A Polícia Civil trabalha com a hipótese de os executores do assassinato e da ocultação do cadáver da enfermeira Priscila Ferreira Leonardi, 40 anos, serem vinculados ao crime organizado. O primo da vítima, Emerson da Silveira Leonardi, 30, foi preso na quinta-feira (13), sob suspeita de ser o principal mandante dos delitos, desde a captura até o homicídio.
As informações apuradas pela polícia até o momento indicam que Emerson teria atuado como mentor intelectual, sem ter praticado o espancamento e estrangulamento da prima. A principal linha de investigação aponta que o crime teria sido motivado por interesses em bens e valores.
— É possível. Não se exclui que os executores do crime sejam ligados à facção criminosa. Vamos buscar a identificação dos envolvidos e, depois, poderemos dizer se tem ou não relação com o crime organizado — afirma a delegada Fernanda Graebin Mendonça, da 1ª Delegacia de Polícia de Alegrete.
Ela diz que, a partir de agora, o objetivo mais urgente é atuar na busca pelos executores.
— Temos muita coisa para investigar ainda. Trabalhamos com vários nomes (de possíveis executores). Não posso revelar, mas é mais de um — comenta a delegada.
Priscila morava desde 2019 em Dublin, na Irlanda, onde trabalhava como enfermeira em um lar de idosos. Ela estava de férias e veio à fronteira oeste do Rio Grande do Sul para resolver pendências do inventário da herança do falecido pai, Ildo Leonardi. Durante a passagem pelo Brasil, Priscila relatou a pelo menos uma amiga brasileira que vive na Irlanda a percepção de um ambiente tenso, com supostas provocações feitas por Emerson.
A enfermeira estava processando o primo para cobrar uma dívida de mais de R$ 200 mil por conta do imóvel que era dela e do pai, no qual Emerson já reside há anos com a família. As tentativas da enfermeira de receber o pagamento pela casa vinham fracassando desde agosto de 2020.
Em junho de 2023, já em Alegrete, Priscila também foi informada sobre detalhes do inventário de herança. Ela soube que a esposa de Emerson e uma outra prima receberam mais de R$ 167 mil em cheques assinados pelo pai dela. A maioria dessas transferências, que teriam sido doações, ocorreram em 20 de abril de 2020, exatos 14 dias antes da morte de Ildo por falência de múltiplos órgãos. À época dessas transações, a enfermeira estava na Europa.
Priscila desapareceu na noite de 19 de junho, após ter ido à casa de propriedade dela, no bairro Vila Nova, habitada por Emerson, para recolher pertences de valor sentimental. A delegada Fernanda aponta que, de fato, a enfermeira teria ido ao encontro do primo naquela noite.
Quando a vítima terminou de recolher objetos, o primo chamou um veículo, supostamente uma Duster preta, para que ela se deslocasse até a moradia de uma prima, também em Alegrete, onde estava hospedada.
— A função começou no deslocamento — diz a delegada.
Priscila não chegou ao endereço da familiar e, na manhã seguinte, o próprio Emerson e a prima registraram ocorrência por desaparecimento. No relato, o primo culpou um pai de santo pelo sumiço e por supostas ameaças posteriores. O religioso existe, e é uma pessoa conhecida por Emerson e também era por Priscila.
— Não sabemos ainda se há materialidade quanto ao pai de santo. Nem sim, nem não — relata a titular da 1ª DP de Alegrete.
A investigadora ainda disse que as apurações concluídas até agora não apontam movimentação nas contas bancárias de Priscila após o desaparecimento. Por solicitação do Ministério Público à Justiça, Emerson foi alvo de prisão temporária, que tem validade de 30 dias para crimes hediondos, com possibilidade de prorrogação por igual período. Ele prestou um longo depoimento à Polícia Civil e, depois, foi encaminhado ao presídio de Alegrete. A delegada disse que não poderia confirmar ou negar os comentários de que Emerson teria confessado o crime no interrogatório.
Sobre a eventual confissão, a advogada do primo, Jo Ellen Silva da Luz, afirma:
— Ele nunca disse que foi o mandante. A frase "eu mandei matar ela" nunca saiu da boca dele.