A Polícia Civil investiga um homem suspeito de praticar estelionato fingindo ser delegado. Para dar andamento na investigação, as autoridades precisam da colaboração das vítimas. No dia 26 de fevereiro a Polícia Civil achou uma delegacia falsa na casa de um foragido, em Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos. Essa foi a terceira vez que a 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) da cidade descobriu este tipo de cenário, com banner, camisetas e um distintivo que imitam os da polícia.
O delegado responsável pela investigação, Tarcísio Kaltbach, afirma que esses objetos servem para criar um cenário utilizado para aplicar golpes. Mas, até agora, não foi denunciado nenhum crime, nem encontradas evidencias que provem algum caso de estelionato. Por isso, a prisão do suspeito no dia 26 foi em flagrante por tráfico de drogas, posse ilegal de munição de uso restrito, uso indevido de uniforme e alusão simbólica à polícia.
— (Os objetos) são usados para a aplicação de golpes, não tem outro motivo para ter isso em casa. Mas, para acusá-lo formalmente disso, precisamos que alguma vítima apareça e denuncie — diz o delegado, que explica que muitas vítimas não denunciam por constrangimento, além de muitas vezes ainda acreditarem que o autor é de fato um policial.
A Polícia Civil afirma que nenhum policial entra em contato por mensagens ou ligação para informar sobre uma investigação. Ainda que o suspeito morasse em Novo Hamburgo, a polícia acredita que as vítimas não sejam unicamente da cidade, já que estes golpes são feitos remotamente, pela internet.
A Delegacia já recebeu contato de algumas pessoas que dizem serem vítimas deste tipo de golpe, mas ainda está apurando se esses estelionatos foram praticados pelo suspeito em questão.
O que se sabe
A princípio, a polícia acredita que o homem agia sozinho e ainda não foram encontradas ligações entre este e casos anteriores. Nestes, a polícia conseguiu confirmar a prática de estelionato.
A ação se daria da seguinte forma: os golpistas acusariam a vítima de um crime e pediriam dinheiro para não acusá-las e as prenderem. O delegado disse que não descarta que até criminosos podem ter sido vítimas do golpe.
— Ele poderia saber de um crime cometido, ou alguém que é envolvido, e usar isso contra a pessoa para extorqui-la — conta Kaltbach.
Golpe dos nudes
Mas não só criminosos são alvos do golpe das delegacias fake. Para culpar uma vítima de algum delito, estelionatários forjam situações como o golpe dos nudes.
O crime começa a partir de um convite de amizade de uma mulher jovem pelas redes sociais e o aí se inicia uma conversa. A troca de mensagens migra para o WhatsApp e os diálogos avançam para a troca de fotografias íntimas, popularmente conhecidas como nudes. A jovem então some e entra em cena o estelionatário, fazendo-se passar por um delegado.
Em outro número do aplicativo de mensagens e usando fotos de delegados de verdade, encontradas na internet, o suposto policial avisa que a jovem seria uma adolescente e que a vítima praticou crime de pedofilia ao trocar imagens íntimas com ela. A pessoa que se passa por delegado pede dinheiro para "arquivar a ocorrência".
Para fazer a vítima acreditar que fala com uma autoridade, os cenários e objetos falsos, que compõem a delegacia fake, são usados para gravar vídeos.
Outros casos
Em 27 de abril de 2022, no bairro Canudos, também em Novo Hamburgo, a Polícia Civil identificou que uma organização criminosa usava uma delegacia falsa para aplicar golpes e extorsões. No local havia mesa e cadeiras, computadores, impressoras, algemas, radiocomunicadores, armamentos falsos (fuzil e pistola), camisetas e canecas da Polícia Civil. Três suspeitos foram presos na época.
No dia 29, a segunda delegacia fake foi encontrada. Desta vez, no bairro Vila das Flores, onde um local clandestino também era usado para crimes de extorsão e estelionato. Na ação não foi encontrado ninguém no local, mas posteriormente os envolvidos foram identificados e indiciados.
Como não cair no golpe
- Evite iniciar conversas por meio de aplicativos de mensagens com perfis desconhecidos
- Não troque fotografias que possam ter conotação íntima por meio de aplicativos como WhatsApp ou Messenger
- Evite conversas por meio de aplicativos com prefixo telefônico desconhecido
- Policiais não irão mandar mensagens ou ligar para falar de investigações. Se a polícia lhe procurar, será intimado formalmente para ir até a delegacia
- Se alguém dizendo que é policial lhe procurar, ligue para a delegacia onde ele diz estar lotado
- Não faça depósitos, transferências ou pagamentos para desconhecidos
- Desconfie de pessoas desconhecidas que demonstrem interesse afetivo repentino
- Evite envolvimento ou namoro com pessoas que você não conhece pessoalmente
- Se for vítima de algum golpe ou de tentativa de abordagem desse tipo, procure a polícia e registre ocorrência
Fonte: Polícia Civil
* Produção: Camila Mendes