Ao longo de dois anos, um aposentado morador da Região Metropolitana viveu coagido por um grupo criminoso. Bandidos ameaçavam incendiar a residência onde vivia o filho dele, usuário de drogas, em Gravataí. Amedrontado, o pai acabou cedendo à pressão e realizou série de transferências. O ápice da extorsão aconteceu quando bandidos sequestraram o rapaz, e passaram a exigir novos pagamentos. No total, cerca de R$ 150 mil foram enviados à quadriha.
Na manhã desta quarta-feira (11), a Polícia Civil desencadeou uma operação para prender os dois suspeitos de sequestrarem o jovem. Segundo o delegado Eduardo Amaral, da 1ª Delegacia de Polícia de Gravataí, além das duas prisões preventivas, são cumpridos 13 mandados de busca e apreensão, além de nove bloqueios bancários. O caso chegou ao conhecimento da polícia há cerca de três meses.
Até o início da manhã, durante a Operação Kidnapped — o nome da ofensiva faz referência à "sequestrado" em inglês — um dos investigados tinha sido preso e outro seguia foragido. Também foram apreendidos materiais relacionados ao tráfico de drogas, como pinos (usados para armazenar entorpecentes), rádios comunicadores, munições e balanças de precisão, além de um drone, dinheiro em espécie e celulares. A ação contou com apoio da Brigada Militar.
— Essa modalidade, de sequestrar um dependente químico, e exigir dinheiro da família é incomum. É mais comum a questão da extorsão em si, por telefone. Muitas vezes de criminosos de dentro das prisões. Mas a situação do sequestro de um familiar foi mais audaciosa e grave — diz o delegado.
As extorsões do aposentado começaram há pouco mais de dois anos. Os bandidos, segundo a polícia, conseguiram o contato de telefone e passaram a exigir que ele fizesse pagamentos. Ameaçavam incendiar a casa do filho com ele dentro, caso não fossem feitas as transferências.
— Passaram a exigir dinheiro com pretexto de dívida de tráfico. Começaram até mesmo a criar dívidas que não existiam. Descobriram uma fonte fácil de dinheiro. E o pai sempre cedia — explica o delegado Amaral.
Sequestros
Ao longo desse período, os traficantes partiram para empreitadas mais violentas. Por três vezes, mantiveram o rapaz em cativeiro, exigindo que o pai pagasse o resgate. Foram realizadas pelo menos 13 transferências para os criminosos. A polícia conseguiu comprovar que foram repassados R$ 97 mil somente neste ano. Mas os valores, segundo o aposentado, chegaram a R$ 150 mil.
— Em maio deste ano, o filho foi sequestrado pela terceira vez. Levaram até uma casa, num beco. Ele teve as mãos amarradas, colocaram um saco em sua cabeça e apontaram uma arma para o rosto. Tiraram uma foto e enviaram ao pai dele — detalha o delegado.
Durante o sequestro, o pai fez as duas últimas transferências, que somaram R$ 23 mil. Após o pagamento, o filho foi libertado e internado numa clínica de reabilitação em outro município.
Alvos
Além das prisões dos dois suspeitos de terem cometido o último sequestro do rapaz, a polícia tem como alvo de mandados de busca nesta quarta-feira pessoas que receberam em suas contas as transferências dos pagamentos. Durante a investigação, a Polícia Civil descobriu ainda que os mesmos investigados já tinham histórico por extorsão numa situação semelhante. Uma senhora passou a ser extorquida por criminosos que ameaçavam matar seu filho. Mais tarde, a mãe descobriu que ele já estava morto.
— Eles já vêm se valendo desse tipo de extorsão para exigir dinheiro das pessoas — diz o delegado.
O principal investigado, segundo a polícia, é o filho de outro criminoso, e recebeu um dos pagamentos na própria conta. Os mandados são todos cumpridos no município de Gravataí, onde atua o grupo vinculado a uma facção. Entre os locais nos quais os policiais estão realizando buscas, está a casa que teria sido usada como cativeiro.
— Neste caso, ele achou que pagando iria resolver. Mas não se negocia com criminoso. Não há nenhuma garantia de que aquilo vai ser resolvido, de que eles vão cumprir o que prometem. O objetivo desses criminosos, seja com o tráfico ou com a extorsão é um só: dinheiro fácil. No primeiro contato do criminoso, a pessoa tem que buscar auxílio junto à polícia. Neste caso, soubemos quando ele já estava numa situação crítica e depois de ter um prejuízo econômico significativo — afirma Amaral.
Os suspeitos são investigados pelo crimes de extorsão e extorsão mediante sequestro. Na operação, a polícia busca outros materiais que possam auxiliar a identificar mais pessoas do grupo criminoso envolvidas nos crimes.
Como denunciar
Informações anônimas podem ser repassadas à Polícia Civil pelo Disque Denúncia no 181 ou pelo telefone 051-98444-0606 (WhatsApp Telegram).