Após dois meses de investigação, a Polícia Civil apreendeu quase 20 mil comprimidos de ecstasy em um laboratório clandestino onde a droga era produzida, na zona norte de Porto Alegre. Conforme o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), esta foi a maior apreensão da droga feita pela Polícia Civil no Estado. A ação causou prejuízo estimado em R$ 2 milhões ao crime organizado.
A operação começou no fim da noite de quinta-feira (2), com a prisão de um homem de 28 anos que vinha sendo monitorado pela polícia. Ele foi detido em flagrante transportando comprimidos numa motocicleta. Segundo apuração, o suspeito atuava como um dos entregadores do grupo e não teve o nome divulgado pelas autoridades.
Após a prisão, as equipes seguiram em investigação durante a madrugada de sexta-feira (3) e chegaram ao imóvel onde os entorpecentes eram feitos e armazenados. Dois endereços vinham sendo monitorados pelos policiais, que constataram o laboratório clandestino em um deles, no bairro Sarandi.
De acordo com o delegado Gabriel Borges, o local é um imóvel antigo que funciona como uma pensão, com várias casas para aluguel em um mesmo terreno. Numa residência, foram encontrados comprimidos e utensílios usados para a fabricação da droga. Também havia luvas, óculos, aventais e máscaras utilizadas para garantir a proteção do responsável pela produção da droga, além de um liquidificador usado na confecção.
— Os compostos químicos usados nessa produção representam uma gravidade muito grande à saúde da pessoa. Nos chama muito atenção o fato de que, para a produção, os traficantes usam todo o EPI (equipamento de proteção individual). Encontramos luvas, máscaras, óculos, jalecos, tudo isso serve para garantir a proteção de quem produz essa droga, para que o sistema nervoso do responsável não sofra os efeitos que depois o usuário vai sofrer — pontua Borges.
Dentro do laboratório clandestino, foram localizados e apreendidos 17.237 comprimidos de ecstasy, 3,3 mil cápsulas para colocação de MDMA (composto utilizado na produção da droga), meio quilo de magnésio (também usado na produção da droga), 40 ampolas contendo Ketamina, 25 porções de MDMA, corantes, ponteiras de aço para molde dos comprimidos, tubos contendo diversos compostos químicos, quatro tubos de gás volcano, além dos objetos de proteção individual.
Conforme Borges, o químico responsável por produzir a droga já foi identificado e é investigado. Ele integra um grupo criminoso distinto, menor e que age de forma independente de facções já conhecidas que atuam no RS — mas que, por vezes, se alia e faz vendas a elas.
A polícia afirma que a responsável pelo local deve ser intimada para prestar esclarecimentos, mas que não há indícios de que ela tivesse conhecimento sobre a fabricação da droga na casa alugada.
Segundo a Polícia Civil, os entorpecentes eram vendidos por valores entre R$ 50 e R$ 100 a unidade. O prejuízo estimado ao crime organizado, com a apreensão, é de cerca de R$ 2 milhões.
Pelas semelhanças do caso com a série Breaking Bad, a operação recebeu o nome de Albuquerque, cidade no Novo México, nos Estados Unidos, onde se desenvolve a trama de Walter White.
Investigação
A prisão na noite de quinta-feira foi possível graças a uma investigação que já ocorria havia cerca de dois meses, realizada pela 3ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico e coordenada por Borges.
Segundo o delegado, após série de prisões de entregadores de drogas sintéticas, as equipes observaram "aumento significativo" na circulação deste tipo de narcótico na Região Metropolitana, em episódios que não se limitavam à venda apenas durante festas e eventos.
— Foram ao menos quatro prisões nestes últimos dois meses, de homens que atuavam entregando drogas — explica o delegado.
Segundo o Denarc, historicamente, esse tipo de droga é produzida em grande quantidade em Santa Catarina e depois transportada para venda no RS. No entanto, a prisão de entregadores acendeu um alerta de que o narcótico poderia ser produzido em larga escala próximo a na Região Metropolitana, o que se confirmou.
Danos colaterais
O diretor-geral do Denarc, delegado Carlos Wendt, destaca o risco a que usuários desse tipo de droga estão expostos:
— Se fala muito sobre cocaína e crack, e às vezes não damos muita importância às drogas sintéticas. Mas é preciso destacar que elas normalmente são produzidas por pessoas sem conhecimento técnico, que buscam como fazer a droga na internet, podem colocar substâncias perigosas a mais no comprimidos, usar compostos semelhantes, tudo isso em laboratórios clandestinos. O efeito disso na saúde pode ser muito grande, inclusive levando à morte.
Segundo Wendt, as drogas sintéticas costumam ser consumidas por adolescentes de classe média alta, em festas. O diretor-geral afirma que o foco do Denarc, nos últimos anos, tem sido fazer apreensões de drogas em grande quantidade e responsabilizar criminalmente os líderes das facções, além de descapitalização os grupos criminosos.
— A gente sabe que os grandes traficantes, muitas vezes, não colocam a mão na droga, não se envolvem na produção, ficam apenas administrando o lucro, buscando para fazer a lavagem desse dinheiro. Então focamos em descapitalizar essas lideranças, causar dano financeiro aos grupos. Muitos desses grandes traficantes já não têm medo da prisão, mas sim de perderem dinheiro e poder — avalia Wendt.
Chefe da Polícia Civil do Estado, delegado Fernando Sodré, ressaltou a importância da apreensão e afirma que se dá graças a trabalho de "investigação criminal qualificada" feito pelas equipes do Denarc.
— É um trabalho altamente qualificado feito pelo departamento, que mantém investigação permanente à atuação desses grupos. São cerca de 18 mil comprimidos de ecstasy retirados das ruas do Estado e um importante prejuízo causado aos criminosos.
Denúncias podem ser feitas de forma anônima ao Denarc pelo telefone 08000 518 518.