Em meio à tragédia que assola o Rio Grande do Sul na última semana, com as cheias dos rios, as forças de segurança – que também atuam nos resgates de pessoas ilhadas pelas inundações – reforçaram a presença dos servidores em áreas alagadas para tentar evitar delitos durante esse período. Casos de saques, furtos e roubos foram registrados na Região Metropolitana na própria Capital e em municípios como Eldorado do Sul, São Leopoldo, Canoas e Novo Hamburgo.
Na tarde desta segunda-feira (6), dois homens foram presos pela Brigada Militar, transportando sacos de moedas após saquearam estabelecimentos na zona norte da Capital. A situação causou revolta entre os moradores, que queriam linchar a dupla. Desde domingo, a BM em Porto Alegre passou a manter um policial militar dentro das embarcações de resgate junto de voluntários como forma de intimidar as ações dos bandidos.
— Precisamos mudar a estratégia. Até ontem, estávamos focados nos salvamentos. Mas criminosos estão encontrando oportunidade – narrou o comandante do policiamento na Capital, coronel Luciano Moritz Bueno.
Na noite de domingo (5), uma técnica de enfermagem relatou, de Canoas, ao vivo na Rádio Gaúcha, que pessoas foram impedidas e ameaçadas por criminosos armados ao tentar realizar resgates com barcos no bairro Mathias Velho.
— Agora foram resgatar um casal de idosos e uma criança. Ainda tem gente para resgatar. Não estão deixando vir, o pessoal do fundo. Pessoal está armado lá no fundo. Embarcação só com a Brigada Militar, não pode descer só voluntário. Se não, eles ameaçam com arma — descreveu.
O piloto de uma embarcação atuando nos resgates confirmou que vivenciava a mesma situação.
— Está bem perigoso. Não dá. Pessoal está assaltando — disse.
Na mesma noite, o comandante do policiamento metropolitano, coronel Márcio Gonçalves confirmou que a BM havia recebido os relatos da presença de homens armados cometendo assaltos, mas buscou tranquilizar os moradores e voluntários.
— Temos lá nas áreas alagadas patrulhamento ostensivo em barcos, com efetivo equipado com armamento, inclusive na madrugada. Não tivemos nenhum tipo de incidente depois disso, nenhum relato de ameaça ou outros tipos de crimes. Imediatamente que soubemos botamos patrulhamento na água e não tivemos mais relatos — garantiu.
Saques
Subcomandante-Geral da BM, coronel Douglas Soares garante que todas as ocorrências que chegam na BM pelo 190 ou pelas redes sociais sobre brigas, desordens, saques ou outros crimes têm sido verificadas. Para Eldorado e Guaíba, onde havia informações sobre saques em supermercado e outros estabelecimentos, foram enviados policiais em embarcações.
— As equipes ficaram na rodovia, em Eldorado, com barcos, indo e vindo. Em Eldorado tivemos alguns arrombamentos, pessoas que em áreas alagadas retiraram materiais de algumas lojas inundadas. Essas ações cessaram com a chegada da tropa de choque — explica o coronel.
Em Novo Hamburgo, no Vae do Sinos, também houve registro de arrombamentos em locais abandonados, e suspeitos foram presos. Para a Capital, foram enviados 600 policiais militares do Pelotão de Choque, que foram distribuídos em locais que pode haver algum tipo de ocorrência. Para o Humaitá e o Sarandi, além dos policiais do Choque também foram enviados brigadianos do Comando Ambiental da BM.
Nesta segunda-feira, segundo a BM, foram recebidos relatos de furtos em veículos na RS-118, mas nenhuma ocorrência havia sido registrada formalmente até o início da tarde. O Comando Rodoviário da Brigada Militar está atuando no local.
— Temos policiamento em vários pontos. Muitos acompanhando embarcações de voluntários. É muito importante que os voluntários sempre procurem orientação da BM nos locais. Ontem à noite no bairro Humaitá, policiais acompanharam as embarcações. Justamente para evitar qualquer situação envolvendo aquela embarcação. Algo preventivo mesmo — afirma.
No Estado, todas as folgas dos servidores da BM foram suspensas, assim como as férias. O efetivo foi direcionado para as atividades operacionais.
— Nosso efetivo está todo na rua, para aumentar a tranquilidade das pessoas. Todo efetivo da BM, nesse momento, só existe intervalo para dormir, trocar de roupa, se alimentar e voltar a trabalhar. A cada 24 horas, estamos com 7,5 mil a 8 mil PMs tirando serviço, enquanto a outra metade está descansando para voltar. Todo mundo está à disposição para essa operação que vai perdurar por mais 30 e 40 dias — afirma o subcomandante.
Monitoramento
Chefe da Polícia Civil, o delegado Fernando Sodré afirma que não chegou ao conhecimento da corporação um volume considerável de ocorrências.
— Não há grandes movimentos criminais. O que temos registrado são alguns conflitos entre pessoas dentro de abrigos, e estamos monitorando, tomando medidas. Realmente nos causa preocupação as pessoas confinadas por muito tempo. Mantemos equipes da Polícia Civil em patrulhamento, inclusive à noite, nos locais mais complicados. Temos situações pontuais, que estão sendo resolvidas pelas forças de segurança — afirma.
A corporação também convocou todos os servidores para que atuem neste momento, e suspendeu férias. Alguns dos pontos que receberam reforço policiais civis nesse período na Grande Porto Alegre foi o bairro Humaitá, na zona norte de Capital, e Canoas. No Interior as equipes também estão atuando em diversas áreas, como o Vale do Taquari, que teve municípios devastados pelas enxurradas. Em Arroio do Meio, também foram registrados saques a estabelecimentos.
Fake news
Um dos pontos que causa preocupação é a disseminação de notícias falsas nesse momento. Entre as fake News espalhadas pelas redes sociais, segundo a BM, está a de que o policiamento estaria multando e recolhendo embarcações usadas para resgates.
— Não recolhemos nenhum jet ski. Não há sentido algum. Nosso foco nesse momento é salvar vidas. Tivemos um vídeo divulgado em Canos, dizendo que a BM estava fiscalizando a carteira de arrais (habilitação para navegar). Isso não aconteceu. É muito importante que as pessoas se informem pelas páginas oficiais, que não acreditem em notícias falsas — alerta o subcomandante.
158 presos do semiaberto Charqueadas são liberados
Nesta segunda-feira (6), um grupo de detentos do regime semiaberto do Instituto Penal de Charqueadas percorria o trecho em direção a Capital a pé. Eles foram liberados após decisão judicial, que determinou que devem passar a ser monitorados por meio de tornozeleira eletrônica. A cena dos presos que passavam por áreas alagadas, andando em direção a Porto Alegre, foi flagrada pela reportagem da RBS TV.
Segundo a Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (Seapen), a decisão judicial foi concedida para 158 presos, em meio à enchente que atingiu Charqueadas. Foi concedida a prisão domiciliar emergencial, para os presos do regime semiaberto, que corriam risco de vida em razão do avanço da água. A tornozeleira eletrônica deverá, no entanto, ser instalada em até cinco dias. A secretaria confirmou que a situação atual não permitiu que fosse ofertado transporte aos presos para que eles deixassem Charqueadas.
A instalação das tornozeleiras deve ocorrer no Instituto Penal de Monitoramento, em Porto Alegre. Além da situação enfrentada em Charqueadas, segundo a Seapen, outra prisão que está isolada em razão das cheias é o Presídio de Arroio do Meio, no Vale do Taquari. O funcionamento da unidade segue normalmente, segundo o governo.