O bairro Cecília, em Viamão, perdeu uma de suas pessoas mais queridas no último dia 15. Beta, como era conhecida Maria Gualbertina de Borba de Mello, 65 anos, era animada e vaidosa, comandava sozinha um comércio na região e sempre tirava um tempo para ajudar amigos e familiares, conforme o relato de pessoas próximas. Elas ainda tentam entender como sua trajetória ceifada de forma tão violenta e repentina: assassinada a golpes de faca na manhã de uma quinta-feira, pelas mãos do companheiro. Duas semanas depois, quem a conheceu ainda está incrédulo diante do caso.
O companheiro da vítima é apontado como autor do crime. O nome dele não foi divulgado, mas a reportagem apurou que trata-se de Ederson Borges de Oliveira, 30 anos. Ele está preso desde o dia do crime e foi indiciado por homicídio qualificado (feminicídio) pela Polícia Civil na semana passada. GZH busca contato com a defesa (confira mais detalhes abaixo).
Beta foi morta no mesmo local onde trabalhava de domingo a domingo, no comércio que mantinha havia quase 10 anos na Avenida Plácido Motim. Ela morava em uma casa atrás da loja na qual vendia frango assado, em kits com salsichão, maionese e polenta. Quando não estava na loja, Beta fazia costuras, conta a amiga Lucia Maria dos Santos Soares, 60:
— Era trabalhadora, guerreira. De manhã cedo, já estava ali para trabalhar, todos os dias, sábado, domingo. Tocava sozinha o negócio e ainda ajudava muita gente. O frango que sobrava, ela desfiava, botava num molho e depois no pão, e doava para quem precisava. Fazia café para pessoas mais pobres. Ela ajudava todo mundo no bairro. Quando minha filha engravidou, foi uma mãezona para ela, eram vizinhas, e a Beta ajudou muito. Nos tornamos muito amigas.
Lucia conta que as duas tinham se visto havia poucos dias, no Carnaval, e planejavam uma viagem ao Litoral Norte no começo de março. Lá, visitariam os dois filhos de Beta, por quem ela era apaixonada.
Segundo a amiga, a comerciante gostava de passear e, vaidosa, gostava de cuidar de si.
— Todo mundo ficou chocado, foi a maior surpresa do mundo. Eu não acreditava quando me contaram, achei que tinha sido um assalto no comércio, algo assim. É uma coisa muito triste. Ela o amava, estava apaixonada. Dizia que era o amor da vida dela — lembra a amiga, referindo-se ao companheiro de Beta.
Lucia relata que o casal estaria junto havia cerca de um ano, e que a vítima não teria relatado agressões anteriores. Beta também não tinha feito boletim de ocorrência contra o homem, segundo a polícia.
Uma familiar da vítima, que preferiu não se identificar, também falou sobre a perda repentina da comerciante. Segundo ela, Beta fazia as pessoas se sentirem bem, e por isso tinha muitos amigos:
— Era inteligente e carinhosa, muito, muito alegre. Todas as pessoas sempre se sentiam bem ao lado dela. Era organizada e trabalhadora, estava sempre preocupada com os outros. Nos falávamos todos os dias, e ela estava sempre disposta a me ouvir, abraçar, cuidar. Era a minha melhor amiga. Deixou um silêncio muito grande no meu coração.
Nas redes sociais, amigos e familiares de Beta lamentam a perda, se dizem desolados e afirmam que têm dificuldade de acreditar na forma violenta como a vítima foi morta.
Assassinada dentro de casa
Conforme a polícia, a mulher foi mortas a golpes de faca dentro do local onde vivia. O caso ocorreu no começo da manhã do último dia 15, em Viamão, na Região Metropolitana.
Com a faca, o suspeito ainda teria decapitado a vítima, que teve o corpo encontrado pelas equipes dentro do imóvel. O homem foi preso em flagrante saindo da casa, com o objeto. Ao ser ouvido pelas equipes em depoimento, o homem admitiu que matou a companheira, segundo a polícia.
No último dia 22, Ederson Borges de Oliveira foi indiciado por homicídio qualificado pela Polícia Civil, por meio da delegacia de atendimento à Mulher de Viamão. O documento é analisado pelo Ministério Público do Estado (MP-RS). O homem segue preso, em unidade de Canoas.
GZH apurou que o homem possui antecedentes por roubo e por agressão a própria mãe, em 2011.
Contraponto
A reportagem questionou o Tribunal de Justiça sobre quem é o advogado responsável pela defesa de Oliveira, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. A Polícia Civil de Viamão informou apenas que não foi procurada por nenhum advogado neste caso.