Três médicos foram assassinados a tiros na madrugada desta quinta-feira (5) na cidade do Rio de Janeiro. Uma quarta vítima do ataque ficou ferida e foi encaminhada ao hospital.
Segundo a Polícia Militar, o grupo estava em um quiosque na orla da Barra da Tijuca, na zona oeste da capital fluminense, quando homens em um carro pararam no local e dispararam contra as vítimas.
Veja o que se sabe sobre o crime até o momento:
Onde e quando ocorreu o crime?
O ataque ocorreu no começo da madrugada desta quinta-feira no Quiosque do Naná, na Avenida Lúcio Costa, na praia da Barra da Tijuca, entre os postos 3 e 4, em frente ao Hotel Windsor. O estabelecimento fica na zona oeste do Rio.
Como foi o ataque?
Conforme imagens de câmera de segurança obtidas pelos policiais (veja acima), os médicos estavam no quiosque na orla da Barra da Tijuca quando homens em um carro branco pararam no local e dispararam.
Era 0h59min quando o veículo se aproximou e parou sobre a faixa de pedestres em frente ao estabelecimento. Três homens aparentemente encapuzados desceram do veículo e foram em direção aos médicos para efetuar os disparos. Alguns dos criminosos atiraram várias vezes. Segundo as imagens, menos de 30 segundos depois, os atiradores embarcaram no automóvel e fugiram.
De acordo com o g1, a perícia colheu 33 estojos de pistola calibre 9 mm no local. Nada foi levado das vítimas.
Quem são os mortos?
- Diego Ralf de Souza Bonfim, 35 anos, era graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina Dr. Domingos Leonardo Cerávolo, da Universidade do Oeste Paulista. Era especialista em reconstrução óssea pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Era irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
- Marcos de Andrade Corsato, 62, era médico assistente do grupo de Tornozelo e Pé do IOT da FMUSP. Ele realizou graduação e mestrado em ortopedia e traumatologia na USP. Era membro titular da Federación Latinoamericana de Medicina y Cirugia de la Pierna y Pie, membro da National Geographic Society e membro titular da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé.
- Perseu Ribeiro Almeida, 33, era formado em Medicina pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Salvador, realizou residência em ortopedia e traumatologia e se especializou em cirurgia em pé e tornozelo pelo IOT da FMUSP. Era membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
Quem é o sobrevivente?
- Daniel Sonnewend Proença, 32, foi atingido por, pelo menos, três tiros e levado com vida para um hospital. O estado de saúde dele era estável na manhã desta quinta. Formado pela Faculdade de Medicina de Marília (SP) em 2016, é especialista em cirurgia ortopédica.
O que eles faziam no Rio?
Os médicos não atuavam no Estado do Rio de Janeiro. Eles estavam na cidade, hospedados no Hotel Windsor, que fica em frente ao local do ataque, para acompanhar o 6º Congresso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva do Pé e Tornozelo.
Quem investiga o caso?
Em coletiva de imprensa, o secretário estadual de Polícia Civil do Rio de Janeiro, José Renato Torres, afirmou que os homicídios não ficarão impunes. Segundo ele, todas as equipes da corporação estão à disposição do Departamento de Homicídios para elucidar o crime.
Por determinação do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, e do delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, a Polícia Civil de São Paulo enviou duas equipes para auxiliar nas investigações dos assassinatos, incluindo delegados e peritos. Outros policiais civis também devem auxiliar na realização de diligências ao longo dos próximos dias na capital paulista. A ideia é levantar informações sobre a vida pregressa das vítimas.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal (PF) acompanhe as investigações do caso. Em rede social, Dino citou a "hipótese de relação com a atuação de dois parlamentares federais" — uma das vítimas, Diego, é irmão da deputada Sâmia Bomfim, que é casada com o também deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ).
Qual a principal linha de investigação?
A principal hipótese da polícia para a motivação do assassinato dos três médicos é de que um dos profissionais pode ter sido confundido com um miliciano. A tese foi compartilhada por investigadores do Rio com agentes de São Paulo que prestam apoio ao inquérito.
O médico Perseu Ribeiro Almeida pode ter sido confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, filho de Dalmir Pereira Barbosa. Segundo o g1, Dalmir é apontado por autoridades policiais como um dos chefes de uma milícia que atua na zona oeste do Rio. Perseu e Taillon têm fisionomia similar.
Momentos antes dos assassinatos, a Polícia Civil do Rio interceptou, durante investigação que já estava em andamento sobre milicianos que atuam na zona oeste do Rio, uma conversa telefônica que os investigadores consideram um indício de que as vítimas foram mortas por engano. Na ligação, um homem diz a outro que "acho que é posto 2" e recebe uma resposta que é inaudível.
Segundo a polícia, o contato é entre dois homens ligados à milícia e ao tráfico. Um deles teria recebido a informação de que Taillon estava no Quiosque do Naná e tentava explicar o local para um comparsa incumbido de matá-lo. O quiosque, no entanto, fica entre os postos 3 e 4 da orla da Barra da Tijuca.
Outro indício de que o crime tem relação com uma facção criminosa é que o carro usado no ataque, um Fiat Pulse branco, foi rastreado pela polícia e seguiu até a favela de Cidade de Deus, que é uma base do Comando Vermelho.
Outras linhas de investigação, no entanto, ainda não estão descartadas.
Repercussão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou por meio do X (antigo Twitter):
"Recebi com grande tristeza e indignação a notícia da execução de Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida na orla da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, na madrugada desta quinta-feira. As vítimas estavam na cidade para um Congresso Internacional de Ortopedia. Minha solidariedade aos familiares dos médicos e a deputada Sâmia Bomfim e ao deputado Glauber Braga. A Polícia Federal, sob determinação do ministro Flávio Dino, está acompanhando o caso."
O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, escreveu nas redes sociais que determinou ao secretário de Polícia Civil o emprego de "todos os recursos necessários para chegar à autoria do crime bárbaro":
"Entrei em contato com o ministro da Justiça, Flavio Dino, que colocou a Polícia Federal à disposição das investigações. Vamos unir forças para chegar à motivação e aos autores. Esse crime não ficará impune!"
Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança, postou:
"Sobre a execução dos médicos, conversei agora com o governador do Rio, Cláudio Castro. Polícia Civil já realizando diligências investigatórias. Polícia Federal também. Secretário Executivo do MJ, Ricardo Cappelli, irá ao Rio e reunirá com a direção da PF e com o governo do Estado. Eu estou indo para a Bahia, reforçar ações lá. Reitero a minha solidariedade aos familiares de todas as vítimas."
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) divulgou uma nota em que lamenta os assassinatos:
"O Cremesp lamenta profundamente o ocorrido e espera que a Justiça seja feita. Atos de crueldade e violência como os praticados contra esses médicos são inaceitáveis e não podem ficar impunes. O Conselho também encaminhará ofícios na presente data ao Ministério da Justiça e à Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro cobrando rigor nas investigações, visando acelerar a apuração do ocorrido", diz a nota.
A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) também divulgou uma nota em que manifesta "repúdio e pesar". "A SBOT ressalta a sua preocupação diante de mais um caso de violência no país".
Também em nota, a Associação Médica Brasileira (AMB) afirmou que recebeu com consternação a notícia dos assassinatos dos médicos nesta madrugada. "É mais um episódio chocante, produto da violência sistêmica que historicamente parece ser negligenciada no país", afirmou a entidade pedindo celeridade na investigação e na apuração dos fatos e a punição dos criminosos.