Uma operação desencadeada nesta terça-feira (5) combate uma quadrilha suspeita de cometer roubos de carga de cigarro em Porto Alegre e Região Metropolitana. Os criminosos teriam praticado ao menos 40 assaltos e causado um prejuízo de R$ 3 milhões. Os delitos são cometidos durante o transporte do produto, quando motoristas são abordados. O grupo é considerado o maior no ramo de roubo a carregamento de cigarro, conforme o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil.
A ação desta terça busca cumprir 70 ordens judiciais, sendo 40 mandados de busca e apreensão e 12 de prisões preventivas, em Porto Alegre, Cachoeirinha e Gravataí. O departamento também conseguiu autorização judicial para quebras e sequestros de bens, como de quatro veículos utilizados pelos suspeitos. Entre os alvos da ofensiva, estão um homem apontado como líder da organização criminosa e outros suspeitos que trabalhavam como funcionários da BAT Brasil, anteriormente conhecida como Souza Cruz, suspeitos de facilitar os assaltos.
Até as 6h20min, 10 pessoas já haviam sido presas na ação que conta com a atuação de 157 policiais civis. O trabalho segue em andamento, desde a madrugada, coordenado pela Delegacia de Repressão a Roubo e ao Furto de Cargas (DRFC), do Deic. A titular é a delegada Isadora Galian.
Empresa colaborou com investigação
Conforme a Polícia Civil, a primeira fase da operação Mellarius, nesta terça, contou com apoio da empresa Souza Cruz, que ajudou no "repasse de informações importantes para o desmantelamento da quadrilha". A investigação ocorre há cerca de um ano.
— O trabalho de combate tem sido feito sempre em parceria com as empresas, em uma união do público com o privado. Temos conseguido fazer essa interlocução com as empresas, que ajuda na coleta de informações e resulta especialmente na identificação de funcionários suspeitos de participação nos delitos — pontua o diretor da Divisão de Investigação do Deic, delegado Eibert Moreira Neto.
Em nota, a BAT Brasil afirmou que "atua em colaboração com as autoridades competentes prestando todas as informações solicitadas para o enfrentamento da criminalidade".
"Especialmente no Rio Grande do Sul, essa parceria se traduz nos resultados muito positivos alcançados no combate ao roubo de cargas", finaliza o texto.
Funcionários participavam de esquema
Para articular os assaltos, o grupo criminoso contava com a participação de dois motoristas da Souza Cruz, que atuavam regularmente como funcionários da empresa e repassavam informações privilegiadas a quadrilha. Os dois já foram desligados da empresa, conforme a polícia. Um dos motoristas tem antecedentes por tráfico de drogas, e o outro não tem passagens.
Dos outros 10 alvos, a maioria possui antecedentes policiais. O homem apontado como líder da organização criminosa, por exemplo, tem oito passagens por roubo de cargas, um por porte ilegal de arma de fogo e três por receptação.
Conforme o Deic, apesar da redução de 60% dos roubos de carga em 2023 (na comparação com 2022), a DRFC segue trabalhando para "desmantelar todas as organizações criminosas que ainda insistem em praticar crimes dessa natureza, por meio de de provas robustas, prisões preventivas e aniquilamento do patrimônio, obtido com o desempenho das atividades ilícitas".
Quadrilha especializada
Conforme o Deic, a quadrilha alvo da ação é especializada em roubo de carga de cigarro e a maior em atuação no Estado. O grupo pratica os crimes em diversas cidades gaúchas, como Porto Alegre, Eldorado, Gravataí, Esteio, Viamão, Sapucaia do Sul, Canoas, Cachoeirinha, Taquara, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Guaíba, e demais locais.
A investigação policial ocorre há pelo menos um ano, e identificou os membros do grupo, que conta com mais de 20 integrantes. Eles cometeram ao menos 40 roubos do tipo.
Modus Operandi
A conduta do grupo se repete nos assaltos, segundo a polícia. O crime ocorre durante a entrega do produto, quando motoristas fazem o transporte dos cigarros do depósito das empresas até os lojistas. Em via urbana, o furgão das empresas é interceptado.
Os criminosos normalmente estão a bordo de uma Fiat Fiorino branca, roubada e clonada, em dupla. Eles se aproximam do veículo da empresa e determinam que o motorista os acompanhe, dirigindo, até uma rua mais deserta, onde descarregam as caixas de cigarro para o carro da quadrilha.
No geral, os indivíduos sequer ingressam no veículo da empresa de cigarro, e quando o fazem utilizam luvas, casaco e máscaras. Em alguns casos, os funcionários eram obrigados pelos criminosos a ajudar a descarregar a mercadoria e trocá-la de veículo.
Depois do transbordo da carga, os indivíduos ordenam que o motorista volte para o veículo da empresa, enquanto fogem. Segundo a polícia, em alguns casos, as vítimas ainda acabam sendo trancadas dentro dos furgões das empresas, para que os criminosos ganhem tempo de fuga.
Troca de placas
Os criminosos ainda contavam com uma estratégia para, após o assalto, despistar a polícia. No veículo usado por eles no crime, os indivíduos prendiam ao menos três placas, uma em cima da outra. Ao longo do caminho, iam retirando-as e fazendo "com que o veículo sumisse" após o fato, explica a polícia.