Ao identificar Lucas Brum Irace como suposto líder do esquema de telentrega de drogas, a 3ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico (3ª DIN) passou a rastrear o caminho do dinheiro. Foi descoberta uma empresa em nome do criminoso que repassava altos valores a diversas pessoas, entre elas, os irmãos que atuam na rede de barbearias El Cartel Fernandes.
A Brum Locações e Transportes, uma empresa de aluguel de veículos, é, segundo a polícia, uma firma de fachada, montada por Irace para facilitar a movimentação de valores ilícitos. Ela receberia o dinheiro dos pagamentos da telentrega de drogas feitos em máquinas de cartão de crédito e débito. Tem como sede um apartamento em um prédio residencial de classe média no bairro São Geraldo. O endereço é ligado à mãe de Irace.
A investigação, que teve análise de dados bancários, indicou que da conta da empresa teria saído dinheiro diretamente para as contas pessoais dos irmãos Nicholas e Allan Berkai Fernandes. Em relação ao terceiro irmão, Erick, há indicativos de que receberia dinheiro em espécie quando morava em uma casa que, depois, foi vendida a Irace.
Este endereço, inclusive, é um dos alvos de buscas na Operação El Patron, deflagrada nesta quinta-feira (21) pela 3ª DIN. Erick também teria recebido na conta pessoal dinheiro transferido por um investigado que, conforme o delegado Gabriel Borges, é operador financeiro do líder do grupo.
A apuração indica que o dinheiro proveniente da venda de drogas circula nas contas de laranjas e empresas. No caso dos irmãos Fernandes, eles receberiam os valores para injetar na rede de barbearias, de forma a "limpar" o dinheiro ilícito. Depois, repassariam de volta ao grupo criminoso.
Dados bancários analisados apontam que pelo menos dois dos irmãos movimentaram milhões nas contas e também declararam rendimentos mensais abaixo do que autoridades encontraram. Além disso, houve alertas de instituições bancárias sobre movimentações atípicas, com centenas de depósitos fracionados — uma tática usada para burlar controle sobre transações de alto valor — e com dinheiro em espécie, o que dificulta a identificação da origem.
Até a rede ser alvo de outra ação policial, no ano passado, pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), representantes de unidades costumavam exibir nas redes sociais regalias e veículos, a maioria de alto valor. Erick, inclusive, promovia cursos para ensinar estratégias a barbeiros que quisessem alavancar seus negócios e lucrar com cortes de cabelo.
Em anúncios, a rede diz ter 10 unidades com lojas em Porto Alegre e no Rio. A polícia está fazendo buscas em, pelo menos, sete. A 3ª DIN prendeu Lucas Brum Irace no domingo (17), na Barra da Tijuca, no Rio. Erick também foi capturado na capital fluminense, em uma filial das barbearias em Copacabana.
— A Polícia Civil, por meio do DENARC, tem se destacado pela apreensão de grandes quantidades de drogas, armas e dinheiro, priorizando o combate das facções criminosas. Dessa forma, atinge as lideranças do crime organizado, os principais fomentadores da insegurança e violência no Estado — disse o delegado Alencar Carraro, diretor de Investigações do Narcotráfico.
Contraponto
O advogado Alencar Coletto Sortica, que defende Lucas Brum Irace, disse que vai se manifestar depois de ter conhecimento do teor da investigação.
O que diz o advogado Daniel Escalona Garcia, que defende os irmãos Erick e Allan Berkai Fernandes: ainda nao tive acesso ao expediente que motivou a operação. Mas até o momento, desde a ação do ano passado, não encontramos nenhuma prova material contundente. Erick foi preso trabalhando. Allan, em casa. São dois empresários trabalhadores.