Em novo depoimento relacionado ao caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a esposa de Ronnie Lessa, ex-PM apontado como o executor das vítimas, deu detalhes sobre o comportamento do marido no início das investigações sobre as mortes.
De acordo com Elaine Pereira Figueiredo Lessa, quando soube que foi intimado para depor, o marido pediu a ela que buscasse o registro de entrada do condomínio do dia do crime. Ao ser questionado sobre os motivos para o pedido, o ex-PM apenas respondeu que "iria precisar". As informações são do jornal O Globo.
Em delação premiada, o ex-policial militar Élcio de Queiroz confessou que conduziu o carro usado no crime. Também afirmou que chegou ao condomínio Vivendas da Barra no dia da execução, por volta das 17h, em seu Logan. Segundo ele, Lessa autorizou a entrada e, no local, eles trocaram de carro, saindo em uma Evoque.
De acordo com Elaine, ao descobrir que foi intimado, Lessa "lhe pediu imediatamente para ir à portaria e pegar o registro de entrada do condomínio no dia 14 de março de 2018". Foi nesta data que aconteceu o assassinato.
No depoimento que deu há cerca de dois meses, ela falou ainda que o marido fez o pedido "mesmo que, no mandado de intimação, não constasse qualquer informação acerca de qual procedimento se tratava".
Fotos de planilhas com o registro dos carros que entraram no condomínio no dia do assassinato foram encontradas em um dos celulares apreendidos na residência de Lessa. Para os investigadores, Elaine não teria conseguido as gravações feitas pelas câmeras da portaria, somente o controle dos veículos.
A esposa de Lessa foi presa em outubro de 2019 após a Delegacia de Homicídios e o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro investigarem que ela teria organizado uma ação para sumir com as armas do marido a fim de apagar provas que pudessem incriminá-lo. Elaine foi condenada a quatro anos de prisão por crime de obstrução de Justiça.
Dois dias após deixar a cadeia, em 18 de julho de 2021, ela foi presa pela Polícia Federal por acusação de tráfico internacional de armas. Apesar da data, as investigações haviam se iniciado em 2017. Uma encomenda havia chamado a atenção da Receita Federal no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio: eram 16 quebra-chamas para fuzil AR-15, utilizados para ocultar chamas decorrentes do disparo da arma de fogo e para não identificar a posição do atirador. A Academia Supernova, que era de Elaine e Lessa, era a destinatária do pedido.
Após sair da prisão, Elaine passou a trabalhar com body piercing em um estúdio e venda de joias personalizadas. À polícia, ela relatou que o patrimônio da família se limita a duas casas, uma em Jacarepaguá e outra na Barra da Tijuca.
Delação de miliciano no caso Marielle é uma aula sobre crime
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Quem é Ronnie Lessa?
Ronnie Lessa é apontado como o executor de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Quando foi preso, em 2019, a Divisão de Homicídios encontrou 117 fuzis incompletos na casa de um dos seus amigos, na zona norte do Rio. Ele foi condenado a 13 anos e seis meses de prisão por comércio ilegal de armas.
Em 2021, Ronnie Lessa foi condenado por destruição de provas relacionadas ao caso Marielle. Os condenados são acusados de sumir com armas utilizadas. Nesse ano, Lessa foi expulso da Polícia Militar do Rio de Janeiro.