Uma nova tomada de depoimento com o pai das gêmeas de Igrejinha, mortas em intervalo de oito dias sob condições ainda não esclarecidas, reforçou, de acordo com a Polícia Civil, a hipótese de que o genitor não possui relação com o desfecho trágico. Antônia e Manoela, falecidas aos seis anos, morreram durante socorro médico, nos dias 7 e 15 deste mês, com sinais de intoxicação.
— Os prontuários médicos são claros ao apontar indícios de intoxicação exógena, ou seja, por substância que vem de fora do corpo das meninas. Resta sabermos, e as perícias serão fundamentais para isso, se foi uma hiperdose de medicação ou mesmo um envenenamento — descreve o diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI), delegado Cleber Lima.
O delegado destaca que o depoimento prestado pelo pai das meninas fortalece a tese de que ele mantinha relacionamento afetuoso e comprometido com o bem-estar das filhas. O interrogatório ocorreu pela manhã, na Delegacia de Igrejinha.
— Em princípio não existem elementos que apontem suspeita sobre o pai — pontua o delegado.
A mãe, no entanto, prossegue considerada como principal suspeita de participação nas mortes. Ela permanece presa em regime temporário.
Perícias em curso
Cleber Lima destaca que as provas científicas são peças determinantes na investigação, que tem o delegado de Igrejinha, Ivanir Caliari, na linha de frente. O laudo mais aguardado pelos policiais decorre do exame nas meninas. Ambas, sofreram sangramentos pelas vias oral e respiratória. A expectativa dos delegados é de que o Instituto-Geral de Perícias (IGP) possa definir qual substância provocou os ferimentos e as intercorrências que resultaram nos óbitos.
O diretor do DPI revela que buscas foram realizadas na residência da família para rastrear pistas sobre tais substâncias. Caixas e embalagens de veneno não foram localizadas, mas havia um conjunto de medicamentos para tratamento de depressão e psicopatologias correlatas, as quais, quando administradas em dose elevada, poderiam provocar adoecimento por intoxicação.
Além disso, os policiais e peritos coletaram amostras de alimentos que faziam parte da dieta das crianças, sob intuito de verificar eventual contaminação. Estas amostras estão com o IGP.
A polícia também mantém um mapeamento de farmácias e comércios de produtos agropecuários que poderiam servir como agressor tóxico, consultando os comerciantes dos estabelecimentos sobre compras pela mãe das gêmeas. Não houve indicação da aquisição nos locais já vistoriados.
Exame em telefones
O mais recente elemento de análise, requisitado pelos delegados Lima e Caliari, são os dados de comunicação contidos nos telefones do pai e da mãe de Antônia e Manoela. A varredura, explica o diretor do DPI, poderá gerar indicativos sobre a eventual motivação para os fatos apurados.
Por fim, após ouvir os pais, a irmã, vizinhos e amigos da família, além de profissionais de saúde que interagiram com as meninas e também com a mãe, a polícia poderá repetir depoimentos da mulher presa e do pai para confrontar os argumentos com as provas contidas nos laudos, o que, segundo Lima, será definidor para a conclusão do caso.