Um adolescente de 17 anos e uma menina de cinco anos morreram baleados na manhã deste sábado (12) após ações da Polícia Militar na Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro. Moradores afirmam que ambos os casos tiveram ação direta dos agentes, mas a corporação diz que não houve operação onde a criança morreu — ela foi atingida dentro da própria casa, na Comunidade do Dendê.
Os casos ocorrem menos de uma semana após um menino de 13 anos ser morto em uma operação policial na região de Cidade de Deus, zona oeste da capital fluminense. Levantamento da ONG Rio da Paz aponta que subiu para 101 o número de casos de crianças e adolescentes, de até 14 anos, mortos por armas de fogo desde 2007.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar afirma que, nos casos deste sábado, uma equipe do 17º Batalhão de Polícia Militar (Ilha do Governador) tentou abordar dois homens em uma motocicleta, na Rua Paranapuã, na Ilha do Governador.
Segundo os policiais que atuaram na ação, o passageiro de 17 anos que estava na garupa disparou contra a equipe e houve revide. Ele foi ferido e socorrido pelo Corpo de Bombeiros ao Hospital Municipal Evandro Freire, mas não resistiu. Já o homem que pilotava a motocicleta foi conduzido para a delegacia, a fim de prestar esclarecimentos.
Logo após o ocorrido, um grupo de manifestantes ateou fogo em um ônibus na Rua Paranapuã. Segundo eles, o jovem não teria apresentado resistência durante a abordagem. Diante do protesto, o Batalhão de Rondas e Controle de Multidão (Recom) foi acionado em apoio, além do Corpo de Bombeiros, para conter as chamas.
Foi neste momento que a menina foi atingida por uma bala perdida dentro da própria casa, na Comunidade do Dendê. A Secretaria de Estado de Polícia Militar afirma que o comando do 17º BPM foi informado sobre o caso, mas diz que não havia operação policial no interior da comunidade.
— É uma criança que ontem foi aniversário da irmã dela. Estava feliz, brincando, tudo. Infelizmente, hoje de manhã ela acorda para brincar e, brincando, em cima da cama, leva um tiro de fuzil — disse à ONG Voz das Comunidades Roseli Passos, prima da vítima.
"O comando da unidade instaurou um procedimento para averiguar a conjuntura das ações e a corregedoria da corporação acompanha os trâmites. As imagens das câmeras corporais dos policiais serão disponibilizadas para auxiliar nas investigações", informou a secretaria.
A pasta afirmou, ainda, que o comandante do 17º BPM foi afastado da administração da unidade "a fim de dar uma maior lisura e transparência à averiguação dos fatos referentes às ações ocorridas na manhã deste sábado".
Em nota, a Polícia Civil afirma que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi acionada e investiga as duas mortes. "Os agentes estão em diligências em busca de testemunhas e outras informações para esclarecer as dinâmicas dos fatos", afirmou a pasta.