A Operação Fratelli foi deflagrada nesta quarta-feira (19) contra facção criminosa com base no Vale do Sinos, mas que atua em todo o Rio Grande do Sul e em outros Estados, suspeita de envolvimento em 12 assassinatos. Além de apurar os homicídios, a ofensiva cumpre 173 ordens judiciais em busca de mais provas sobre o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro. Participam da ação 280 agentes, entre policiais civis e militares.
Os principais alvos da operação desta quarta-feira são três pessoas apontadas como líderes deste grupo que estariam por trás de assassinatos em Porto Alegre. Quase todas as 12 mortes apuradas aconteceram na Zona Sul.
Até as 7h50min, três pessoas haviam sido presas. O trabalho, realizado pelo titular da 4ª Delegacia de Homicídios da Capital, delegado Marcus Viafore, recebeu o nome de Fratelli pela forma de agir semelhante ao da máfia italiana, no qual muitos dos crimes foram cometidos por famílias que integram uma das ramificações da facção gaúcha.
Em dois anos de investigação, a polícia apurou que a organização criminosa usou contas bancárias em nome de 24 laranjas, comprou imóveis, automóveis de luxo, além de investir no mercado imobiliário, em empresas e ostentar em viagens para pontos turísticos internacionais. A Justiça autorizou o bloqueio de bens e valores do grupo avaliados em R$ 30 milhões.
Segundo a investigação, os suspeitos, que vendem entorpecentes na zona sul da Capital e também em São Leopoldo, cometeram os homicídios por desavenças internas ou por disputa por pontos de venda contra grupo rival. Depois disso, conforme Viafore, eles precisam "lavar o dinheiro sujo".
— Eles agem basicamente no extremo sul da Capital na venda de drogas, mesmos locais onde ocorreu a maioria dos assassinatos, mas também há tráfico feito por eles em São Leopoldo. Estamos investigando um braço da facção que, além disso tudo, faz investimentos para obter mais lucros, incluindo em setores da economia formal — ressalta Viafore.
Investigação
Segundo Viafore, a investigação teve início em 2021, quando aconteceram duas tentativas de homicídio. Apuração apontou que a ação foi ordenada por um dos líderes deste grupo. O delegado diz que as vítimas eram responsáveis por agenciar clientes para um escritório de advocacia da Capital e houve desavença em relação a pagamentos sobre os serviços prestados.
Apesar da tentativa, os alvos da ação sobreviveram. O responsável por ter dado a ordem para as execuções foi identificado. Segundo a polícia, o líder desta célula da organização criminosa tem antecedentes por 10 homicídios e quatro vezes por tráfico de drogas. Em 2021, ele foi preso em um resort de luxo na Praia do Forte, na Bahia. Atualmente se encontra na Penitenciária Modulada de Charqueadas. O nome dele não foi divulgado.
Em uma mensagem de texto apreendida pela polícia, o criminoso ostenta que possuiria, só em um determinado local, mais de 30 apartamentos. O objetivo seria demonstrar seu poderio econômico.
A ramificação de organização criminosa alvo da operação desta quarta-feira lavou mais de R$ 30 milhões do tráfico. Segundo investigação, houve compra de imóveis, veículos de luxo e depósito em contas bancárias, tudo em nome de laranjas.
Nos últimos dois anos, a investigação descobriu que foram investidos valores no mercado imobiliário dos dois Estados, na compra de pousadas no litoral catarinense e empresas de fachada.
Em oito meses, somente uma das empresas recebeu um milhão e R$ 300 mil da facção.
Operação Fratelli
O diretor do Departamento de Homicídios, delegado Mario Souza, diz que a operação ocorre em 10 cidades. São elas: Porto Alegre, Canoas, Sapucaia do Sul, Novo Hamburgo, Campo Bom e Charqueadas, além de Itajaí, Itapema, Balneário Camboriú e Bombinhas, em Santa Catarina.
Souza ressalta que, além de três mandados de prisão preventiva, envolvendo os três líderes desta ramificação do grupo criminoso, são cumpridas mais 170 ordens judiciais. Elas compreendem, por exemplo, a apreensão judicial de 23 imóveis, veículos, bloqueio de contas bancárias em nome de pelo menos 24 laranjas, afastamento dos sigilos fiscal, bancário e financeiro de pessoas jurídicas e físicas (veja detalhes abaixo).
Sobre as prisões, os delegados Souza e Viafore destacam que pelo menos uma delas é referente à facção rival da organização que está sendo alvo da operação policial durante a manhã.
— Pelo menos uma das mortes é de integrante da facção do Vale do Sinos e foi cometida por rivais que atuam na mesma região do Sul de Porto Alegre, onde disputam territórios — explica Souza.
Ordens judiciais
- três mandados de prisão preventiva
- 45 mandados de busca e apreensão
- 125 bloqueios bancários
- 23 indisponibilidades de imóveis