A investigação de um ataque a banco em março de 2022, na Avenida do Forte, na zona norte de Porto Alegre, levou a Polícia Civil a mapear o patrimônio adquirido por uma quadrilha envolvida numa série de crimes no Estado. Na manhã desta quarta-feira (13), o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) desencadeou a Operação Intocáveis — Ultimato. A ofensiva ocorre no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná.
O grupo alvo da operação é um braço da facção criminosa com berço no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital. O objetivo da polícia com os mandados cumpridos nesta quarta-feira é principalmente apreender o patrimônio que foi adquirido pela quadrilha e buscar provas da prática dos crimes. Por meio da descapitalização da organização, a polícia espera coibir novas ações do bando, que demandam investimento, como os ataques a banco. A operação é resultado de uma investigação da 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos do Deic.
— A descapitalização, o ataque ao patrimônio das organizações criminosas, é o meio de atingir de forma mais contundente o crime organizado. O lucro obtido a partir da prática do crime é investido não só na vida luxuosa por parte desses criminosos, como também ele é reinvestido na prática de outros crimes, financiando conflito entre facções, financiando novos roubos, financiando armamento, tudo isso que implica na prática de novos delitos — explica o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Investigações do Deic.
Uma das medidas adotadas é o bloqueio de ativos em 59 contas bancárias, nas quais circularam valores entre R$ 200 mil e R$ 40 milhões, segundo a Polícia Civil. As quantias que constam nessas contas no momento do bloqueio ainda precisam ser informadas pelos bancos.
Um dos investigados, segundo a apuração, mantinha uma revenda de automóveis em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, que seria usada para a lavagem de dinheiro, e movimentou cerca de R$ 40 milhões.
Ainda durante a manhã, foram sequestrados seis imóveis, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Um deles é uma casa em Canela, na Serra, que tem valor estimado em R$ 3 milhões. O imóvel teria sido adquirido por meio de recursos obtidos com as práticas criminosas. Foram apreendidos ainda dois veículos, celulares, documentos e câmeras, entre outros. Os policiais seguem cumprindo os mandados na tentativa de localizar 63 aeronaves e embarcações (barcos e motos aquáticas) do mesmo grupo. Há ainda mandados para o sequestro de 59 criptoativos.
Em Santa Catarina, os mandados são cumpridos em Balneário Camboriú, enquanto no Paraná, as buscas são realizadas em Curitiba e Foz do Iguaçu. Nesses Estados os policiais realizam buscas em sedes de empresas. Há suspeita de que esses locais estariam sendo usados para a lavagem de dinheiro da organização criminosa. As ações contam com apoio da Polícia Civil do Paraná e de Santa Catarina.
Presos
Além das apreensões de bens, duas prisões em flagrante foram realizadas durante a manhã. Em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, os policiais localizaram uma plantação de maconha em estufas improvisadas. A apreensão aconteceu dentro de uma casa no Residencial Viver Bem.
Foram localizadas 16 plantas que eram mantidas num quarto com iluminação, irrigação e ventilação. Uma mulher foi presa em flagrante no local. Já em Encantado, no Vale do Taquari, um homem foi detido com uma pistola e um revólver.
Ao longo das investigações a polícia já havia realizado a prisão de outros suspeitos de envolvimento com o mesmo grupo criminoso. Em março de 2022, uma agência do Santander foi atacada por criminosos na Avenida do Forte, em Porto Alegre. O crime resultou na prisão em flagrante de quatro homens pelo ataque ao banco e um assaltante morto. Ao longo da apuração desse crime, a polícia acabou identificando outros delitos praticados por parte do mesmo grupo, como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Em dezembro de 2022, durante a Operação Intocáveis, foram presos cinco homens, suspeitos de envolvimento com o mesmo grupo. As apurações sobre a quadrilha seguiram, com a investigação de 62 pessoas por um ano e meio. A polícia descobriu assim que o grupo havia movimentado pelo menos R$ 123,7 milhões nos últimos anos.
— A gente identificou em contas de passagem, que é o método utilizado para lavagem dinheiro, o fluxo de mais de R$ 120 milhões. Temos identificados imóveis adquiridos pelos membros da organização criminosa. Isso demonstra o poderio do crime organizado. Já ficou muito claro para a segurança pública que o efeito da prisão obviamente é importante, mas conseguimos atingir de forma mais contundente quando retiramos o patrimônio do crime — diz o delegado Moreira Neto.
Ataque a banco
Cinco homens atacaram uma agência do banco Santander, na Avenida do Forte, na Vila Ipiranga, zona norte de Porto Alegre, na manhã de 16 de março de 2022. Um dos assaltantes foi baleado durante a fuga e morreu; outros quatro foram presos. Os criminosos invadiram a agência antes da abertura e fizeram funcionários reféns.
Da rua, pessoas que passavam pelo local chamaram agentes da 14ª Delegacia de Polícia, que fica na mesma avenida, distante cerca de 200 metros. Segundo o delegado João Paulo de Abreu, da 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), havia cerca de duas dezenas de funcionários dominados pelos bandidos.
Quando perceberam a ação da polícia, os bandidos retornam à agência bancária e passam a buscar um meio para fugir. Os assaltantes chegaram a disparar contra um vidro, na tentativa de fugir pelo telhado ao lado da agência. A Polícia Civil e a Brigada Militar conseguiram ingressar no local e prender os criminosos.