O uso de ferramentas de georreferenciamento para as ocorrências criminais vem inovando a atuação policial no Rio Grande do Sul. Conforme o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Douglas da Rosa Soares, todas as 16 regiões do policiamento ostensivo do Estado estão sincronizadas ao sistema de coordenadas geográficas e inseridas no mapeamento que determina limites territoriais para execução das ações e integração com a atividade da Polícia Civil.
— Toda ocorrência atendida pela Brigada é georreferenciada. Esta tecnologia vem sendo incrementada há pouco mais de uma década e, desde 2019, constitui e alimenta o mesmo banco de dados utilizado pela Polícia Judiciária (Civil) — explica.
Segundo o coronel, tanto o comandante de um Batalhão de Polícia Militar, quanto o delegado responsável por uma Delegacia de Polícia Civil, passaram a ter acesso ao mesmo conjunto de informações sobre ocorrência e prevalência de crimes, orientando suas ações, muitas vezes articuladas conjuntamente.
— As forças de segurança sabem onde, quando e como os fatos deverão reincidir, permitindo desde a ação preventiva e inibidora, quanto a resposta mais imediata possível com os recursos disponíveis — conta o subcomandante-geral.
De acordo com a estratégia do sistema, dados convergentes e reincidentes indicam a existência de "hotspots", ou pontos quentes, que são marcados sobre o mapa do Estado. A organização e o processamento das informações ocorrem a partir de uma central de monitoramento inteligente do crime, denominada Sala de Cenários, e localizada na Capital.
— Os "hotspots" de ocorrências ficam plotados sobre o mapa. Com essa plotagem (colagem ou impressão de uma imagem em determinada localização georreferenciada), direcionamos da melhor forma os meios materiais e recursos humanos para enfrentar a criminalidade — destaca o coronel.
O subcomandante aponta o exemplo da Avenida Voluntários da Pátria, no centro da Capital, como um ponto de atenção para ocorrências de roubo a pedestre.
— Com a indicação desse ponto quente, passamos a examinar e cruzar dados sobre o tipo de ocorrência, seus locais e horários mais recorrentes, o perfil das vítimas e o modo de ação dos autores. A partir daí, pudemos posicionar o efetivo em condições estratégicas de ação — revela o coronel.
O resultado, segundo a Brigada, foi a redução do número de assaltos a pedestres na Capital. O crime tinha o indicador alavancado por ocorrências nesta avenida e no seu entorno.
Dados abastecem e impulsionam investigações
No campo da investigação policial, o georreferenciamento também é uma realidade. Conforme a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), delegada Adriana da Costa, a ferramenta baseada no registro de coordenadas de satélite é utilizada diariamente tanto pelo setor de inteligência do DPM, quanto pelas delegacias distritais.
— Por meio dessas informações, é possível estabelecer os locais em que os fatos têm ocorrido, as semelhanças entre as ocorrências policiais, facilitando a identificação da autoria — explica a delegada.
A diretora do DPM cita um conjunto de casos recentes de roubo a farmácias que estavam ocorrendo em Porto Alegre.
— Pela análise foi verificada esta zona de calor para este tipo de crime, envolvendo estabelecimentos das avenidas Azenha, Ipiranga e Bento Gonçalves. Em todos os fatos, um homem agia sozinho, armado e em determinado horário — conta.
As providências tomadas a partir do cerco georreferenciado e da análise dos eventos, segundo a delegada Adriana, propiciaram a definição do perfil e do padrão de ação do criminoso, resultando na prisão de um suspeito, de 33 anos, armado no ato da detenção, e posteriormente identificado como autor dos assaltos.