Seis pessoas são apontadas como envolvidas no ataque a tiros a um promotor de Justiça em Teutônia, no Vale do Taquari. Jair João Franz foi alvejado por disparos de arma de fogo quando chegava em casa na noite de 17 de agosto. O grupo foi denunciado nessa quinta-feira (28) pelo Ministério Público pelos crimes de tentativa de homicídio e formação de organização criminosa. Segundo a acusação, dois deles teriam sido os mandantes do crime — uma advogada e um homem que já estava preso, que seria um dos chefes de uma facção.
Os quatro principais investigados, agora denunciados, estão presos preventivamente. Entre eles estão a advogada Daiana Silva Toledo e José Izidoro Kovalski, que já se encontrava no sistema prisional quando o atentado aconteceu. Os dois são apontados pelo MP como os mentores desse crime. O preso teria sido o responsável, segundo a denúncia, por chefiar o ataque ao promotor de dentro da prisão.
Conhecido como Dedé, Kovalski cumpria pena na Penitenciária Estadual de Arroio dos Ratos. Segundo a investigação, o preso integra facção com berço no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre, e seria um dos líderes da organização no Vale do Taquari. Conforme a acusação, o preso e a advogada teriam decidido assassinar Franz em razão da atuação profissional dele. Daiana atuava na defesa de Kovalski.
Desavenças entre a advogada e o promotor já ocorriam ao menos desde 2018. Naquele ano, numa postagem nas redes sociais, Daiana alegou que Franz a havia agredido num evento público para retirar o celular das mãos dela. A defesa da advogada admite a inimizade, mas nega que ela tenha sido a mandante do crime.
Cerca de 15 tiros foram disparados no momento em que o promotor entrava de carro na garagem de casa, após um jogo de futebol. Um dos disparos acertou o braço de Franz e se alojou no abdômen. O ataque foi registrado por imagens de uma câmera de segurança. o promotor chegou a ser hospitalizado em Estrela, município vizinho a Teutônia, passou a noite na unidade e recebeu alta na manhã seguinte. Franz segue afastado das atividades desde então.
O grupo
Está ainda entre os denunciados Eliandro Maria Vedoy da Silva, último a ser preso e apontado como o executor do crime, segundo a Polícia Civil. Ele foi detido em Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, na noite de 28 de agosto, na semana seguinte às primeiras prisões. Em depoimento, Silva permaneceu em silêncio.
Outro denunciado é Éder de Souza Lucas, que chegou a ser investigado como possível autor dos disparos. Mas, durante a investigação, a polícia apontou que ele teria sido um dos responsáveis por executar outras tarefas para a concretização do atentado, como vigilância. Ainda foram denunciados outros dois investigados, um deles por dar guarida ao executor e outro por fornecer um celular e a motocicleta usada no crime. Os nomes desses dois últimos não foram informados pela polícia e nem pelo MP.
Os crimes
Os seis foram denunciados por tentativa de homicídio qualificado. As qualificadoras são:
- Motivo torpe - Segundo a denúncia, a motivação do crime seria a vingança pelo trabalho realizado pelo promotor, que já havia processado alguns dos denunciados.
- Emboscada - A denúncia aponta que o atirador ficou à espreita da vítima em um matagal, em frente à residência, e logo que identificou a sua chegada passou a atirar.
- Uso de recurso que dificultou a defesa da vítima - Segundo a denúncia, foram disparados 15 tiros em direção ao veículo.
- Emprego de arma de uso restrito - O promotor foi alvejado com uma pistola 9 milímetros, que voltou a ser de uso restrito em julho deste ano, após decreto federal.
Organização criminosa
Os seis também respondem pelo crime de organização criminosa. Segundo a denúncia, o grupo "tinha o fim de obter vantagem econômica com a exploração do tráfico de drogas" e se utilizava de "intimidação por meio de outros delitos para obtenção de domínio territorial, a fim de alcançar o lucro final”. A denúncia aponta ainda que as provas obtidas permitiram "não apenas a apuração dos autores deste crime", como a "identificação de um grupo criminoso plenamente organizado para fins de cometimento de delitos das mais diversas naturezas, inclusive planejamento e execução de autoridades”.
Contrapontos
O que diz a defesa de Daiana Silva Toledo
O advogado Ezequiel Vetoretti afirmou no fim de agosto que Daiana tinha inimizade com o promotor, mas negou envolvimento dela com o crime. Nesta sexta-feira (29), Vetoretti informou que a defesa não pretende se manifestar sobre a denúncia neste momento.
O que diz a defesa de José Izidoro Kovalski
GZH entrou em contato com o advogado Rodrigo Torres nesta sexta-feira e aguarda retorno. Em manifestação anterior, o advogado defendeu a inocência do cliente e afirmou que os indícios de autoria eram "precários". Disse ainda que a defesa buscaria "sua absolvição total através do devido processo legal proporcionado em juízo".
O que diz a defesa de Éder de Souza Lucas
GZH entrou em contato com o advogado que fez o acompanhamento de Lucas durante a audiência de custódia, mas o profissional informou que não atua mais no caso. A reportagem tenta contato com a nova defesa constituída pelo investigado.
O que diz a defesa de Eliandro Maria Vedoy da Silva
Em depoimento, o suspeito optou por permanecer em silêncio. GZH busca contato com a defesa do denunciado.
O que diz a OAB
Após a divulgação do caso, a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul emitiu nota na qual afirma que "não admite nenhum tipo de violência ou atentado contra qualquer pessoa e/ou autoridades públicas, sobretudo quando relacionado ao exercício profissional".