Segue aumentando o número de relatos de clientes se dizendo lesados por supostos golpes da agência de viagens gaúcha Orange Travel. Em um grupo organizado no WhatsApp, a quantidade de membros dobrou em nove dias, chegando a 120 pessoas de todo o país. Há ainda relatos de outros consumidores que não estão no grupo.
Clientes da empresa de Viamão contam que pagaram por pacotes turísticos, mas que a agência teria cancelado os serviços sem estornar o valor.
Entre os passageiros mobilizados no WhatsApp, o prejuízo total já está estimado em R$ 600 mil, conforme Marcelly Hollas, moradora de Cruz Alta, na Região Noroeste, e uma das administradoras do grupo. Agências e hotéis em outros países também afirmam ter sido afetados.
As viagens teriam como destino Orlando, Montevidéu, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Atacama e Punta Cana, entre outros lugares. Clientes relatam prejuízos que partem de R$ 1,5 mil e chegam a R$ 52 mil. Há diversos casos de passageiros que teriam sido lesados em cerca de R$ 17 mil.
Na última semana, turistas que realizariam um "bate e volta" a Gramado com a empresa também se juntaram ao grupo. A viagem, curta e de baixo valor, era um dos únicos destinos que a empresa ainda estaria operando, segundo os clientes. Agora, também teria sido cancelada.
Reaberto recentemente, o caso é investigado como possibilidade de estelionato pela 1ª Delegacia de Polícia de Viamão, que afirma que a quantidade de ocorrências registradas aumentou “consideravelmente” — o número exato não foi informado. Por ora, contudo, não há novidades em relação ao caso, conforme a delegada Jeiselaure de Souza. A empresa responsável ainda não foi ouvida pela polícia, que segue nas oitivas de testemunhas e vítimas.
— A orientação é que as vítimas registrem ocorrência. Pode ser na delegacia de polícia ou até mesmo na delegacia online, e juntem documentação. O importante também é que já deixem esclarecido inicialmente se fizeram a contratação pessoalmente ou pela internet — orienta Jeiselaure.
A razão social da Orange Travel é Rocha Turismo Ltda. Segundo a delegada informou à RBS TV, os proprietários da agência já teriam antecedentes pela prática do mesmo crime com uma agência que faliu e não ressarciu as vítimas.
No RS e no Brasil
Os relatos de clientes lesados vão além do grupo de WhatsApp. O autônomo André Ronaldo de Jesus, 51 anos, de Gravataí, na Região Metropolitana, já havia realizado uma viagem para a Argentina com a empresa em 2023 e decidiu, em agosto, adquirir um pacote para passar o Ano-Novo em Montevidéu, no Uruguai. A esperada viagem, no entanto, foi cancelada em 19 de dezembro, a poucos dias da partida. Com os planos frustrados, o Réveillon de André será comemorado em casa.
O autônomo chegou a procurar o escritório da empresa, mas encontrou o estabelecimento fechado. André conhece outras pessoas que também foram afetadas, de localidades como Novo Hamburgo, Santa Maria e Santa Catarina. O prejuízo dos passageiros do ônibus ultrapassam R$ 80 mil, estimam os consumidores.
— Caímos em um golpe. A gente faz uma programação e acontece isso, a gente fica sem rumo. Fiquei muito chateado — lamenta. — É terrível. Aí eles botaram: “Vamos cancelar o Réveillon”. Como é que vamos cancelar o Réveillon, se vai acontecer agora, na terça-feira? Não tem como cancelar.
Além disso, clientes dizem ter enfrentado frustrações com a Orange em novembro. A empresa teria mudado o hotel e o roteiro inteiro de uma viagem para Montevidéu no dia da partida, sem consultar os passageiros. O assessor de imprensa Gil Cunha relata que ficaram hospedados em outra cidade, em um hotel com infraestrutura precária — chuveiro com água gelada, sem internet, sem local e utensílios para jantar —, no que resumiu como uma “experiência horrível”.
— No dia do embarque, pela manhã, ela (a empresa) avisou no grupo que ia mudar. O povo começou a protestar, e ela simplesmente não falou mais nada, só falou: “A gente se dá o direito de trocar as coisas, está no contrato e o embarque vai ser às 19h” — conta. — A gente comprou um feriadão em Montevidéu e "deu uma passada" por Montevidéu.
Ajuda compartilhada
No grupo organizado por consumidores na rede social, os administradores buscam ajudar os novos membros com orientações sobre medidas a serem tomadas e como proceder caso desejem ingressar com uma ação judicial.
— Tudo o que estamos juntando de provas encaminhamos direto para o e-mail da delegacia — acrescenta Marcelly. — Mas o que mais nos chateia é o fato de eles continuarem vendendo coisas que sabemos que não serão entregues.
O que diz a Orange Travel
Procurada por Zero Hora, a Orange Travel se manifestou por meio de nota nesta segunda-feira (30), afirmando que está tomando medidas cabíveis para garantir o ressarcimento dos clientes e que as demandas têm até 90 dias para serem cumpridas. A empresa também informou que a defesa ainda não teve acesso aos autos da investigação.
Há 10 dias, em reportagem anterior, a empresa informou que, por não ter o número mínimo de passageiros previsto para determinadas viagens programadas, alguns roteiros foram cancelados.
Confira a íntegra da nota:
"A Orange Travel, por meio da representação das advogadas Thais Constantin e Deise Dutra, vem a público informar que está tomando todas as medidas cabíveis para garantir o ressarcimento pleno dos clientes que se sentiram prejudicados com o cancelamento de viagens, ocorrido a partir de 15 de dezembro de 2024. A agência possui mais de 10 anos no ramo de turismo e cumpre, desde então, com suas obrigações frente a milhares de clientes.
A empresa, juntamente com a equipe jurídica, destaca que a prioridade, neste momento, é garantir que aqueles que se sentiram lesados tenham soluções para suas demandas que, conforme previsão contratual, têm até 90 dias para serem cumpridas.
Cabe destacar que alguns perfis falsos estão sendo criados, em paralelo à situação, o que tem prejudicado o contato direto com os clientes que necessitam do atendimento.
Para que a agência consiga direcionar a demanda para a solução desejada, a equipe jurídica orienta que o contato ocorra, diretamente, pelo e-mail cancelamento@orangeturismo.com.br. Este será o único meio de comunicação que a empresa utilizará para regularização dos pacotes.
Demais manifestações serão realizadas conforme o andamento das investigações."