O pai das gêmeas Manuela e Antônia Pereira, que morreram aos seis anos em um intervalo de oito dias em Igrejinha, no Vale do Paranhana, falou publicamente sobre o caso pela primeira vez nesta sexta-feira (18). Michel Persival Pereira, 43 anos, disse ainda não saber o que provocou a morte das filhas. Entenda o que se sabe sobre o caso até agora.
Michel prestou depoimento à Polícia Civil. Ele não é investigado no caso.
— Eu sou o pai das meninas, a única coisa que eu dei para elas foi amor. Até o último momento, eu não acreditava que fosse nada — disse.
A mãe das crianças, Gisele Beatriz Dias, 42 anos, está presa temporariamente, suspeita de duplo homicídio. A Polícia Civil acredita que as meninas foram envenenadas pela mulher. O g1 não localizou a defesa da investigada.
A mãe das gêmeas foi encaminhada para a Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba. Também na sexta, a Justiça decidiu transferi-la para internação psiquiátrica.
Confira o que se sabe sobre o caso até agora:
1. Como as gêmeas morreram
Manuela e Antônia Pereira, de seis anos, viviam no loteamento Jasmim, localizado no bairro Morada Verde, em Igrejinha, município a 90 quilômetros de Porto Alegre.
Manuela morreu no dia 7 de outubro em decorrência de uma parada cardiorrespiratória. Oito dias depois, em 15 de novembro, Antônia morreu em circunstâncias semelhantes.
De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Igrejinha, Graciano Ronnau, que atendeu o caso mais recente, Antônia "estava em parada cardiorrespiratória e urinada, os mesmos sintomas da irmã gêmea".
Em um primeiro depoimento à polícia, o pai afirmou que nenhuma das duas meninas tinha problemas de saúde anteriores. Ele disse que, após a morte de Manuela, Antônia iria a uma consulta médica para verificar se ela poderia passar por algo parecido com o que teria ocorrido com a irmã.
2. Quando o caso começou a ser investigado
A semelhança entre as duas mortes em um curto espaço de tempo fez com que a polícia passasse a investigar o caso.
Segundo a Polícia Civil, não foram encontrados sinais aparentes de violência nos corpos das meninas. Laudos do Instituto Geral de Perícias (IGP) são aguardados, para apontar as causas das mortes.
3. Por que a mãe foi presa
Na noite de 15 de outubro, a mãe das gêmeas foi presa por suspeita de duplo homicídio doloso.
— Há suspeita de que ela tenha praticado homicídio contra essas crianças — disse o delegado Cleber Lima.
Entre os motivos que justificaram a suspeita da polícia, estão:
- Curto espaço de tempo entre as duas mortes
- Fato de a mãe estar sempre sozinha com as meninas nos momentos das mortes
- Aparente causa idêntica entre os dois óbitos
Em depoimento à polícia, Gisele negou que "tenha feito algo contra as filhas" e afirmou que "sempre fez de tudo para cuidar e amar as filhas".
4. Quais são as suspeitas contra a mãe
A Polícia Civil suspeita que a causa das mortes das gêmeas foi envenenamento. Os elementos que sustentam essa hipótese são a mistura de remédios na comida do marido da investigada e a morte misteriosa de três gatos das crianças.
O delegado Ivanir Caliari apura "se tal fato ocorreu como forma de um teste para uma posterior possível intoxicação das crianças". A Polícia Civil indica que os envenenamentos teriam ocorrido em ocasiões em que o pai não estava em casa – no trabalho ou fazendo coisas a pedido da esposa.
O delegado ainda acredita que uma das motivações para o crime seria ciúme da mãe em razão da boa relação do pai com as filhas.
Em 2023, a mãe das meninas denunciou o pai por suposto abuso sexual contra as filhas e conseguiu a guarda delas, enquanto o casal estava separado. Em depoimento, a mulher "admitiu que inventou esse fato para, tão somente, obter a guarda das meninas nesse período", diz o delegado.
5. O que dizem as testemunhas
Médicos que atenderam as crianças relataram, em depoimento, a suspeita de intoxicação por medicamento ou veneno, porque as duas tiveram quadros de hemorragia.
"Foi aspirada grande quantidade de secreção sanguinolenta pelo tubo e, até mesmo, pelas vias aéreas superiores, tendo tal fato chamado a atenção, na medida que tal quadro não é comum em uma criança de seis anos e tampouco em uma parada cardiorespiratória comum, tamanha a quantidade de sangue expelido. Acredito que o quadro não tinha aspecto de infecção, aparentando ter sido ocasionado por ingestão de substância medicamentosa ou de veneno. Chama a sua atenção o fato de ter ocorrido com as duas irmãs gêmeas em um curto espaço de tempo", consta no inquérito.
Outro relato de profissionais da saúde no atendimento à mãe, que teria passado por tratamentos de saúde mental, dá conta de que a mulher era afetuosa apenas com o filho já falecido, e que não demonstrava emoção ou preocupação com as gêmeas. Um profissional contou à polícia que a mãe tinha 'ideias perversas' para as filhas.
Profissionais da educação disseram à polícia que o pai das gêmeas era presente, atencioso, amoroso e preocupado com o desempenho das filhas, enquanto a mãe era distante, aparentando indiferença.
6. Como era a vida das gêmeas
Antônia e Manuela eram as filhas mais novas do casal e tinham dois irmãos. O mais velho, Michel Persival Pereira Júnior, morreu assassinado, aos 22 anos, em novembro de 2022.
A situação das gêmeas era monitorada pela rede de proteção a crianças e adolescentes. Antônia e Manuela chegaram a morar com o avô materno durante oito meses, em Taquara, depois que a mãe perdera a guarda das crianças em Santa Maria, na Região Central.
Nessa época, os pais das garotas estavam separados, em uma das idas e vindas de um relacionamento de mais de duas décadas. O aposentado Manoel da Cunha Dias afirmou que precisou entregar as crianças aos pais por ordem da Justiça.
— Se elas estivessem comigo, elas estariam vivas hoje. Com certeza. Eu teria cuidado, porque eu sempre cuidei delas bem — disse o avô.
Em dezembro de 2021, o Conselho Tutelar de Xangri-Lá, no Litoral Norte, informou que fez um atendimento a Manuela, Antônia e uma irmã mais velha após uma ocorrência policial. Na época, elas foram retiradas do pai e também levadas para os avós.
O Conselho Tutelar de Igrejinha não tinha relatos de denúncias contra a família. O órgão afirmou que passou a monitorar as meninas em 2022, quando elas foram morar na cidade. As gêmeas estavam matriculadas na escola, tinham frequência regular e não havia sinais de maus-tratos ou violência.
O Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente de Igrejinha instaurou uma comissão para apurar eventual falha na assistência da rede. O Ministério Público disse que está acompanhando o caso.