Uma droga que não pertence à tríade mais conhecida de entorpecentes (maconha, cocaína e crack) começa a aparecer, cada vez mais, em grandes quantidades nas apreensões feitas no Rio Grande do Sul. Em 2022, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) recolheu 403 quilos de skunk nas abordagens em rodovias gaúchas, conforme dados obtidos por GZH. Até então, as quantidades apreendidas não ultrapassavam nove quilos por ano.
De acordo com o chefe de comunicação da PRF, Douglas Paveck, há dois fatores que podem explicar o crescimento abrupto na quantidade apreendida de skunk: a posição geográfica do Estado em relação ao Uruguai e ao Paraguai e o alto valor de venda da droga — o preço do grama pode chegar a R$ 70. Parte do material tem como destino o território gaúcho, e outra é endereçada ao sudeste brasileiro.
— Acreditamos que, primeiramente, se deve ao alto valor agregado da droga. Em alguns locais, o preço do grama do skunk se aproxima muito do preço do grama da cocaína. E nós estamos próximos dos países produtores da droga, tanto o Uruguai quanto o Paraguai — explica.
Os números de apreensões de skunk pelos órgãos da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul, como Brigada Militar e Polícia Civil, não impactam tanto como os da PRF-RS. Entretanto, a pasta destaca que, devido ao recente aumento de circulação do entorpecente, os dados apresentam “menor confiabilidade”, pois o Observatório Estadual de Segurança Pública não tem, na compilação, o qualificador “skunk”. Muitas apreensões da droga, portanto, podem ter sido registradas apenas como “maconha”, segundo a SSP.
Pelos dados repassados à reportagem, o pico de apreensão de drogas skunk pela Brigada Militar e pela Polícia Civil foi em 2021, com 4,45 quilos recolhidos. Em 2022, foi 1,49 quilo e, em até fevereiro de 2023, somente 95 gramas.
Entretanto, o diretor de investigações do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Alencar Carraro, afirma que o skunk tem circulação cada vez maior no Rio Grande do Sul, principalmente, segundo ele, “com a liberação do uso de drogas no Uruguai”.
— Inúmeras apreensões foram feitas por Receita Federal, Correios, PRF, Brigada Militar, Denarc e outras delegacias da Polícia Civil no último ano. Boa parte delas de drogas vindas da fronteira com o Uruguai, inclusive com distribuição do skunk para outros Estados do Brasil, como ficou apurado em uma investigação do Denarc — explica o delegado.
O entorpecente é conhecido como "supermaconha" por conta dos efeitos potencializados no organismo. Conforme a análise do delegado, os consumidores de classe média e com maior poder aquisitivo têm optado pelo skunk por ser mais "potente e puro" do que a maconha, que, no seu tipo mais tradicional e barato, é misturado com inúmeros produtos. O skunk tem maior concentração de Tetrahidrocanabinol (THC), componente ativo da planta maconha responsável pelos efeitos alucinógenos.
Apreensão de skunk pela PRF, por ano:
2019 - 7 quilos
2020 - 5 quilos
2021 - 9 quilos
2022 - 403 quilos
2023 - 32 quilos*
*Dados até 6 de março
Grupo que traficava skunk no Uruguai e no Brasil é desarticulado
Na última sexta-feira (3), policiais federais cumpriram um mandado de prisão preventiva contra o suposto líder de um grupo criminoso ligado ao tráfico de drogas, especialmente de skunk. Ele tem 29 anos. Além disso, foram apreendidos veículos e celulares utilizados na logística de distribuição dos produtos. A operação ocorreu em Jaguarão, no Sul do RS.
Segundo a Polícia Federal, o grupo atuava no tráfico de entorpecentes no Brasil e no Uruguai. Na semana passada, o órgão apreendeu 15 quilos de skunk na região de Pelotas e 150 sementes de maconha em Jaguarão. Os materiais pertenciam ao grupo desarticulado.
Novas drogas no mercado gaúcho
O delegado Alencar Carraro explica que novas drogas, especialmente sintéticas, têm surgido no mercado gaúcho, sobretudo depois da pandemia. Consumidores de classe média e de alto poder aquisitivo são os alvos dos modernos entorpecentes, porque é um público que não vai se expor em bocas de fumo.
— A venda de drogas passou a ser no modo de telentrega e, como não havia (durante a pandemia) festas rave, junto com a cocaína, maconha e crack, drogas sintéticas, cogumelos e outras drogas passaram a ser ofertadas e entregues nas casas dos usuários — comenta.
A Polícia Civil identifica que muitas drogas são produzidas no Brasil. Na semana passada, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) fechou um laboratório em Porto Alegre em um trabalho que resultou na maior apreensão de ecstasy da história da Polícia Civil gaúcha. Por outro lado, o órgão também registra drogas sintéticas que chegam de outros estados, principalmente Santa Catarina, e de países da Europa, a exemplo da Holanda.