Veículos, joias, relógios, armas e somas em dinheiros foram apreendidos na manhã desta terça-feira (12) pela Polícia Civil durante uma investigação de lavagem de dinheiro. Na Operação Repasse foram cumpridos 138 mandados de busca e apreensão no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, em São Paulo e no Mato Grosso do Sul. Pelo menos nove pessoas foram presas e 29 armas de fogo foram apreendidas durante a ofensiva. A investigação é da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Viamão.
Segundo a Polícia Civil, os investigados utilizavam empresas de diversos ramos, como revendas de veículos, para “esquentar” o dinheiro de facções criminosas e burlar o controle das movimentações financeiras. A polícia conseguiu identificar pelo menos R$ 127 milhões que teriam sido “lavados” dessa forma.
— Até o momento temos aqui (na Região Metropolitana) 24 veículos, sendo que no Litoral foi apreendido mais um, e também no Mato Grosso do Sul, totalizando um número bem expressivo de veículos que estavam com os investigados pela lavagem de dinheiro — afirma o delegado Rodrigo Bozzetto, diretor da 1ª Delegacia de Polícia Regional da Polícia Civil.
Entre os automóveis apreendidos, está, por exemplo, uma Range Rover Velar, com valor estimado em cerca de R$ 500 mil, segundo a polícia. Há ainda veículos das marcas Jaguar, BMW e Audi.
Além dos carros, a polícia encontrou quantia em dinheiro. Os valores foram apreendidos nas residências e empresas investigadas. Em Porto Alegre, durante o cumprimento de mandados de buscas num condomínio foram presos dois suspeitos. No local, foi recolhida uma quantia de dinheiro, além de joias e drogas. Também na Capital, a polícia localizou somas em dinheiro numa revenda de veículos na Avenida Bento Gonçalves.
Segundo a Polícia Civil, o valor apreendido é de cerca de R$ 1 milhão em moeda nacional, além de 16 mil euros e 7 mil dólares.
— O nosso objetivo da nossa operação nem era o número de prisões. É a asfixia financeira da organização criminosa que tentamos atingir nessa fase da operação. Essa apreensão de dinheiro, armas e veículos mostra o poderio da organização criminosa — afirma a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana.
Armas também foram apreendidas durante o cumprimento dos mandados. Até o fim da manhã tinham sido localizados 29 armamentos, entre eles pistolas de calibre 9 milímetros e um fuzil do mesmo calibre. A polícia localizou ainda com os investigados joias e relógios que, segundo a investigação, teriam sido adquiridos com os valores repassados pelo crime organizado.
— São fruto de valores do tráfico de drogas. Todo esse valor estava sendo lavado, tentando torná-lo lícito, nas mãos desses investigados pelo delito de lavagem de dinheiro — diz o delegado Bozzetto.
A investigação
Em maio de 2021, agentes da 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí apreenderam 181 quilos de drogas, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Os entorpecentes seriam distribuídos por uma facção criminosa na Grande Porto Alegre. Segundo a polícia, o local onde estavam armazenadas as drogas foi identificado após três meses de investigação. A maior parte da apreensão foi de maconha, mas havia cerca de 10 quilos de cocaína e crack.
A partir dessa apreensão, a polícia começou a apurar quem eram os envolvidos no esquema de tráfico. Foi assim que os agente chegaram a uma revenda de veículos na Grande Porto Alegre, na qual identificaram movimentações suspeitas.
— Tem vendedor de carro que movimentou na conta dele mais de R$ 15 milhões. Não é nem na conta da empresa, é conta pessoal. Denota que essas organizações acabam usando essas pessoas para movimentar o dinheiro — diz o delegado Guilherme Calderipe, da Draco de Viamão.
Uma das empresas investigadas teria movimentado milhões ao longo dos últimos anos. No entanto, segundo a investigação, o proprietário mantém uma situação financeira que não condiz com essa movimentação. Os nomes das empresas investigadas não são divulgados pela polícia porque o caso ainda está em fase de operação.
Os mandados
O Rio Grande do Sul concentra a maior parte das ordens judiciais cumpridas pela Polícia Civil, com mandados na Região Metropolitana, no Litoral Norte, no Norte e na Região Central. Na Grande Porto Alegre, a operação ocorre em cidades como Sapucaia do Sul, Gravataí, Cachoeirinha, Viamão, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapiranga e Parobé.
Mandados são cumpridos também em outros três Estados: Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e São Paulo — num total de 28 municípios. Nesses locais, além de policiais do RS, que viajaram para cumprir os mandados, a operação conta com o apoio de agentes locais. São cerca de 30 mandados fora do RS, sendo a maioria em Santa Catarina.
— Eles simulam os negócios, passando os carros para nomes de terceiros. Alguns veículos acabaram sendo transferidos para pessoas de Santa Catarina. E também carros de lá que foram trazidos para cá — explica Calderipe.
Descapitalização
As facções usam esquemas com o objetivo fazer parecer que esse dinheiro, obtido de forma ilegal, com a venda de drogas, seja resultado de atividades legais. Neste caso, por exemplo, com as revendas de veículos. Os criminosos empregam essa estratégia para dificultar que as irregularidades nas movimentações sejam detectadas pela Receita Federal, por exemplo.
O ataque às organizações criminosas por meio da descapitalização é uma das apostas da área da segurança pública na tentativa de enfrentar crimes violentos. Além de identificar e responsabilizar aqueles que estão envolvidos diretamente nas execuções e no tráfico, as investigações de lavagem de dinheiro têm como intuito fazer com que essas organizações tenham perdas financeiras, e, com isso, tenham seu poder enfraquecido.