O salto de patrimônio exibido por um homem que entregava panfletos promovendo restaurantes no centro de Gramado, e, que de repente, passou a administrar cinco destes comércios em área nobre fez nascer a investigação que embasa a Operação Komendador, deflagrada na manhã desta sexta-feira (22), na serra gaúcha.
A reportagem apurou que o suspeito é genro de Jair de Oliveira, conhecido como Jair Cabeludo, um dos fundadores de uma facção com origem no Vale do Sinos. Para a Polícia Civil, os negócios estariam sendo usados para lavar dinheiro do crime organizado.
Pelo menos cinco restaurantes são alvo de mandados de busca e apreensão: Komendador, Casa Galo (em Gramado e no Litoral Norte), Condado e Contemporâneo – e mais uma casa de vestuário. Os cinco estabelecimentos estariam sob a administração do grupo suspeito. Policiais também fazem buscas na filial do Casa Galo em Xangri-lá e em uma casa em condomínio de alto padrão em Capão da Canoa, no Litoral Norte.
A polícia não revela os nomes dos investigados, mas GZH apurou que o esquema seria operacionalizado por uma filha de Jair Cabeludo, Camila das Neves de Oliveira, e pelo marido dela, Maiquel Carlos de Brito Pinheiro, com o uso de uma rede de “laranjas”, que ajudariam a dar aparência de legalidade aos negócios. O trio também é alvo da operação desta sexta-feira. Jair Cabeludo está preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Há suspeita de que Pinheiro investiu entre R$ 2 e R$ 5 milhões para alavancar os comércios, além de adquirir veículos de luxo – apenas dois deles somam em torno de R$ 2 milhões. Segundo a polícia, os investimentos estariam muito acima da capacidade econômica do suspeito, que começou a progredir financeiramente depois de passar pelo sistema prisional, onde foi acolhido por membros da facção investigada. Pinheiro tem antecedentes por tentativa de homicídio.
A investigação é da 2ª Delegacia de Polícia Regional do Interior (2ª DPRI), com sede em Gramado, em conjunto com a Delegacia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro do do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
— O objetivo é reprimir o branqueamento de capitais (processo utilizado por criminosos para encobrir a origem ilegal dos seus ativos) no ramo gastronômico, pois isso traz prejuízos aos empresários do setor, que atuam com esforço e dedicação para ofertar serviços de excelência. Não podemos tolerar que organização criminosa lance seus tentáculos em atividade econômica tão relevante para o turismo da região, considerada um dos principais destinos turísticos do Brasil — destacou o titular da 2ª DPRI, delegado Gustavo Celiberto Barcellos.
Conforme o delegado, a análise bancária indicou movimentações financeiras atípicas por parte do principal investigado.
— Foi possível detectar contas de passagem de valores, com entradas e saídas quase simultâneas. Também há uma situação de um funcionário humilde que teria recebido altos valores na conta — explicou Barcellos.
Um dos objetivos das buscas é recolher documentos que ajudem a entender o funcionamento dos negócios e a identificar quem faz parte da rede de laranjas, pessoas que emprestam seus nomes ou contas bancárias para os criminosos.
O diretor da Divisão de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro do Deic, delegado Cassiano Cabral, destacou a estratégia do departamento de expansão operacional em nível estadual:
— Trabalhando pelo enfraquecimento dessas células criminosas no Interior, temos, consequentemente, a fragilização dos comandos na Capital.
Além de 11 mandados de busca e apreensão, a Justiça autorizou a quebra de sigilos bancários, fiscal e bursátil (relacionado com a Bolsa de Valores) e de indisponibilidade de bens de investigados.
O presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias, Cláudio Souza, informou que nenhum dos restaurantes investigados é associado do sindicato, por isso, a entidade não irá se manifestar.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes foi na mesma linha:
_ A associação informa que nenhum dos restaurantes citados na operação é associado. A entidade vai acompanhar o caso e aguardar a ação policial. De acordo com a associação, até o momento, não há repercussão ao segmento.
O Sindicato dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de Gramado (Sintrahg) informou que está acompanhando as notícias e que está à disposição dos trabalhadores dos restaurantes investigados.
A reportagem fez contato com funcionários dos restaurantes, que disseram não estarem autorizados a falar nem a passar contato dos responsáveis pelo estabelecimentos.