Foi preso em Dubai, nos Emirados Árabes, o albanês Armando Pacani, alvo de investigação da Polícia Federal (PF) do Rio Grande do Sul. Ele é apontado, no âmbito da Operação Hinterland, como líder de uma organização criminosa que enviava cocaína para a Europa a partir de portos do sul do Brasil.
A ordem de prisão, emitida pela Justiça Federal de Porto Alegre, estava por ser cumprida desde março do ano passado.
A captura ocorreu no dia 29 de julho, executada pela polícia de Dubai, mas só agora foi noticiada pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). Pacani era considerado foragido desde a deflagração da Operação Hinterland, pela PF gaúcha, em março do ano passado.
Em Dubai, ele constava como CEO de uma empresa de pré-moldados metálicos. As autoridades acreditam que ele usava a fachada de empresário enquanto conduzia a negociação de toneladas de drogas.
Pacani é casado com uma alemã e já viveu no Brasil. O valor estimado das transações ilícitas durante o período da investigação é de R$ 3,8 bilhões.
— Ele é um dos maiores compradores de cocaína da Europa. O passo importante agora é a extradição dele para o Brasil, a fim de dar continuidade ao processo penal —destaca o delegado Roger Soares Cardoso, titular da investigação pela Delegacia de Repressão a Drogas da PF no Estado.
No ano passado, foram presos no RS e em Santa Catarina os irmãos César Oliveira de Oliveira Júnior e Leandro Gonçalves de Oliveira, apontados como articuladores da logística no Estado para enviar a droga à Europa escondida em cargas.
César é dono da CTIL Logística, empresa que atuava no porto de Rio Grande e que é uma das investigadas pela PF por embarcar cocaína para chegar ao albanês. Os irmãos saíram da prisão, mas seguem com monitoramento eletrônico por meio de tornozeleira.
Em nota, a defesa de Leandro Oliveira, a cargo do Escritório Aury Lopes Jr. Advogados, "reafirma que as imputações da denúncia não são verdadeiras e que seu cliente não possui qualquer envolvimento com os fatos narrados, conforme ficará provado ao longo da instrução do processo. A defesa do empresário também salienta que sempre cooperou com as investigações e se mantém a disposição das instituições a fim de esclarecer os fatos".
Também em nota, a defesa de Cesar Oliveira de Oliveira Júnior diz que os "fatos que foram imputados a ele, na denúncia, não representam a verdade". "O empresário não praticou nenhuma das condutas descritas na denúncia, bem como não possui envolvimento algum com os fatos narrados naquela, o que será demonstrado durante a instrução processual", diz o texto assinado pela advogada Raquel Gonzales dos Santos, do escritório Gonzales e Santos.
Operação Hinterland
- A investigação que levou à Operação Hinterland teve início em março de 2021, a partir de informações recebidas pela Polícia Federal de que 316 quilos de cocaína haviam sido apreendidos na cidade de Hamburgo, na Alemanha. O material teria partido em dezembro de 2020 do porto de Rio Grande.
- A investigação indicou que a droga produzida na Bolívia era remetida para o Brasil por um fornecedor paraguaio e ingressava no país por Ponta Porã (MS).
- Posteriormente, a cocaína seria transportada em caminhões até Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e armazenada nas próprias empresas da organização criminosa ou em depósitos próximos aos portos de Rio Grande e Itajaí.
- A droga seria inserida em cargas regulares com a intervenção e coordenação da alta administração das empresas de logística, sem o conhecimento dos contratantes, proprietários das cargas lícitas (normalmente de insumos que poderiam mascarar a droga quando submetida aos controles alfandegários).
- Já no continente europeu, o grupo comprador do entorpecente, conforme a apuração, furtava a parte da carga regular que continha a cocaína, para distribuição em diversos países da Europa.
- Em dois anos de investigação, foi comprovado que a organização criminosa movimentou 17 toneladas de drogas que tinham como destino a Europa, sendo que 12 toneladas foram apreendidas.
- Para a realização da Operação Hinterland, a Polícia Federal celebrou acordos de Cooperação Policial Internacional com a Alemanha e o Paraguai, e acordos de Cooperação Jurídica Internacional com França e Alemanha, para execução das medidas.
- Houve apoio da Agência da União Europeia para Cooperação Policial (Europol) e da Interpol, além da Receita Federal do Brasil.