As forças de segurança seguem registrando casos de saques, tentativas de roubos e até tráfico de drogas nas áreas inundadas no Estado. Somente entre a noite de segunda-feira (6) e a madrugada desta terça-feira (7) na Região Metropolitana 16 pessoas foram flagradas por suspeita de estar cometendo algum crime.
Desde o início da operação até o fim da manhã, ao menos 32 pessoas tinham sido detidas pela Brigada Militar no Estado — os dados são atualizados ao longo do dia. As prisões realizadas pela Polícia Civil ainda não foram divulgadas. As duas corporações juntas realizaram até o momento pelo menos 28 mil resgates de pessoas.
Num dos casos que resultou em prisões nesta madrugada, em Canoas, no bairro Mathias Velho, um dos mais atingidos pelas cheias, os policiais receberam informações de que criminosos circulavam numa embarcação cometendo furtos e roubos. Ao identificarem e abordarem o veículo, os policiais descobriram que o barco estava sendo usado para o transporte de drogas. Foram apreendidos 8,780 quilos de maconha e 5,278 quilos de crack.
Ainda em Canoas, no fim de semana, um homem atacou uma embarcação, onde estavam PMs fardados. Ele não estava armado e foi preso em flagrante. A BM também confirmou o furto de dois barcos no bairro Mathias Velho no sábado. No mesmo local, criminosos armados tentaram intimidar voluntários.
— Tem situações muito inusitadas. O comércio deles (do tráfico de drogas) não encerrou — afirma o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli.
Também em Canoas, um morador visualizou uma embarcação se aproximando de casa e pensou que eram saqueadores chegando. O homem atirou com uma arma de fogo na direção do barco. Na embarcação, estavam voluntários e um policial militar, que não chegaram a se ferir. Neste caso, não chegou a ser realizada prisão.
— Algo que está dificultando muito a nossa ação é a completa escuridão em grande parte da Região Metropolitana. Esse incidente do tiro se deu assim. O morador não identificou que eram voluntários e a BM. É importante esse alerta, para que não ocorram novos incidentes — disse Feoli.
Com intuito justamente de prevenir saques, as polícias têm mantido patrulhamento nas áreas onde há esse tipo de risco. Para Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, foram enviados policiais da tropa de choque numa aeronave do Exército. Os policiais estão usando embarcações para patrulhar as áreas.
Das 32 prisões realizadas pela BM, sete delas ocorreram na Capital. Os outros casos foram registrados em Montenegro, no Vale do Caí, em Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Ivoti, no Vale do Sinos, e Bento Gonçalves, na Serra.
Ainda em Canoas, na Região Metropolitana, policiais civis também usaram barcos para fazer buscas nesta segunda-feira em locais onde havia relatos de roubos de embarcações. Os agentes acessaram os prédios pelo segundo andar. Os policiais civis também têm trabalhado na segurança de embarcações de voluntários e em rondas.
— Embora não seja a atividade da polícia judiciária, estamos mantendo essas operações 24 horas por dia na rua. E isso não é só em Porto Alegre, mas em toda a Região Metropolitana, a fim de evitar saques, golpes, ou outros crimes. Para manter a segurança da população — afirma a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana.
Outras áreas que vêm recebendo atenção do policiamento são os abrigos, para onde são levadas as pessoas que precisaram sair de casa. Equipes de policiais foram alocadas nesses espaços para manter a segurança e monitorar possíveis conflitos.
— Temos bairros inteiros abrigados. Os problemas que aconteciam no bairro agora acontecem no abrigo. O bairro só foi transferido para um outro lugar — explica a delegada Adriana.
Reforço vindo de fora
O policiamento que vem sendo realizado nas áreas atingidas pelas inundações no RS deve ganhar reforço nos próximos dias. Tropas de Estados como Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo devem enviar policiais, com intuito de se somar à operação que vem sendo realizada pelas equipes gaúchas.
Segundo o Comando-Geral da BM, 80 PMs devem ser enviados de São Paulo, em 20 veículos e 20 botes. Do Rio de Janeiro também são esperados entre 20 e 30 PMs, e de Minas Gerais mais cerca de 50 policiais. Do Paraná também são aguardados 28 servidores da tropa de choque.
— Temos uma infinidade de PMs que, mesmo na folga, voltam para realizar salvamentos e patrulhamentos. É uma mobilização que nunca vimos antes no Estado para fazer o máximo pela população neste momento — diz Feoli.
Em publicação no X, o governador Eduardo Leite informou que cem homens da Força Nacional chegarão nesta quarta-feira (8) e outros 300 são esperados para os próximos dias.
— Recebi a informação de que o nosso pedido pela Força Nacional para reforçar o policiamento foi atendido. A partir de amanhã (quarta-feira) começa a chegada desse importante apoio, inicialmente com cem homens e, em seguida, com mais 300 — publicou Leite, que agradeceu ao Ministério da Justiça pelo apoio.
A Força Nacional já conta com 117 agentes no Rio Grande do Sul no apoio da segurança.
Notícias falsas
Um dos pontos que ainda preocupa as autoridades é a disseminação de notícias falsas. Entre as fake news espalhadas pelas redes sociais, estão a de que o policiamento estaria multando e recolhendo embarcações usadas para resgates, a exigência de habilitação para conduzir barco e motos aquáticas, de corpos boiando em áreas inundadas e divulgação e Pix falso em nome do governo do Estado. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) chegou a divulgar alerta contra a disseminação desse tipo de notícia falsa. Os casos estão sendo investigados pela Polícia Civil.
— Muitas informações divulgadas pelas redes sociais não procedem. Com as equipes na rua, nós inclusive conseguimos verificar essas questões que vão surgindo. No bairro Menino Deus ontem à noite recebemos vários relatos, indicando crimes graves com reféns. E não se confirmaram — afirma a diretora do DPM.
A Brigada Militar também tem recebido também frequentemente informações falsas sobre saques em supermercados na região do Centro Histórico.
— Mantemos o patrulhamento ostensivo nessas áreas em que temos possibilidade de saques. Mas esses trotes causam um desserviço e dificultam nosso trabalho — afirma o comandante-geral da BM.
Resgates e desaparecidos
Tanto Brigada Militar como Polícia Civil suspenderam folgas, férias e licenças nesse período para reforçar a atuação das corporações. Além do policiamento nas áreas atingidas, equipes atuam também nos resgates das pessoas ilhadas, na limpeza das áreas arrecadação e distribuição de mantimentos para pessoas desabrigadas.
Entre os dias 1º e 6 maio, a Polícia Civil resgatou 9.353 pessoas, dessas 284 são crianças. Neste período, os policiais civis também resgataram 3.558 animais. Por parte da Brigada Militar, foram resgatadas no Estado até o momento 18.870 pessoas e 2.871 animais.
Pela Polícia Civil, houve reforço na equipe da Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas (DPID). A delegacia agora conta com um delegado coordenador e mais dois delegados, além de reforço de agentes para auxiliar na localização de pessoas que tenham desaparecido durante as inundações. O telefone para contato é o 08006420121.
Também houve reforço com mais oito equipes volantes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para patrulhamento e atendimento de ocorrências principalmente nas áreas centrais de Porto Alegre, na Zona Norte e no bairro Menino Deus, além de Canoas. O intuito é agilizar o atendimento de possíveis ocorrências, como brigas e outros conflitos, que podem resultar em crimes contra a vida. As equipes também repassam informações para pessoas que buscam desaparecidos.