A despedida de Mariane de Souza Ravazi, 40 anos, abalou amigos e familiares. Ela foi morta a facadas em Santa Maria, na região central do Estado, na manhã de quarta-feira (9), enquanto se deslocava para o trabalho. O principal suspeito do assassinato é o ex-companheiro, Luiz Roney Freitas da Costa, 54, com quem ela compartilhou 11 anos de vida. Ela tinha medida protetiva contra ele.
— Sempre bem alegre, disposta. Nunca a vi de baixo astral, por mais adversidades que ela pudesse ter. Todos gostavam dela, porque era uma pessoa positiva. Era uma pessoa esforçada — relata Heitor Anunciação, 46 anos, chefe da empresa em que a mulher trabalhava.
Ele esteve no sepultamento da colaboradora na manhã desta quinta-feira (10) e conta que o sentimento dos presentes na solenidade era de incredulidade, tristeza e busca por justiça. A despedida aconteceu no cemitério Santa Rita de Santa Maria.
— Se em vias naturais a gente já sofre, imagina assim, com uma brutalidade dessas. A família ficou bem consternada — avalia o empregador, acrescentando que, no ambiente de trabalho, nunca houve a suspeita de que ela sofresse violência doméstica.
Mariane, que é natural de Santa Maria, trabalhava na empresa House Clean SM havia cerca de seis anos, realizando limpeza de condomínios. Segundo a polícia, ela estava a caminho de um dos prédios em que fazia faxina quando foi surpreendida pelo homem. Conforme Anunciação, o ex-companheiro convivia com a mulher havia 11 anos e tinha conhecimento da escala de trabalho dela, o que incluía os locais e horários de faxinas.
Quando percebeu a presença do suspeito, a vítima teria acionado a BM e relatado estar sendo perseguida pelo homem. Mariane tentou se esconder em um restaurante da região, mas, mesmo assim, ele ingressou no estabelecimento e desferiu pelo menos duas facadas contra ela.
Populares que presenciaram o feminicídio perseguiram o suspeito, que fugiu da cena do crime, mas foi localizado e preso em flagrante pela Brigada Militar, ainda na quarta-feira. A prisão foi convertida em preventiva, e o ex-companheiro da vítima está recolhido no Presídio Estadual de Santa Maria. O suspeito permaneceu em silêncio quando foi questionado pela polícia sobre o crime.
Nas redes sociais, a empresa em que Mariane atuava prestou solidariedade aos familiares da vítima. "Que Deus possa acalentar o coração de todos neste momento tão difícil", diz a publicação.
Violência recorrente
Conforme a delegada Elisabeth Shimomura, responsável pela Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (Deam) de Santa Maria, a vítima havia procurado a polícia em 27 de setembro para registrar uma ocorrência de ameaça e pedir medida protetiva contra o homem.
— Ela fez um relato bastante contundente, dizendo que ele era muito agressivo, que, inclusive, em uma das agressões, chegou a quebrar os dentes dela — contextualiza a delegada.
A medida protetiva foi deferida em 30 de setembro e o homem já havia sido notificado sobre a decisão quando o crime aconteceu. Ele foi intimado e devia comparecer à delegacia para prestar depoimento sobre as supostas violências em 7 de novembro.
Esta foi a segunda vez que Mariane foi até a delegacia para registrar uma ocorrência contra o ex-companheiro. Em fevereiro de 2014, ela também havia procurado a polícia para relatar diversas lesões feitas por ele, além de ser alvo de constantes ofensas verbais com adjetivos pejorativos.
Segundo a polícia, o relacionamento de mais de uma década havia chegado ao fim havia cerca de um mês. O homem foi morar com uma filha, mas não teria superado o fim do romance.
Segundo relato de Mariane à polícia, ele havia perdido o emprego, não queria mais trabalhar e estava vivendo "às custas dela", outro fator que impulsionou o término do relacionamento. De acordo com a polícia, ele tem antecedentes por desacato a autoridade. O histórico criminal da mulher não foi informado pela polícia.
A investigação segue em andamento para entender a motivação e as circunstâncias do crime. Nos próximos dias, a polícia ouvirá familiares e pessoas presentes no momento do assassinato. Imagens de câmeras de segurança do entorno do local do feminicídio também estão sendo buscadas, uma vez que o restaurante onde a mulher foi morta não possui sistema de monitoramento. O aparelho celular da vítima também será verificado em busca de mensagens ou ligações que possam indicar ameaças.
Contraponto
A reportagem procurou a defensa do suspeito, mas não localizou. O espaço está aberto para manifestações.