava ter escrito a carta e gravado o vídeo por livre e espontânea vontade.
Contraponto
A reportagem não localizou representantes dos réus. O espaço permanece aberto para as manifestações.