Um estilingue e uma bazuca de ar-comprimido improvisada estão entre os materiais recolhidos pela Delegacia de Polícia de Charqueadas. Apesar de parecerem inofensivos, os equipamentos artesanais são estratégicos para facções na cidade da Região Carbonífera, que compreende o maior complexo penitenciário do Rio Grande do Sul.
As ferramentas artesanais foram encontradas durante prisão em flagrante e expõem a criatividade dos criminosos para levar drogas e celulares para dentro de presídios. Nas unidades penitenciárias, os produtos são revendidos por chefes de grupos criminosos, que ampliam o poder financeiro e controle.
Conforme a ocorrência, em setembro de 2023, a Brigada Militar encontrou um homem com drogas e celulares. Ele disse que havia sido contratado para enterrar porções de maconha, cocaína, Viagra e carregadores de celular junto ao estilingue, em uma área próxima à Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
No celular dele, a polícia apurou que a droga seria enviada a José Carlos dos Santos, o Seco, condenado a 173 anos e três meses por roubos a banco, carro-forte e latrocínio.
Um vídeo, encontrado em um celular apreendido com um preso, revelou como o estilingue era usado. Trata-se de uma espécie de garfo de ferro com dois metros de altura com diversos elásticos amarrados na ponte.
— O arremessador fixa no chão esse instrumento, com uso de força puxa e faz o arremesso. Obedecendo as ordens que vinham de aparelho celular, ele arremessava para dentro do sistema prisional — explicou o delegado Marco Schalmes, em entrevista dada antes de a Associação dos Delegados de Polícia do RS orientar os profissionais a não falarem com imprensa para pressionar o governo a dar reajuste para a categoria.
Em abril deste ano, a Delegacia de Charqueadas concluiu o inquérito e indiciou Seco, uma mulher sem antecedentes criminais que visitava ele na cadeia e o homem preso em flagrante com a droga.
— Infelizmente, o uso de aparelhos celulares dentro do sistema prisional favorece com que facções criminosas continuem ordenando de dentro do estabelecimento prisional comparsas nas ruas — completou Schalmes.
Por ser considerando um preso de alta periculosidade, Seco chegou a ser transferido para Penitenciária Federal em 2017, mas retornou para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas, onde cumpre pena.
Embora tenha um histórico de roubos, investigações apontaram o envolvimento de Seco com uma facção do tráfico de drogas.
A polícia acredita que Seco coordena o esquema de arremesso de drogas para garantir o controle e liderança dentro do presídio.
Contraponto
“O advogado de José Carlos recebe com muita surpresa a referida informação. Ambos (advogado e José Carlos) desconhecem o fato em questão e não há certamente nenhum elemento que possa lhe vincular. Ele segue no fiel cumprimento de pena em Penitenciária de Segurança, seguindo com todas as regras disciplinares que são impostas e previstas em lei, sem qualquer intercorrência.
Paraguaçu Junior
OAB/RS 68.373”