No início da manhã desta terça-feira (7), escrivães e inspetores em formação, além de agentes que já atuam na profissão, começaram a se reunir na Academia de Polícia Civil (Acadepol), no bairro Agronomia, na zona leste de Porto Alegre. Assim como nas operações de combate ao crime, a primeira etapa foi reunir todos para o habitual briefing, com as orientações sobre os passos seguintes. Dali, embarcaram nos veículos em direção a dois destinos, o Hemocentro do RS e o Hospital de Clínicas. Desta vez, a empreitada policial tem outro foco: a doação de sangue.
A iniciativa faz parte da campanha "E se fosse você?", lançada pela Polícia Civil como forma de incentivar as pessoas a se tornarem doadoras de sangue. Por isso, a instituição decidiu mobilizar os próprios servidores a participarem.
Para instigar a adesão, também foram criados cards para serem compartilhados pela internet, levando as pessoas a refletirem sobre a importância de doar. "E se fosse o seu bebê? Uma pequena doação de sangue pode salvar quem ainda tem uma vida inteira pela frente", está escrito num deles.
Períodos de festividades e férias, tanto de inverno, como de verão, como os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, além de feriados prolongados costumam impactar no estoque dos bancos de sangue. Em razão disso, esse período de pós Carnaval, considerado preocupante, foi escolhido pela instituição para fazer a mobilização. Ao todo, são cerca de 70 pessoas participando da doação.
Segundo a diretora da Acadepol, delegada Elisângela Reghelin, a intenção com a ação, no caso dos alunos, é enfatizar um valor trabalhado durante o curso, que é a doação da vida.
— Os alunos logo vão fazer um juramento e a ideia deles começarem através da doação de sangue a dar a vida pelo outro em breve se converte num juramento que eles vão exercer ao longo de toda uma vida profissional. Policial civil é isso. Uma grande família, gera esse sentimento de pertencimento e também de solidariedade com a sociedade gaúcha — afirma.
A campanha também tem objetivo de mobilizar mais pessoas sobre a importância da doação ser realizada de forma regular.
— A ideia é divulgar para que mais pessoas, não só os policiais, mas a sociedade se estimule a ter esse ato de empatia com o próximo, que é a doação — diz a delegada Eliana Parahyba Lopes, da Divisão de Comunicação Social, aos policiais que estão em formação.
Entre os policiais que decidiram fazer a doação, a inspetora Manuella Schneider, 30 anos, que atua no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) conta que já foi doadora e, com a campanha, decidiu voltar a doar.
— É um gesto simples que pode ajudar muitas pessoas — disse.
O inspetor Waldeck Costa Lima, 42, da Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo, também decidiu se integrar à iniciativa.
— Já sou doador. Eu acho muito importante a abrangência das pessoas que podemos auxiliar com esse ato — disse, enquanto fazia a doação.
Entre os alunos em formação, Renan Michel Paliga, 33, foi um dos doadores. De Erechim, ele está em Porto Alegre no curso de inspetor de polícia.
— Sempre que pude doei. Acho importante porque alguém vai precisar — afirmou.
Jordana Camargo, 34, em curso para escrivã, também já é doadora e decidiu contribuir mais uma vez:
— Acredito que temos que pensar no próximo. Se podemos doar um pouco da gente para salvar a vida de alguém é importante — diz.
Faltam doadores
Um dos locais que recebe as doações é o Hemocentro do RS, localizado na Avenida Bento Gonçalves, no bairro Partenon. Para lá, foram enviadas cerca de 50 potenciais doadores de sangue.
Todos que chegam para doar precisam passar pelo processo que envolve cadastro, ou conferência dos dados, se já for doador, além de verificação de peso e de sinais vitais, como batimentos, pressão e temperatura. Logo depois, é realizada entrevista e preenchido questionário. Na sequência, se dá a coleta de 450ml de sangue, que normalmente leva em torno de cinco minutos. Todo o procedimento, que inclui alguns minutos para hidratação e um lanche, costuma ser concluído em cerca de meia hora.
— O ideal é que tenhamos uma média de 120 candidatos a doação por dia, mas tem dias em que não se conseguir chegar nem na metade. Ações como essa são bem importantes. É essencial que todos os campos de atividade estejam engajados, para que se consiga manter os estoques em níveis adequados — afirma a assistente social Gesiane Ferreira Almansa, responsável pelo Setor de Captação do Hemocentro do RS.
Por mês, o ideal é que o local colete 1,6 mil bolsas de sangue — em fevereiro foram 1,3 mil, o que é considerado como regular. Neste início de março, no entanto, a equipe vem percebendo uma baixa oferta de candidatos. Nesta segunda-feira (6), por exemplo, havia poucos atendimentos agendados ao longo do dia.
— Em fevereiro, com a campanha de Carnaval, se conseguiu sensibilizar um número bem importante de doares. Queremos agradecer a essas pessoas que ouviram nossos apelos. Embora não tenhamos alcançado o ideal, muitas pessoas se colocaram à disposição e auxiliaram. Muitas pessoas desconhecem a importância de doar regularmente. Uma das frases que ouvimos com frequência é que "sempre que tem alguém precisando eu doo", mas sempre tem alguém precisando — alerta Gesiane.
Embora a necessidade seja de receber todos os tipos sanguíneos, há maior incentivo de doações regulares para aquelas pessoas que são O negativo. No Brasil, estima-se que somente 9% da população tenha esse tipo sanguíneo.
— Esse tipo é o que doa para todos os outros e que só pode receber o O negativo. E os bebês só podem usar esse tipo nessa fase — explica.
Assim como realizado pela Polícia Civil, outras instituições interessadas em mobilizar pessoas para fazer a doação também podem se engajar. É o caso, por exemplo, de empresas, que desejem promover esse tipo de iniciativa entre seus funcionários. O Hemocentro disponibiliza até mesmo transporte para buscar e levar os doadores, nesses casos de atendimentos de grupos.
— É um apelo que fazemos aos empresários, que possam ofertar aos seus empregados, numa iniciativa de responsabilidade social, de vir realizar a doação no Hemocentro — enfatiza a assistente social.
Principais receios
Não são apenas pessoas em situação de emergência, como vítimas de acidentes, que necessitam da doação. Há pacientes que realizam tratamentos, que também dependem das doações para manter as transfusões, ou mesmo no caso do transplante de órgãos. São inúmeras situações nas quais o sangue doado é essencial para salvar vidas. No Hospital de Clínicas, atualmente, as doações estão numa faixa considerada média, embora ainda longe do ideal.
— Precisamos da entrada diária de sangue, de determinados grupos. Para suprir a necessidade de um hospital de alta complexidade, necessitamos de aproximadamente 80 doações. Mas, em média, estamos recebendo hoje 50 doações. E ainda temos que contar com o percentual de inaptidão. Estamos sempre trabalhando para manter os estoques. É muito grave faltar sangue num hospital desse porte — explica a a bióloga Patrícia Seltenreich, coordenadora de captação do banco de sangue do Hospital de Clínicas.
Cerca de 20% dos candidatos que passam na triagem clínica são considerados inaptos a doar. São pessoas que não se enquadram nas regras definidas pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Um dos pontos que costuma deixar as pessoas receosas quanto à doação são as etapas percorridas durante o processo. Uma delas é o questionário a ser respondido ainda na primeira fase. O intuito é compreender o perfil do doador e identificar potenciais riscos de transmissão de infecções pelo sangue, como é o caso de pessoas que tenham múltiplos parceiros sexuais, por exemplo.
— Depois dessa fase, quando chega na doação em si, vem a expectativa quanto à agulha, se não vai ficar tonto, se vai passar mal. Esses medos têm que ser desmistificados. Se a pessoa estiver bem hidratada, tranquila, é algo muito rápido. Quando a pessoa vem, disposta a fazer esse ato, ela fideliza — incentiva Patrícia.
O que precisa para doar
- Não estar em jejum e evitar alimentos gordurosos.
- Não consumir álcool (até 12h) ou fumar (até 2h) antes da doação.
- Ter dormido pelo menos seis horas no dia.
- Não ter tomado vacina contra a covid-19 nos últimos sete dias, com exceção da Coronavac, cujo limite é dois dias.
- Não estar com gripe, febre ou ter tido covid-19 nos últimos 10 dias.
- Pesar no mínimo 50 quilos e ter entre 16 e 69 anos.
- Não ter doença de chagas ou hepatite aos 11 anos de idade.
- Não usar drogas injetáveis ou ser portador dos vírus HIV (aids), HCV (hepatite C), HBC (hepatite B) ou HTLV.
- Não ter tido relações sexuais com múltiplos parceiros casuais no último ano.
De quanto em quanto tempo
- Mulheres podem fazer até três doações no ano (tempo mínimo de 90 dias entre uma e outra)
- Homens podem fazer até quatro doações no ano (tempo mínimo de 60 dias entre uma e outra)
Cuidados após a doação
- Não fumar por no mínimo duas horas.
- Nas 12 horas após a doação, não praticar exercícios físicos e atividades perigosas, como subir em locais altos ou dirigir caminhão, ônibus em rodovias, etc.
- Permanecer no serviço hemoterápico após a doação por 15 minutos.
- Não carregar peso ou dobrar o braço em que foi realizada a punção no dia da doação, para evitar sangramentos e hematomas.
- Retirar o curativo 4 horas após a doação.
Onde doar sangue em Porto Alegre?
Hemocentro
- É possível agendar doação pelo WhatsApp (51) 98405-4260 ou neste site.
- Endereço: Avenida Bento Gonçalves, 3.722
- Telefone: (51) 3336-6755
- Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.
Santa Casa de Misericórdia
- É possível agendar uma doação neste site.
- Endereço: Avenida Independência, 75 (em frente ao Hospital São Francisco).
- Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira (exceto feriados), das 7h30min às 17h30min, e sábados, das 7h30min às 12h
- Mais informações neste site.
Hospital de Clínicas
- É possível agendar a doação neste site
- Endereço: Unidade Básica de Saúde Santa Cecília – 2º andar (entrada pela Rua São Manoel, 543).
- Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, preferencialmente para moradores da Capital e Região Metropolitana. Aos sábados, das 8h às 12h.
- Mais informações neste site.
São Lucas da PUCRS
- É possível agendar uma doação pelo telefone: (51) 3320 3455 ou WhatsApp: (51) 98503-9958.
- Endereço: Avenida Ipiranga, 6+690.
- Horário de funcionamento: segunda a sexta das 7h30min às 16h ou aos sábados das 7h30min às 12h30.
- Mais informações neste site.
Hospital Conceição
- É possível agendar uma doação pelo WhatsApp: (51) 3357-2072.
- Endereço: segundo andar do Hospital Conceição, na Av. Francisco Trein, 596.
- Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 7h30min às 17h, e aos sábados (exceto feriados), das 7h30min às 12h
- Mais informações neste site.
Hospital Moinhos de Vento
- É possível agendar uma doação pelo Telefone (51) 3314-3072 ou WhatsApp: (51) 99235-6964.
- Endereço: o acesso externo deve ser feito pela Rua Tiradentes, ao lado do estacionamento do Hospital Moinhos de Vento.
- Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 7h30min às 16h e sábado das 7h30min às 12h.
- Mais informações neste site.