A etapa final da busca por Justiça pelo assassinato de Paola Avaly Corrêa, 18 anos, ocorrido em 2018, se encerrou no fim da noite desta quinta-feira (2). Em júri realizado no Foro Central, em Porto Alegre, três réus foram condenados no caso – outras três pessoas já tinham sido condenadas na terça-feira (28). A morte de Paola causou comoção pela frieza: a jovem foi raptada, sofreu tortura psicológica e, por fim, foi obrigada a deitar na própria cova, onde foi baleada e morreu. Toda a ação foi gravada e, depois, divulgada.
Após mais de 11 horas horas de sessão, três réus foram condenados por homicídio qualificado (por motivo torpe, recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio) e ocultação de cadáver. O resultado mais aguardado era o de Nathan Sirangelo, 27 anos, ex-namorado da jovem, apontado como mandante do crime. A tese foi acolhida pelos jurados e ele foi sentenciado a uma pena de 36 anos de reclusão em regime fechado.
Conforme o Ministério Público, Nathan seria integrante de uma facção criminosa com berço no bairro Bom Jesus e teria ordenado a execução da ex de dentro do Presídio Central. O motivo seria uma publicação realizada no Facebook, na qual Paola teria se referido ao ex como "otário", "piá" e "corno". Além disso, ele não vinha aceitando o fim do relacionamento com a jovem.
Os outros dois réus condenados são Thais Cristina dos Santos, 24, sentenciada a nove anos de reclusão. Ela poderá apelar em liberdade. Já Bruno Cardoso Oliveira, 28, foi condenado a 31 anos de reclusão em regime fechado. A acusação alega que Thais teria auxiliado no sequestro de Paola e gravado a execução da jovem. Bruno teria sido responsável por arregimentar o grupo para cometer o homicídio.
Durante o júri, as defesas de Nathan e Bruno negam envolvimento deles no crime. Já Thais afirmou que fez a gravação porque foi ameaçada de morte.
A morte de Paola ocorreu em maio de 2018, quando foi raptada e levada a um matagal na Vila Tamanca, na zona leste da Capital. Ela foi obrigada a entrar em uma cova e posteriormente atingida por tiros. O corpo foi deixado no local e achado quatro dias depois.
A mãe e a irmã de Paola estiveram no júri desta quinta – GZH não divulga o nome delas, a pedido da família. As duas se emocionaram diversas vezes ao longo da sessão, e saíram da sala quando a promotoria exibiu o vídeo da execução da jovem aos jurados. As duas deram relatos nos dois júris, como testemunhas de acusação – um policial civil que atuou no caso à época também foi ouvido.
Nesta quinta, elas confirmam que a jovem tinha hematomas e dizia ser agredida pelo ex. Ao ser indagada sobre o que sabe a respeito da morte da filha, diferentemente do primeiro júri, a mãe deu mais detalhes do caso. Da primeira vez, na terça, ela falou somente por 10 minutos e disse não saber de nada. O promotor Eugênio Amorim chegou a indagar, no primeiro júri, repetidas vezes, se ela estava com medo ou sendo ameaçada. Dessa vez, a mãe confirmou ter visto marcas de agressões na filha.
— Eu vi os hematomas dela e eu perguntava o que era. E ela disse: "Eu caí" — afirmou, relatando, na sequência, que soube por amigas da filha que ela teria sido agredida por Nathan durante as visitas que fazia a ele na cadeia. — É muito triste estar aqui de novo e lembrar tudo de novo o que aconteceu. Para mim, é muito difícil. É uma dor muito forte — disse.
Réus negam envolvimento
A primeira ré a ser ouvida na quinta-feira foi Thais, que admitiu ter feito a gravação do crime, mas alegou ter sido coagida para isso e negou qualquer outra participação. Disse que, na época, Vinicius havia lhe acolhido na casa dele, na Vila Tamanca, e que foi ele quem lhe entregou o telefone para que ela fizesse o vídeo. Negou ter participado do sequestro ou ter presenciado o momento em que Paola foi levada para a mata e a cova foi aberta.
Depois, passou a ser ouvido Nathan, apontado como mandante do crime. Quando interrogado pela juíza, negou qualquer agressão ou ter ordenado a execução de Paola, e disse não ter posição de liderança na facção criminosa.
Sobre o relacionamento com Paola, o réu afirmou que conhecia a jovem antes de ser preso e que depois eles retomaram o contato pelas redes sociais. E que, a partir disso, ela passou a visitá-lo no Presídio Central. Afirmou que, no domingo em que ela desapareceu, eles tinham combinado que ela não iria visitá-lo porque era Dia das Mães. A acusação afirma que a jovem não foi visitá-lo porque os dois tinham brigado pouco antes.
Rafael Keller, advogado de defesa de Nathan, questionou se ele sabia que outro réu tinha confessado o crime, na terça, ao dizer que tinha relacionamento com Paola e que a assassinou por ciúme.
— Ele tinha motivos para tentar me incriminar. Como ele ia apontar o lugar onde estava o corpo e falar que não matou? Mostra que ele estava tentando tirar do dele, para largar em alguém — respondeu Nathan.
Terceiro réu a ser ouvido, Bruno negou qualquer envolvimento com o crime. Disse que acredita ter sido apontado como envolvido em razão de seus antecedentes.
Confissão
No primeiro julgamento, na terça, também foram condenadas três pessoas. Vinicius Matheus da Silva, 25 anos, apontado como autor do rapto e dos disparos contra a vítima, sentenciado a 28 anos de reclusão, em regime inicial fechado. Carlos Cleomir Rodrigues da Silva, 39, que teria ajudado no rapto da jovem, recebeu pena de 16 anos e 2 meses, além do réu Paulo Henrique Silveira Merlo, 40, que admitiu ter aberto a cova, que foi condenado por homicídio simples e ocultação de cadáver, a uma pena de 8 anos e 10 meses.
No júri de terça, Vinícius mudou, admitiu o crime e apresentou uma versão diferente da anterior, alegando que decidiu matar a jovem por ciúme. Ele disse que a postagem realizada por Paola no Facebook, na qual ela se referia ao namorado e afirmava ter mantido relacionamento com outra pessoa, seria direcionada a ele, e não a Nathan. Essa mudança de discurso foi vista pelo MP como forma de inocentar os demais acusados.
Réus vão recorrer
As advogadas Viviane Dias Sodré e Gabriela Goulart de Souza, que defendem Bruno Cardoso Oliveira, afirmam que vão recorrer da sentença. Elas salientam que já interpuseram recurso com base na condenação ser contrária às provas e também para reduzir a pena. Elas afirmam que não havia provas concretas com relação ao Bruno, apenas quatro depoimentos da mesma pessoa.
A advogada Gisela Antia de Almeida, que representa Thais Cristina dos Santos, e o advogado Rafael Keller Pereira, que representa Nathan Sirangelo, dizem que também vão recorrer da decisão.