A filha, o genro e a ex-mulher de um agricultor de Segredo, no Vale do Rio Pardo, irão a júri neste mês por dois homicídios. Em 26 de maio de 2020, José Darício de Souza, 43 anos, e o peão da propriedade Mazonde Rodrigues de Nepomuceno, 64, foram mortos a tiros. Para tentar encobrir os assassinatos, segundo a acusação, os autores teriam forjado um assalto. O crime, conforme a denúncia do Ministério Público, teve motivação financeira.
Calinca Maria Lopes de Souza, 26 anos, a mãe dela Hulda Maria Lopes de Souza, 43, e João Ricardo Prestes, 29, companheiro da jovem, estão presos pelos crimes. A filha, quando foi ouvida ainda em 2020, admitiu à polícia ter planejado o assassinato do pai. O motivo seria o seguro de vida que ela receberia após a morte do produtor rural.
Os três réus e serão submetidos ao Tribunal do Júri no dia 25 de setembro. O julgamento será realizado no Fórum de Sobradinho, também no Vale do Rio Pardo. Eles respondem por homicídio triplamente qualificado — o genro é acusado ainda de furto qualificado, pois teria levado após o crime uma chaleira elétrica, uma televisão e um celular.
Além dos três que serão julgados neste mês, há ainda um quarto réu que responde a processo separado. Ele é apontado como o matador que teria sido contratado por R$ 5 mil para executar o crime.
Um dos responsáveis pela acusação, o promotor de Justiça Renan Loss aponta Calinca e Hulda como responsáveis por planejar a execução.
— A filha e a ex-mulher concorreram para o crime na medida em que foram as mandantes e as arquitetas do plano macabro de assassinato. Elas que arregimentaram o executor. A filha ainda levou o assassino de aluguel até o local das execuções, e a ex-mulher forneceu o carro utilizado no dia — diz o promotor.
Segundo a denúncia, os réus teriam forjado um assalto à propriedade de José Darício, na localidade de Rincão Nossa Senhora Aparecida. A filha e o genro teriam buscado em Candelária, no carro da ex-mulher do agricultor, o matador de aluguel previamente contratado. Depois, os três teriam seguido até a propriedade.
Lá, filha e genro, simulando uma visita ao agricultor, desceram do carro e atraíram ele e seu funcionário para uma conversa dentro da casa. Na sequência, o matador de aluguel entrou na residência e, fingindo tratar-se de um assalto, amarrou José Darício.
— O genro do agricultor prestou auxílio à prática da infração penal aos demais comparsas, desde a preparação do delito, seja dirigindo o veículo da ex-mulher do agricultor até Candelária para buscar o assassino de aluguel, seja fornecendo cordas para amarrar as vítimas e até amarrando uma delas — complementa o promotor Eugênio Paes Amorim, também responsável pela acusação.
O genro teria amarrado o empregado durante o falso roubo. O matador teria levado José Darício e Mazonde para o pátio, ambos com as mãos amarradas para trás, e atirado na nuca dos dois. Os três réus teriam escapado do local no mesmo carro em que chegaram.
O crime foi descoberto no dia seguinte, quando dois transportadores de tabaco foram até a propriedade e encontraram os corpos.
Motivação financeira
A motivação dos assassinatos, conforme a acusação, teria sido financeira, já que os denunciados pretendiam, com a morte do agricultor, receber uma apólice de seguro de vida em nome dele.
A desconfiança sobre a participação da filha no crime surgiu logo após as mortes, quando a polícia suspeitou do comportamento de Calinca. A jovem, segundo a polícia, aparentava frieza.
Num primeiro momento ela negou participação no crime. Três dias depois, acabou admitindo ter planejado a execução do pai. Em depoimento, segundo a polícia, ela contou que planejava havia dois meses a morte do agricultor. Inicialmente, Calinca e o companheiro foram presos. Alguns dias depois, Hulda também foi detida, por suspeita de envolvimento no assassinato do ex-marido.
Ao ser levada para a delegacia, Hulda afirmou que sabia do plano da filha. A mulher estava separada de José Darício havia cerca de dois meses quando aconteceu o crime. Em depoimento à polícia, a mulher disse que a família estava brigando pela divisão do patrimônio que incluía a propriedade rural, veículos, dinheiro no banco e a safra de fumo daquele ano. Ela disse que achava que sairia perdendo na divisão patrimonial porque o ex-marido teria dito que ela ficaria sem nada.
O júri
O julgamento está previsto para se iniciar às 8h do dia 25 de setembro. A primeira etapa será o sorteio dos nomes dos sete jurados que vão integrar o Conselho de Sentença. Logo depois, começarão a ser ouvidas as seis testemunhas. Pelo Ministério Público, foram indicadas duas para falarem no júri e pelas defesas dos réus serão quatro.
Após as oitivas, os três réus poderão falar sobre o processo — eles podem permanecer em silêncio, se assim desejarem. Em seguida, iniciam-se os debates, quando a acusação terá duas horas e meia para apresentar os argumentos. As três defesas, juntas, terão o mesmo tempo. Caso haja réplica e tréplica, o tempo é de duas horas para o MP e as defesas.
Contraponto
GZH tenta contato com as defesas dos réus sobre o caso.